O presidente da República, mesmo sabendo que já
morreram quase 470 mil brasileiros, por
causa da terrível pandemia do novo coronavírus, voltou a minimizar a pavorosa situação,
além de cometido gafe gramatical, ao afirmar que ele é “infectável”.
O deslize gramatical ocorreu por ocasião das costumeiras conversas com apoiadores em frente ao Palácio
da Alvorada, em Brasília.
No vídeo divulgado por
canal bolsonarista, o presidente disse que ele é “homem três ‘is’.
“Imbrochável, imorrível e incomível” e, logo em seguida, ele acrescenta
mais um adjetivo, que “É infectável”.
Na realidade, em conformidade com o dicionário Antônio Houaiss,
da língua portuguesa, o verbete “infectável” significa “passível de ser
infectado, contaminado”.
Ou seja, exatamente o contrário
do que o presidente talvez quisesse dizer que ele é incontaminável, alguns apoiadores
tentaram corrigi-lo, com o alerta de que o termo seria “ininfectável”.
Acontece que a palavra “ininfectável” também não foi
dicionarizada, fato que leva ao entendimento que o correto seria
“incontaminável”, evidentemente que somente em termos gramaticais, tendo em vista
que o presidente já se infectou com a Covid-19 e testou positivo para o
coronavírus, no dia 7 de julho de 2020.
A toda evidência, o presidente do país se recusa a
usar máscara, até mesmo perto de admiradores e também não tem a menor preocupação
em participar de aglomeração, que é um dos principais fatores de infecção.
No frigir dos ovos, tem pouca ou nenhuma importância
a gafe cometida pelo presidente, porque o ilação que se tem é a de que o
presidente, com suas tiradas de efeito, na tentativa de ser engraçadinho para
apoiadores, termina mostrando terrível atributo, que é a insensibilidade para a
desgraça já causada aos brasileiros, com a contabilização de mais de 465 mil
óbitos, certamente contando com potencial contribuição pelas omissões,
precariedades e descasos no combate à peste da Covid-19, porque, do contrário,
teria havido sim muitas mortes, mas jamais em quantidade alarmante.
A monstruosidade desse quadro, em contexto de
sensatez, seriedade e responsabilidade administrativas, obrigaria que as
autoridades públicas pudessem sim se manifestar, sempre que necessário, apenas
em sintonia com o sentimento prevalente do interesse público, com embargo de manifestação
desnecessária como essa do presidente que, ao dizer que é incontaminável, dá a
ideia que somente os “maricas” (palavra usada em outro texto pelo presidente) se
infectam com a Covid-19, e isso não condiz com o sentimento de precisa animar a
atuação de mandatário da nação.
Ainda em pleno combate à difícil pandemia,
certamente que o momento continua a exigir muitos cuidados e atenção por parte
das autoridades incumbidas constitucionalmente do combate ao terrível mal, não
se permitindo, diante ainda da gravidade quanto às infecções, senão muita
seriedade na luta contra o vírus, na absoluta certeza de que ninguém tem
direito de se autonomear imune a ele, porque isso, mesmo sendo mera brincadeira,
serve de afronta ao sentimento dos brasileiros,
com tendência de contribuir para aumentar a sua vulnerabilidade, sendo que muitos
dos quais ainda esperam pelo imunizante, que demorara a chegar e ainda é
insuficiente para a proteção da população.
Diante da gravidade que ainda representa a presença
da preocupante Covid-19 entre os brasileiros, conviria que nada de brincadeira
sobre o tema viesse à tona, quando a gravidade da doença somente condiz com
muita seriedade e principalmente respeito às famílias das vítimas, que jamais
vão entender o sentimento contrário à sensibilidade humanitária.
O presidente do país precisa se despertar da
profunda letargia, não somente para se conscientizar sobre a verdadeira
gravidade da pandemia do novo coronavírus, frise-se, com a letalidade de mais
de 465 mil irmãozinhos brasileiros, e a certeza de que todos ainda somos
infectáveis pela Covid-19, inclusive aqueles que insistem em minimizar a força
letal dele.
Brasília, em 3 de junho
de 2021
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