quarta-feira, 30 de junho de 2021

Crime de prevaricação?

            Três senadores ingressaram com pedido de investigação no Supremo Tribunal Federal, com acusação de que o presidente da República teria cometido crime de prevaricação, ao deixar de agir depois de tomar conhecimento sobre suspeitas de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.

Os parlamentares ressaltam no pedido que o presidente do país teria sido informado por um deputado federal e o irmão dele, que é servidor do Ministério da Saúde, exatamente no dia 20 de março, no sentido de que havia fortes indícios de irregularidades na aquisição de 20 milhões de doses da citada vacina, no custo de 1,6 bilhão de reais, conforme consta dos depoimentos deles à Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid, em funcionamento no Senado Federal.

Não obstante, os autores do pedido afirmam que o presidente do país se manteve em silêncio, não tendo tomado qualquer medida para averiguar as graves suspeitas de irregularidades.

          O deputado relatou à comissão de inquérito que o presidente garantiu que iria pedir investigação à Polícia Federal, mas isso não teria ocorrido.

Os senadores ressaltaram que “O presidente não pode guardar para si informação tão relevante a ponto de apurar indícios de corrupção que remontam a cifra bilionária no bojo de uma pandemia com consequências sanitárias e socioeconômicas tão graves. Tinha ele o dever inafastável de oferecer os indícios de que dispunha à autoridade competente, para as apurações mais detalhadas”.

Os autores do pedido afirmaram que o presidente do país “efetiva e deliberadamente, optou por não investigar o suposto esquema de corrupção levado a seu conhecimento pelo deputado federal Luís Miranda e por seu irmão. Dessa forma, qualquer que seja o cenário, a conclusão é uníssona: ao que tudo indica, há grandes chances de o sr. presidente da República ter cometido o crime de prevaricação – ao não levar a efeito o embrião da responsabilização criminal dos supostos atores criminosos no bojo da contratação da vacina Covaxin”.

Em declarações acerca da matéria, o presidente do país negou ter cometido qualquer tipo de irregularidade, em que pese o fato de ser notório que ele discutiu o assunto com um deputado e um irmão deste, tendo prometido mandar apurar, o que presume suspeita de algo errado, em princípio.

Depois disso, o presidente do país afirmou que “Não tenho como saber o que acontece nos ministérios, vou na confiança em cima de ministro e nada fizemos de errado”.

O pedido em causa objetiva que presidente do país seja investigado pela prática do crime de prevaricação e outros crimes que, porventura, ele possa ser enquadrado, por certo, à vista do que for apurado.

Vale se ressaltar o que crime capitulado no Código Penal Brasileiro de prevaricação, supostamente praticado pelo presidente da República, depende de prévia autorização do Supremo Tribunal Federal, para as devidas investigação e informação do seu resultado ao Congresso Nacional, que tem competência para o julgá-lo, na forma da Constituição Federal.

Ao dizer que não tem conhecimento do que acontece nos ministérios e confia nos ministros, o presidente tenta se fazer de ingênuo com relação ao clamoroso caso da Covaxin, que é algo extremamente irresponsável para a principal autoridade do Brasil, uma vez que os relatos dão conta de que o deputado entregou nas mãos dele os documentos pertinentes às irregularidades em causa e, acima de tudo, ele vir dizer que “Não tenho como saber o que acontece nos ministérios, (...) e ainda garantir que “Nada fizemos de errado.”, quando o escândalo foi relatado pessoalmente a ele, que recebeu a documentação e, por fim, o mais indecentemente, ele prometer determinar as devidas investigações, que não foram realizadas e ainda assim tem a cara lisa de dizer que desconhece o que se passa nos ministérios, ficando mais feio, nesse caso, por ter ficado sabendo de tudo e depois se fingir de inocente.

Ou seja, primeiro o presidente diz que não tem como saber o que acontece nos ministérios e depois ele diz que nada foi feito de errado, cujas afirmações são contraditórias, quando ele diz que não sabe o que se passa e depois ele afirma que nada foi feito de errado, ficando muito claro que, se ele assegura que não existe nada de errado, seria impossível ele concluir nesse sentido se tivesse tido prévio conhecimento do ato inquinado de irregular, cujos documentos relacionados à irregularidade foram entregues pessoalmente a ele.

As assertivas do presidente do país constituem postura de extremo descaso aos fatos e, por via de consequência, desinteresse na sua apuração, tendo em vista que ele prometeu determinar as devidas investigações, mas nada fez nesse sentido.

O resumo da ópera diz claramente que o presidente do país foi envolvido em “rolo” da maior complexidade, nesse escândalo da vacina Covaxin, do qual ele tem enorme dificuldade para a devida explicação sobre  os acontecimentos, especialmente porque a desconstrução necessária pode complicar a conduto de pessoa estranha ao  governo, que integra o Centrão e isso só contribui para embolar a situação do chefe do Estado brasileiro, porque ele se encontra, agora, mais do que nunca refém dessa organização considerada fisiologista e oportunista, com vistas à obtenção de vantagens, da qual ele não tem como se desligar, com o desfazimento acordo extremamente espúrio.

O presidente não pode entregar o culpado pelas irregularidades envolvendo a compra da referida vacina, porque ele se indispõe exatamente com o Centrão, que, mesmo com a péssima fama que carrega, impede que a Câmara dos Deputados abra processo de impeachment contra ele.

Diante do pedido em apreço, o presidente brasileiro agora passa a depender das garras afiadas da Excelsa Corte da Justiça, que vai decidir se autoriza a abertura de investigação sobre as suspeitas de irregularidades na pretensa aquisição da mencionado vacina, eis que a compra dela foi cancelada, exatamente em razão das graves suspeitas levantadas nas negociações pertinentes.

Por fim, neste caso, a Procuradoria Geral da República acaba de opinar no sentido de que o Supremo Tribunal Federal segure o andamento da notícia-crime que pede a investigação do presidente do país, por possível crime de prevaricação, nas questionadas negociações da vacina Covaxin, tendo alegado como justificativa os trabalhos em curso pela CPI, com vistas a se evitar duplicidade de investigação.

É preciso que os brasileiros se conscientizem de que, no Estado Democrático de Direito, todos os fatos suspeitos na gestão pública devem ser devidamente investigados, precisamente como forma de prestação de contas do gestor público perante a sociedade, em estrita sintonia com o princípio essencial da transparência, ante a necessidade da lisura dos atos administrativos, tendo por finalidade, se for o caso, o saneamento das falhas e a implantação de medidas preventivas, para que eles sejam evitados de futuro.   

Brasília, em 30 de junho de 2021

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