Em
progressivos registros de mortes, ao longo de 15 meses, por obra da Covid-19, é
com muita tristeza que se constata que o Brasil superou o alarmante patamar de
500 mil vidas perdidas pela tragédia do século, causada pela Covid-19.
Esse
cenário, que é bastante desalentador, ainda vem acompanhado do alerta sobre
perspectiva para futuro ainda mais monstruosa, com o possível surgimento de terceira
etapa da pandemia.
Os
registros de tantas mortes, em tão pouco tempo, são reflexos de muitos erros, falhas,
omissões e negligências, notadamente por parte, em especial, do principal
agente incumbido constitucionalmente pelo enfrentamento da crise sanitária.
Um
dos principais empecilhos foi a demora para o início da imunização contra a Covid-19,
à vista da constatação de que algumas propostas para a compra de vacina foram descartadas
pelo Ministério da Saúde, além de que foram desprezadas importantes recomendações
e orientações referentes ao combate à gravíssima pandemia do coronavírus.
O
certo é que foram criadas muito mais dificuldades do que facilidades no enfrentamento
da doença, principalmente na encefalia do principal órgão que teria a
incumbência de cuidar e zelar pelas saúde e vida dos brasileiros, que ficou
quase um ano sendo dirigido por militar estrategista do Exército, que é leigo
em medicina.
O
certo é que a gravíssima crise da saúde pública exigia o comando do órgão por especialista
renomado da área médica ou do sanitarismo, por ter melhores condições, em
termos de habilidade e facilidade, para o enfrentamento dos graves problemas da
saúde pública e a condução das políticas apropriadas ao seu saneamento, em
sintonia com os ensinamentos da moderna gestão pública.
Outro
fator extremamente prejudicial ao enfrentamento da doença foi a notória demora para
a aquisição de vacina, ao se permitir que o Brasil somente inicia-se a imunização
quase um mês depois que muitas nações já tinham iniciado.
Há
de se convir que o negacionismo com relação à doença se materializava por meio
de efetiva participação do presidente do país em manifestações e aglomerações, em
clara violação às normas sanitárias aprovadas até mesmo pelo governo, que também
tentou desacreditar a campanha de vacinação em massa, sendo contumaz desestimulador
do uso de máscara.
É
preciso se reconhecer que o mandatário brasileiro fez
piada nada engraçada envolvendo a crise da pandemia, demonstrando falta de compaixão
e sensibilidade para com as famílias enlutadas e ainda foi insensato em chamar
de “maricas” as pessoas que observavam as normas sanitárias, na tentativa de se
evitar o risco de contaminação.
Convém
ficar importante registro para a história brasileira, no sentido de que, em
estrita coerência com o seu insensato negativismo contra a doença, o presidente
da República não se manifestou diante da trágica marca de meio milhão de mortes
e muito menos prestou solidariedade aos familiares das milhares de vítimas da
Covid-19, como normalmente fazem os estadistas com o mínimo de sentimento
humanitário, fato este que somente contribui para expor a verdadeira
compreensão dele diante da tragédia do século, que é outro importante detalhe
da sua personalidade como homem público.
Não
obstante, registre-se que o ministro da Saúde disse que lamentava a marca de “500
mil vidas perdidas pela pandemia que afeta o nosso Brasil e todo o mundo.
Trabalho incansavelmente para vacinar todos os brasileiros no menor tempo
possível e mudar esse cenário que nos assola há mais de um ano. Presto minha
solidariedade a cada pai, mãe, amigos e parentes, que perderam seus entes
queridos”.
A
marca da tragédia de meio milhão de óbitos tem muito com a ausência de importantes
medidas simples, a exemplo do interesse em priorizar as políticas de combate da
doença, de boa vontade em todos os sentidos e principalmente de coordenação
nacional, para a unificação, com a participação de todos os entes da federação,
com vistas à discussão das medidas necessárias ao enfrentamento da Covid-19, no
sentido do desejo de realmente acabar com a doença, por meio de ações efetivas
para a superação dos obstáculos e desafios, com a força do diálogo, da
transparência, da união de esforços e ações coordenadas, além do desprezo às
vaidades políticas, deixando que estas fiquem para o futuro, por não merecerem o
mínimo interesse neste momento de enorme gravidade da saúde pública.
É
possível se acreditar que a consciência dos brasileiros se volte, agora, para o
aproveitamento dessa tragédia como motivo para a reflexão, no urgente sentido de
que palavras de consolação às família das vítimas da Covid-19 são importantes
sim neste momento de grande dor, mas é muito mais importante e suficiente que
as autoridades públicas possam avaliar o que eles deixaram de fazer para se
evitar tantas mortes e o que é preciso, doravante, em caráter de urgência, para
se mudar essa catástrofe humanitária, diante das preciosas vidas humanas que
poderiam ter sido evitadas se não tivessem havido tantas trapalhadas desnecessárias,
notadamente por meio da insensibilidade, incompetência e irresponsabilidade,
que precisam assumir suas parcelas de culpa, evidentemente com a devida distribuição
delas aos respectivos envolvidos.
Essa
quantidade desproporcional de mortes sinaliza que é preciso o urgente
aparecimento de liderança com conhecimentos e notória especialização em saúde
pública ou sanitarismo, para dizer à nação de quem é a culpa por todo
descalabro da saúde pública e exigir a imediata mudança de rumo dessa desgraça
que martiriza os brasileiros, tendo por objetivo a implantação de medidas e ações
destinadas ao verdadeiro e efetivo combate à Covid-19, de modo que seja provocada
completa revolução nacional, com a finalidade de se evitar tragédia ainda muito
maior do que já houve, porque é extremamente doloroso que meio milhão de mortes
ainda não seja capaz de mexer com a sensibilidade de ninguém, de nenhum ser que
se diz humano?
Como
homem público, sinto-me no dever de prestar solidariedade às famílias das vítimas
da Covid-19, lamentando profundamente que, entre outros fatores, visíveis desprezo e insensibilidade aos
princípios humanitários tenham contribuído para esse gigantesco infortúnio
social, à vista da indiscutível negligência no enfrentamento da doença.
Brasília, em 20 de junho de 2021
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