domingo, 20 de junho de 2021

Só tristeza!

Em progressivos registros de mortes, ao longo de 15 meses, por obra da Covid-19, é com muita tristeza que se constata que o Brasil superou o alarmante patamar de 500 mil vidas perdidas pela tragédia do século, causada pela Covid-19.

Esse cenário, que é bastante desalentador, ainda vem acompanhado do alerta sobre perspectiva para futuro ainda mais monstruosa, com o possível surgimento de terceira etapa da pandemia.

Os registros de tantas mortes, em tão pouco tempo, são reflexos de muitos erros, falhas, omissões e negligências, notadamente por parte, em especial, do principal agente incumbido constitucionalmente pelo enfrentamento da crise sanitária.

Um dos principais empecilhos foi a demora para o início da imunização contra a Covid-19, à vista da constatação de que algumas propostas para a compra de vacina foram descartadas pelo Ministério da Saúde, além de que foram desprezadas importantes recomendações e orientações referentes ao combate à gravíssima pandemia do coronavírus.

O certo é que foram criadas muito mais dificuldades do que facilidades no enfrentamento da doença, principalmente na encefalia do principal órgão que teria a incumbência de cuidar e zelar pelas saúde e vida dos brasileiros, que ficou quase um ano sendo dirigido por militar estrategista do Exército, que é leigo em medicina.

O certo é que a gravíssima crise da saúde pública exigia o comando do órgão por especialista renomado da área médica ou do sanitarismo, por ter melhores condições, em termos de habilidade e facilidade, para o enfrentamento dos graves problemas da saúde pública e a condução das políticas apropriadas ao seu saneamento, em sintonia com os ensinamentos da moderna gestão pública.  

Outro fator extremamente prejudicial ao enfrentamento da doença foi a notória demora para a aquisição de vacina, ao se permitir que o Brasil somente inicia-se a imunização quase um mês depois que muitas nações já tinham iniciado.

Há de se convir que o negacionismo com relação à doença se materializava por meio de efetiva participação do presidente do país em manifestações e aglomerações, em clara violação às normas sanitárias aprovadas até mesmo pelo governo, que também tentou desacreditar a campanha de vacinação em massa, sendo contumaz desestimulador do uso de máscara.

É preciso se reconhecer que o mandatário brasileiro fez piada nada engraçada envolvendo a crise da pandemia, demonstrando falta de compaixão e sensibilidade para com as famílias enlutadas e ainda foi insensato em chamar de “maricas” as pessoas que observavam as normas sanitárias, na tentativa de se evitar o risco de contaminação.

Convém ficar importante registro para a história brasileira, no sentido de que, em estrita coerência com o seu insensato negativismo contra a doença, o presidente da República não se manifestou diante da trágica marca de meio milhão de mortes e muito menos prestou solidariedade aos familiares das milhares de vítimas da Covid-19, como normalmente fazem os estadistas com o mínimo de sentimento humanitário, fato este que somente contribui para expor a verdadeira compreensão dele diante da tragédia do século, que é outro importante detalhe da sua personalidade como homem público.

Não obstante, registre-se que o ministro da Saúde disse que lamentava a marca de “500 mil vidas perdidas pela pandemia que afeta o nosso Brasil e todo o mundo. Trabalho incansavelmente para vacinar todos os brasileiros no menor tempo possível e mudar esse cenário que nos assola há mais de um ano. Presto minha solidariedade a cada pai, mãe, amigos e parentes, que perderam seus entes queridos”.

A marca da tragédia de meio milhão de óbitos tem muito com a ausência de importantes medidas simples, a exemplo do interesse em priorizar as políticas de combate da doença, de boa vontade em todos os sentidos e principalmente de coordenação nacional, para a unificação, com a participação de todos os entes da federação, com vistas à discussão das medidas necessárias ao enfrentamento da Covid-19, no sentido do desejo de realmente acabar com a doença, por meio de ações efetivas para a superação dos obstáculos e desafios, com a força do diálogo, da transparência, da união de esforços e ações coordenadas, além do desprezo às vaidades políticas, deixando que estas fiquem para o futuro, por não merecerem o mínimo interesse neste momento de enorme gravidade da saúde pública.

É possível se acreditar que a consciência dos brasileiros se volte, agora, para o aproveitamento dessa tragédia como motivo para a reflexão, no urgente sentido de que palavras de consolação às família das vítimas da Covid-19 são importantes sim neste momento de grande dor, mas é muito mais importante e suficiente que as autoridades públicas possam avaliar o que eles deixaram de fazer para se evitar tantas mortes e o que é preciso, doravante, em caráter de urgência, para se mudar essa catástrofe humanitária, diante das preciosas vidas humanas que poderiam ter sido evitadas se não tivessem havido tantas trapalhadas desnecessárias, notadamente por meio da insensibilidade, incompetência e irresponsabilidade, que precisam assumir suas parcelas de culpa, evidentemente com a devida distribuição delas aos respectivos envolvidos.

Essa quantidade desproporcional de mortes sinaliza que é preciso o urgente aparecimento de liderança com conhecimentos e notória especialização em saúde pública ou sanitarismo, para dizer à nação de quem é a culpa por todo descalabro da saúde pública e exigir a imediata mudança de rumo dessa desgraça que martiriza os brasileiros, tendo por objetivo a implantação de medidas e ações destinadas ao verdadeiro e efetivo combate à Covid-19, de modo que seja provocada completa revolução nacional, com a finalidade de se evitar tragédia ainda muito maior do que já houve, porque é extremamente doloroso que meio milhão de mortes ainda não seja capaz de mexer com a sensibilidade de ninguém, de nenhum ser que se diz humano?

Como homem público, sinto-me no dever de prestar solidariedade às famílias das vítimas da Covid-19, lamentando profundamente que, entre outros fatores, visíveis desprezo e insensibilidade aos princípios humanitários tenham contribuído para esse gigantesco infortúnio social, à vista da indiscutível negligência no enfrentamento da doença.

           Brasília, em 20 de junho de 2021 

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