quinta-feira, 3 de junho de 2021

Brincadeira dispensável?

 

O presidente da República, mesmo sabendo que já morreram quase 470 mil brasileiros,  por causa da terrível pandemia do novo coronavírus, voltou a minimizar a pavorosa situação, além de cometido gafe gramatical, ao afirmar que ele é “infectável”.

O deslize gramatical ocorreu por ocasião das costumeiras  conversas com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília.

No vídeo divulgado por canal bolsonarista, o presidente disse que ele é “homem três ‘is’. “Imbrochável, imorrível e incomível” e, logo em seguida, ele acrescenta mais um adjetivo, que “É infectável”.

Na realidade, em conformidade com o dicionário Antônio Houaiss, da língua portuguesa, o verbete “infectável” significa “passível de ser infectado, contaminado”.

Ou seja, exatamente o contrário do que o presidente talvez quisesse dizer que ele é incontaminável, alguns apoiadores tentaram corrigi-lo, com o alerta de que o termo seria “ininfectável”.

Acontece que a palavra “ininfectável” também não foi dicionarizada, fato que leva ao entendimento que o correto seria “incontaminável”, evidentemente que somente em termos gramaticais, tendo em vista que o presidente já se infectou com a Covid-19 e testou positivo para o coronavírus, no dia 7 de julho de 2020.

A toda evidência, o presidente do país se recusa a usar máscara, até mesmo perto de admiradores e também não tem a menor preocupação em participar de aglomeração, que é um dos principais fatores de infecção.

No frigir dos ovos, tem pouca ou nenhuma importância a gafe cometida pelo presidente, porque o ilação que se tem é a de que o presidente, com suas tiradas de efeito, na tentativa de ser engraçadinho para apoiadores, termina mostrando terrível atributo, que é a insensibilidade para a desgraça já causada aos brasileiros, com a contabilização de mais de 465 mil óbitos, certamente contando com potencial contribuição pelas omissões, precariedades e descasos no combate à peste da Covid-19, porque, do contrário, teria havido sim muitas mortes, mas jamais em quantidade alarmante.

A monstruosidade desse quadro, em contexto de sensatez, seriedade e responsabilidade administrativas, obrigaria que as autoridades públicas pudessem sim se manifestar, sempre que necessário, apenas em sintonia com o sentimento prevalente do interesse público, com embargo de manifestação desnecessária como essa do presidente que, ao dizer que é incontaminável, dá a ideia que somente os “maricas” (palavra usada em outro texto pelo presidente) se infectam com a Covid-19, e isso não condiz com o sentimento de precisa animar a atuação de mandatário da nação.  

Ainda em pleno combate à difícil pandemia, certamente que o momento continua a exigir muitos cuidados e atenção por parte das autoridades incumbidas constitucionalmente do combate ao terrível mal, não se permitindo, diante ainda da gravidade quanto às infecções, senão muita seriedade na luta contra o vírus, na absoluta certeza de que ninguém tem direito de se autonomear imune a ele, porque isso, mesmo sendo mera brincadeira, serve de afronta ao sentimento dos  brasileiros, com tendência de contribuir para aumentar a sua vulnerabilidade, sendo que muitos dos quais ainda esperam pelo imunizante, que demorara a chegar e ainda é insuficiente para a proteção da população.

Diante da gravidade que ainda representa a presença da preocupante Covid-19 entre os brasileiros, conviria que nada de brincadeira sobre o tema viesse à tona, quando a gravidade da doença somente condiz com muita seriedade e principalmente respeito às famílias das vítimas, que jamais vão entender o sentimento contrário à sensibilidade humanitária.

O presidente do país precisa se despertar da profunda letargia, não somente para se conscientizar sobre a verdadeira gravidade da pandemia do novo coronavírus, frise-se, com a letalidade de mais de 465 mil irmãozinhos brasileiros, e a certeza de que todos ainda somos infectáveis pela Covid-19, inclusive aqueles que insistem em minimizar a força letal dele.

Brasília, em 3 de junho de 2021

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