O
presidente da República fez desafio ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, em relação à implementação do
voto impresso, com vistas à próxima eleição presidencial.
O presidente
brasileiro disse que “se o Congresso aprovar o voto impresso, vamos ter
eleições com voto impresso e ponto final. Não se discute mais este assunto.
Ponto final”.
Em data
anterior, o presidente do TSE havia defendido o sistema eleitoral vigente, que
tem por base somente a urna eletrônica, e disse que a implementação do voto
impresso seria “uma solução desnecessária para um problema que não existe.
A posição do TSE no tocante ao item segurança é de que a introdução do voto
impresso seria uma solução desnecessária para um problema que não existe com um
aumento relevante de riscos”.
O
ministro afirmou que “a implantação do voto impresso, se aprovado pelos
parlamentares, precisaria ser validada pelo STF.”.
O
presidente do país chamou o ministro do Supremo de “dono da verdade”,
tendo dito que é necessário respeitar a Constituição e o Parlamento brasileiro,
conforme o seguinte: “Ministro Barroso, o dono da verdade. Eu vi ele falar
uma coisa importante hoje, presta atenção pessoal: ‘Se o Congresso aprovar (a
promulgação de uma PEC) e não for judicializado, nós vamos cumprir’. Que
negócio é esse, ‘se não for judicializado’, ministro Barroso? Quer dizer que se
alguém entrar com uma ação no Supremo, você vai despachar lá que não vale a PEC
dos deputados e senadores? Uma pessoa vai querer derrubar no mínimo 308
deputados e 53, 54 senadores?”.
O presidente
do país continuou, em tom de exaltação, defendendo a sua opinião, tendo
afirmado que “Cada um de nós deve respeitar a Constituição, respeitar o
Parlamento brasileiro. Respeitar as decisões nossas, e respeitar as decisões de
vocês também, do Judiciário. Não é se meter em tudo. Vai cumprir, sim. Se o
Congresso promulgar a PEC do voto auditado impresso, teremos eleições com voto
impresso em 2022 e ponto final. Não se discute mais esse assunto. Não tem que
ninguém dar palpite. Ninguém. Não fique dando de uma pessoa que sabe tudo. Não
sabe nada! Não sabe o que é o voto de uma pessoa numa comunidade, não sabe o
que é o voto de uma pessoa nos sertões do Brasil”.
Na atualidade,
o Congresso Nacional tem em pauta proposta de emenda constitucional sobre o
voto impresso, que na verdade trata-se da junção à urna eletrônica de impressora,
tendo por finalidade a impressão do voto, em papel, apenas virtual, que permanece
na máquina, indisponível para o eleitor, por questão da segurança pertinente ao
sigilo do voto.
Ao
se afirmar que “se o Congresso aprovar o voto impresso, vamos ter eleições
com voto impresso e ponto final. Não se discute mais este assunto. Ponto final”,
fica mais do que patenteada a sentença própria de quem tem vocação para desprezar
os princípios democráticos, onde não se pode discutir e até questionar, quando
for o caso, a adequabilidade das leis e dos atos administrativos, nas vias legais,
de modo a se buscar o melhor entendimento jurídico sobre a sua aplicação.
A
decretação presidencial de “ponto final” sobre a aplicabilidade de medida adotada
pelo Congresso somente sinaliza para a ruptura da civilidade, com a imposição do
entendimento tirânico de que não adianta discutir e pronto, não cabendo
questionamento, como fazem exatamente as republiquetas, em dissonância com os princípios
político-democráticos.
É
extremamente lamentável que ainda existam governantes com mentalidade desfocada
da realidade dos novos tempos, que se assentam em princípios e ideias arejados
para a discussão das questões que possam contribuir para beneficiar a
tolerância, a compreensão e a resolução dos problemas, sempre na ordem ditada
para a satisfação do interesse público.
A
verdade é que o país perde excelente oportunidade para se resolver questão, de
maneira pacífica, inteligente e civilizada, como fazem normalmente as nações
sérias e evoluídas, em termos políticos e democráticos.
Desde
logo, verifica-se que existe conflito de entendimento, porquanto o presidente
da República diz que a urna eletrônica não é confiável, diante de
questionamentos sobre a existência de fraudes capazes de haver manipulação do
resultado da votação, evidentemente destinada a beneficiar candidatos e
prejudicar outros.
Tudo
isso acontece em tese, porque o próprio mandatário, que é o principal acusador
sobre suspeita da deficiência do sistema eleitoral, já disse que teria em seu
poder provas sobre ela, embora nunca as apresentou, fato que demonstra que ele
não passa de blefador, por não mostrar a prova do crime.
Caso
o presidente do país tivesse a mínima intensão de tratar o assunto com respeito
e seriedade, nem precisaria dizer que tinha provas, bastava apenas mostrá-las,
para que as discussões tivessem por base elementos consistentes, de modo a
contribuir, com o peso da irrefutabilidade de elementos firmes, seguros e
indiscutivelmente garantidores sobre a real necessidade da mudança de sistema que
tem oferecido possíveis motivos para questionamentos e que precisa ser
urgentemente aperfeiçoado e modernizado, com vistas a torná-lo extreme de dúvidas,
porque é precisamente assim que procedem os países que primam pelo respeito ao
perfeito funcionamento das suas instituições e dos sistemas procedimentais
vigentes.
Ou
seja, caso o presidente do país tivesse consciência sobre a necessidade de se
resolver as questões, por meio do mínimo critério de inteligência, racionalidade
e bom senso, nem precisaria ser grosseiro, ignorante e mal-educado, evitando se
expressar com truculência sobre matéria que ele considera e que realmente é
importante, sob o entendimento de que “Não se discute mais esse assunto. Não
tem que ninguém dar palpite. Ninguém. Não fique dando de uma pessoa que sabe
tudo. Não sabe nada! Não sabe o que é o voto de uma pessoa numa comunidade, não
sabe o que é o voto de uma pessoa nos sertões do Brasil”, dando a entender
que somente vale a opinião presidencial por ser correta e definitiva, em total
desprezo aos outros sentimentos.
Quando
um estadista chega a esse nível, que não admite mais discutir assunto onde
existe polêmica de opinião entre os envolvidos, não resta mais a menor dúvida
de que isso já deixou de ser tratado no cenário da democracia e passou para o
campo da tirania, onde prevalece exclusivamente a ideia do ditador, do
entendedor geral de tudo, daquele que acha que a sua opinião, o seu desejo,
deve prevalecer sobre o ingênuo pensamento das demais criaturas.
É
preciso deixar bastante cristalino que o presidente do TSE também procede com a
mesma ou pior má vontade dos mundos, porque ele, na qualidade de autoridade
máxima que tem a responsabilidade pela excelência e o perfeito funcionamento do sistema eleitoral, tem o
dever de provar para os brasileiros, por meio de esclarecimentos, explicações, justificativas
ou outros recursos tecnicamente válidos e apropriados ao caso, que os questionamentos
levantados pelo presidente do país são absolutamente destituídos de
procedência.
Não
tem o menor cabimento, por se tratar de pueril argumentação, o presidente do
TSE apenas afirmar, em relação à medida de que trata a aludida PEC, que, verbis:
“uma solução desnecessária para um
problema que não existe. A posição do TSE no tocante ao item segurança é
de que a introdução do voto impresso seria uma solução desnecessária para um
problema que não existe com um aumento relevante de riscos.”.
Ou
seja, o ministro faz a defesa do sistema tão somente com base em entendimento
de convicção que ele tem dentro si, o que não diz absolutamente nada, para o
fim de mostrar, em detalhes, as motivações, os elementos de robusta consistência
por meio dos quais devem ter a devida autoridade para convencer e assegurar que
o sistema é seguro e confiável.
Conviria
que o ministro mostrasse, de maneira clara, minudente e segura, que nada é
capaz de suscitar a menor fraude do sistema eleitoral, inclusive para que ele
pudesse chegar a essa conclusão, seria importantíssimo que apelasse para os brasileiros
e o próprio presidente do país apresentarem indícios, provas ou outros meios
capazes da confirmação de fraudes, de modo que se busque a maior transparência
possível sobre o assunto e se esgotasse tudo a seu respeito, para possibilitar
o encerramento de algo que, neste momento, se discute sob apenas clima
apaixonado, em que, em termos práticos, conforme enfocado acima, todos se
distanciam do cerne do problema, ante a nítida falta de objetividade.
Enfim,
se realmente os presidentes da República e do Tribunal Superior Eleitoral tivessem
algum interesse em solucionar esse imbróglio, de forma pacífica, democrática e
civilizatória, bastante apenas a aplicação da inteligência administrativa, no
sentido de se instituir comissão de alto nível, com a integração paritária de
elementos capacitados para se discutir as possíveis deficiências e apontar as
devidas medidas saneadoras, em benefício dos interesses dos brasileiros, que
exigem o encerramento dessa deprimente pendenga entre altas autoridades da
República, que simplesmente não leva a absolutamente nada, senão à perda do
precioso tempo.
Brasília, em 11 de junho de 2021
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