Aproveitando que a sua
popularidade se encontra em escala declinante, à vista da situação desfavorável
do governo, diante, em especial, da precariedade das medidas de enfrentamento
da pandemia do coronavírus, o presidente resolveu fazer pronunciamento em rede
de rádio e televisão, na noite da última quarta-feira, que materializou como
verdadeira farsa estarrecedora como tentativa de justificativas aos brasileiros.
A verdade é que muitos assuntos
abordados pelo presidente jamais se aproximaram da expressão própria dos seus verdadeiros
sentimentos, principalmente porque ele se referiu a situações bastantes
estranhas ao que pensa, entende e faz com fidelidade e autenticidade, que
parece exprimir estritamente seus sentimentos, sem a menor preocupação com os
interesses dos brasileiros.
Parece inacreditável, mas é pura
verdade que o presidente do país começou o discurso lamentando as mortes dos milhares
de brasileiros causadas pela Covid-19, em que pese haver suspeitas de que
muitas delas terem sido o resultado de omissões e negligências do governo, fato
este que leva ao entendimento de que o pronunciamento teria sido construído,
estruturado com base no sarcasmo, por
outra contextualização que nada representa de sincero e verdadeiro, à vista da demonstração
de permanente insensibilidade aos princípios humanos.
Há quem diga que o presidente,
para ser mais fiel aos fatos, deveria ter sustentado a mesma manifestação com pitada
de sensibilidade e humanismo, em forma de algum sentimento, mas não agora e sim
desde março do ano passado, quando a pandemia se intensificara e o Brasil
atingiria 201 mortes, já sob a premissa de que o Brasil iria enfrentar a maior
e mais violenta tragédia humanitária da história brasileira.
O certo é que o tempo passou
muito rapidamente e, de lá para cá, o saldo das mortes já ultrapassa dos 470 mil
brasileiros, que foram menosprezadas pelo presidente, posto que, nesse interim,
ele fez pouco caso da situação para tentar passar para a população a
insignificância da doença, tendo chamado as pessoas de “maricas”, por ficarem
em caso, com medo dela, quando os fortes a precisam enfrentá-las com coragem.
O presidente, sob sentimentos
incompatíveis com a realidade dura e crua da doença, disse, entre muitas
inconveniências, porque melhor teria sido ficar calado, que nada poderia fazer,
que ele não era “coveiro”, “sou messias, mas não faço milagres”,
“vai morrer quem tiver que morrer” e “vou comprar vacina na casa da
tua mãe”, entre outras afirmações indesejáveis e impróprias diante da
gravidade da doença somente da maior gravidade, no plano da saúde pública.
Não é novidade alguma para a sociedade
as atitudes e as reações nada republicanas do presidente do país, porque elas
foram acompanhadas no dia dele, por meio de manifestações nefastas e prejudicais
aos interesse da população, além de nada ter feito nem esboçado para, ao menos,
demonstrar interesse na tentativa de conter o avanço do temível vírus.
Ao contrário disso, os fatos
mostram, com robustez, que o presidente contribuiu para estimular a propagação
do vírus, na forma mais explícita possível de apoio às aglomerações, tendo criticado
severa e insistentemente o isolamento social, além de ter combatido o uso de
máscaras, entre outras barbaridades contrárias à ciência.
No pronunciamento, o presidente voltou
a condenar governadores e prefeitos que defendem as acertadas medidas
restritivas para evitar a expansão do coronavírus, cujas críticas se demonstram
equivocadas, porque o relaxamento das medidas preventivas tem o condão de colocar
o Brasil no centro perigoso da pandemia mundial.
Há unanimidade, por parte de
cientistas e autoridades sanitárias mundiais, de que a contaminação pela
Covid-19 só vai ceder para valer se houver medidas de distanciamento social,
práticas de higiene severas e vacina, o que vale dizer que, quem pensa diferentemente
disso, precisa assumir seus atos, inclusive sob a responsabilidade da omissão
ou até mesmo por ação, em defender procedimentos contrários à ciência.
O presidente do país precisa ser
censurado por suas teses em sintonia com o atraso, como a imunidade de rebanho
ou que tudo não passaria de uma “gripezinha”, quando melhor para a população teria
sido simplesmente o silêncio dele sobre assunto que exige conhecimentos de
medicina e até científico, que não são da sua seara.
A postura anticiência do
presidente brasileiro precisa ter fim o mais breve possível, para mostrar que
quem muito ajuda é aquele que fica calado sobre matéria que não é da sua
incumbência legal, cabendo aos entendidos, que estudaram a fundo a matéria,
darem a sua contribuição, se manifestando com a devida autoridade, de modo a
contribuir para o benefício da sociedade.
O pronunciamento em tela expõe
claríssima distorção da realidade, quando o presidente do país, com certo ar de
sarcasmo, disse que incentiva a vacinação em massa, quando ele resiste em tomar
a vacina e deveria ter sido um dos primeiros a ser imunizado, o que bem
demonstra a falta de sinceridade dele no combate à pandemia do coronavírus.
A negligência do governo federal
é tão patente, no que se refere à imunização, que somente apareceu vacinas graças ao
Butantan, do governo de São Paulo, que persistiu no projeto de produzir a
CoronaVac no Brasil, que possibilitou o início
da vacinação ainda em janeiro último.
Caso o presidente não fosse tão
negacionista e se tivesse tido boa vontade e interesse, certamente que o Brasil
teria iniciado a imunização já em dezembro, antes ou junto com o resto do mundo,
que decidiu priorizar as causas no combate à pandemia do coronavírus.
É preciso notar que o governo se
empenhou pela imunização em reação muito tardia, cuja indiscutível negligência
pode ter contribuído para muitas mortes de brasileiros e isso não pode ficar
impune, diante do envolvimento de preciosas vidas que poderiam ter sido salvas,
mas foram sacrificadas em razão da insensibilidade e da incompetência no tratamento
da doença.
É bem fácil de se entender esse
quadro nefasto de letalidade que resulta da incompetência administrativa, quando,
em outubro, quando o Butantan ofereceu a vacina ao general da Saúde e o presidente
do país mandou rasgar o contrato, o Brasil contabilizava apenas 120 mil mortes,
que já eram inadmissíveis, mas a demora da vacinação e outros fatores
prejudiciais contribuíram para turbinar o quadro de óbitos, não fazendo o menor
sentido pronunciamento com afirmação em defesa da vacina, porque os fatos falam
por si sós.
A esperança dos brasileiros é a de
que os panelaços direcionados em protestos ao presidente do país, precisamente
por ocasião do seu pronunciamento, sirvam de autêntico recado para mostrar para
que a sonoridade produzida se reflita em badaladas a anunciarem junto ao Palácio
da Alvorada de que expressiva parcela da população está insatisfeita com a
pífia execução das políticas pertinentes ao enfrentamento da gravíssima crise
da pandemia do coronavírus, de modo a se reivindicar tratamento condizente com
as mínimas dignidades compatíveis com as condições desejáveis e normais que a população
faz jus.
Enfim, o presidente da República
perdeu excelente oportunidade para ter ficado calado, com o aproveitamento do
momento usado para se concentrar, com os melhores sentimentos humanitários, no
sentido de refletir sobre a sua questionável atuação no combate à pandemia do
novo coronavírus, se realmente ele tem algum propósito de contribuir com algo positivo
para acabar com esse desgraçado vírus, tendo em conta que, até agora, a sua participação
tem sido a menos recomendada possível para mandatário de nação da importância
do Brasil, notadamente porque não se conhece absolutamente nada benéfico que
tenha vindo da lavra dele, salvo o extremamente necessário, apenas como mera obrigação
do Estado.
Brasília, em 5 de junho de 2021
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