quarta-feira, 23 de junho de 2021

Por que tristeza?

 

Na crônica da minha lavra que, consternado, fiz o registro de meio milhão de mortes causadas pela Covid-19, eu disse que me sentia muito triste com a lamentável situação de calamidade humanitária, tendo aproveitado o ensejo para prestar solidariedade às famílias das vítimas dessa letal doença, a par de lamentar que visíveis desprezo e insensibilidade aos princípios humanitários tenham contribuído para esse gigantesco infortúnio social, à vista da indiscutível negligência no enfrentamento da pandemia do coronavírus.

Diante disso, uma distinta e atenta cidadã, mui cordialmente, tenta me acalentar com amável mensagem, esposada nos seguintes termos: “Amigo não Fique triste porque a vida é passagem na terra daqueles q tmfotos cuidado vive mais que ajuda ao mais carente Deus está vendo razoabilidade carinho ajudar a quem precisa outro vão cedido pq não tem cão cedido pq não faz caridade nenês visita abraço só alegria tristeza não. Desculpa os Erros abraço e viva só na alegria.”.   

Peço vênia à cordial senhora para me desculpar pela maneira sincera dos meus lamento e inconformismo diante da calamidade que se abate cruel e impiedosamente sobre os brasileiros, causando esse terrível mar de mortes, que não poderia ter chegado a tanto se a vida humana tivesse sido cuidada à altura da sua preciosa importância.

Sinto muita tristeza não somente na profundeza do peito, mas no âmago da alma, por perceber o quanto é extremamente doloroso para as famílias que perderem seus entes queridos em situação sensivelmente dramática e desesperadora, sem ter a quem recorrer em momento de maior aflição para esses brasileiros, notadamente quando se verifica que as medidas adotadas em terríveis tempos de grave pandemia do coronavírus ficam apenas nos planos da normalidade, com o atendimento do que for necessário, quando os momentos são de indicativos de guerra, em termos de saúde pública, a se exigirem medidas excepcionais e extraordinárias para a salvação de vidas, algo que, infelizmente, não aconteceu.  

Não tem como se acreditar na afirmação de que teria sido feito o máximo dos esforços, quando tudo o que vem sendo realizado não passa do apenas o estritamente necessário e nesse sentido é exatamente o que pensam as pessoas sensatas, sensíveis e humanas, diante do desprezo à descomunal gravidade desse monstro desgraçado do coronavírus, que vem martirizando os brasileiros.

Caso realmente o governo quisesse combater a Covid-19 com vontade, interesse e prioridade, já teria mobilizado, desde o início,  a nação para a batalha aguerrida contra essa miserável peste, sem esperar que a monstruosidade se consumasse a esse limite infernal e insuportável, chegando ao auge como chegou, com a inaceitável, inconcebível e inadmissível quantidade de 500 mil óbitos, de modo que as medidas fossem adotadas com a maior prioritária possível, vindas das políticas públicas, em demonstração de intransigente interesse em especial defesa da vida dos brasileiros, evitando-se, agora, falar em genocídio, caso o tratamento e o combate ao vírus tivessem sido da maneira mais adequada possível, em sintonia com a sua insuportável gravidade, em termos de perversidade e maldade ao ser humano, que fazia jus aos melhores cuidados.

Certamente que, nesse contexto, seria obrigatoriamente reconhecida a calamidade humanitária e, necessariamente teria agido com intenso interesse estadista por mais medíocre que ele fosse, em circunstância que representa tal perigo ao ser humano, porque ele teria o máximo de sentimento humanitário para sobre a real compreensão do verdadeiro valor da vida humana.

Na pandemia, o descaso com a vida humana é patente, como no caso específico da imunização, que começou com o atraso de quase um mês, em relação aos países que se anteciparam na aquisição das vacinas, e vem sofrendo atraso significativo, em forma de constantes apagões, diante das sucessivas faltas de doses, a exemplo do que ocorre no presente momento, em algumas localidades.

Ou seja, ao meio desse redemoinho de insensibilidade, incompetência e negligência no enfrentamento da pandemia do coronavírus, contabiliza-se precisamente meio milhão a menos de brasileiros nas estatísticas populacionais, em tão pouco tempo, e isso é motivo sim de muita tristeza e ainda de preocupação das autoridades públicas, mas isso não acontece com muitas delas, conforme mostram os fatos, em que faltou seriedade quanto ao reconhecimento da letalidade do coronavírus.

Esse foto evidencia que muito menos, bem menos mesmo de tantas mortes, já seria motivo capaz de justificar a adoção de movimentos extraordinários e revolucionários de combate à temível Covid-19, à vista da incumbência constitucional do governo de instituir políticas para a defesa da vida dos brasileiros, até mesmo em tempos normais, mas, infelizmente, nada se faz para a mudança dessa deplorável inação e, infelizmente, o resultado do descaso não poderia ter sido senão o que se vê estampado no noticiário do mundo inteiro.

Aceito e agradeço o carinhoso conselho estampado na mensagem em comento, no sentido de que eu “viva só na alegria”, porque é exatamente com esse benfajezo propósito que procuro trilhar o meu caminho, evitando ao máximo desviar da tristeza, por mínima que seja, mas há situação que isso é inevitável, como o que ocorre no presente momento, onde os brasileiros se encontram vivendo entre a cruz e a espada, sem alternativa quanto à busca do desvio da Covid-19, salvo a imunização que também ainda não garante a certeza absoluta do livramento dessa assombrosa doença.

Enfim, a tristeza a que me refiro tem o sentido todo especial, porque ela nasce da pureza do sentimento humano, quanto à sublime necessidade da solidariedade às pessoas, como nesse caso excepcional de calamidade humanitária, quando elas tiveram o infortúnio de perder preciosos entes queridos por causa de vírus que exigia cuidados mais do que especiais no seu combate, mas, a meu juízo, faltou a devida atenção que tanto merece o ser humano, em momento fora da normalidade, infelizmente, dessa forma e assim compreendido por governantes poderosos.

        Tenho plena consciência de que viver feliz é o ideal para se alongar a caminhada no plano terrestre, onde seja possível a declaração de bem-estar com o sorriso aberto, mas também é preciso se reconhecer que o momento é realmente de muita tristeza diante desse quadro clamoroso onde foi banalizada a importância da vida humana, à vista da monstruosidade impingida aos brasileiros.

          Brasília, em 23 de junho de 2021

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