O presidente da República reincidiu no insulto à imprensa,
nesta sexta-feira, quando, novamente visivelmente descontrolado, ele disse para
uma jornalista da Rádio CBN, “voltar para a faculdade, depois para o ensino
médio, em seguida, para o jardim de infância e aí nascer de novo".
O presidente também disse
para os repórteres pararem de fazer "pergunta idiota" e se
defendeu das acusações sobre corrupção na negociação de compra da Covaxin,
dizendo que a vacina não foi comprada e que havia apenas um erro no documento mostrado
à opinião pública.
A CBN disse, por meio
de nota, que "repudia o tratamento agressivo e insultuoso de Jair
Bolsonaro à repórter Victória Abel. Não foi à repórter que faltou educação
nesse episódio. A CBN se solidariza com Victória Abel, que, assim como todos os
nossos jornalistas, continuará a fazer seu trabalho para informar os
brasileiros".
O insulto do presidente
do país aos jornalistas foi feito após o questionamento a ele sobre a avaliação
de especialistas de que o Brasil poderia ter evitado mortes pela Covid se
tivesse comprado vacinas antes.
O presidente disse: "Olha
só: no dia seguinte, pelo que fiquei sabendo, era um documento que estava feito
de forma equivocada. Faltava um 0 lá. Em vez de 200 mil doses eram 3 milhões. E
foi corrigido no dia seguinte. Outra, tem algum recibo meu pra ele? Foi
consumado o ato? Há dias seguidos aquilo foi retificado".
O contrato do governo
federal para a compra da vacina da Covaxin, fabricada na Índia, está no alvo do
Ministério Público Federal e da CPI da Covid, à vista de suspeitas de irregularidades,
cujas suspeitas não foram devidamente justificadas nem esclarecidas por quem de
direito.
Outra vez, diante de
uma repórter mulher, o presidente do país demonstra a sua índole tratoraço de
má-educação e de desrespeito aos princípios humanitários, porque, ele, como a
principal autoridade do Brasil, não tem direito algum de ser contumaz grosseiro,
intolerante e deselegante, em evidente afronta à liturgia do relevante cargo presidencial,
quando, ao contrário, é da sua obrigação contribuir com bons modos, solidariedade
e diplomacia, em especial no relacionamento com a imprensa.
Não faz o menor sentido
que o presidente do país seja estúpido sempre que é questionado sobre assuntos
inerentes ao seu cargo, posto que cumpre a ele prestar as melhores informações,
em sintonia com o dever constitucional de prestar contas à sociedade sobre seus
atos.
Sempre que o presidente
do país se depara com perguntas dos repórteres, ele se irrita em demonstração de
extremo incômodo e intolerância, mas o mais grave é que não há a menor justificativa
que ele agrida a dignidade e a honra de repórteres, sem sopesar que não custaria
nada a resposta com serenidade, diplomacia e educação, condutas próprias do
verdadeiro estadista, em harmonia com os princípios republicano e humanitário,
porque é exatamente assim que precisa se comportar perante seus súditos, que
não toleram mais tanta demonstração de irracionalidade e de desrespeito ao seu
semelhante.
O certo mesmo é que,
por dever funcional, o presidente da República, para ser merecedor do respeito dos
brasileiros, precisa ter a dignidade de pessoa pública, com capacidade cívica para
ser questionado e indagado sobre os assuntos da sua incumbência constitucional,
devendo ter serenidade suficiente para responder quaisquer questionamento que
diga respeito aos interesses nacionais e da sociedade, em estrito devotamento próprio
do exercício do cargo presidencial, que precisa ser compreendido como missão especial
de servir aos brasileiros, apenas com abnegação e generosidade, em sintonia com
a gênese dos verdadeiros estadistas.
Não faz bem nem para o
presidente do país e muito menos para o Brasil quando o mandatário demonstra agressividade
e desrespeito em público, quando faz questão de escrachar profissionais da
imprensa, em especial quando não há causa plausível para justificá-la, fato
este que seria racionalmente aconselhável se evitar tamanho destempero, quando
se sabe que o resultado desse destempero é sempre prejudicial à imagem de ambos.
Induvidosamente, tratar
bem e com educação não somente a imprensa, mas a todos é dever que se impõe em
especial ao presidente do país, que tem o dever institucional de ser o modelo
de grandeza nos seus atos, posto que eles precisam ter a áurea da intocável nobreza
do respeito e da dignidade, diferentemente do que vem protagonizando o chefe da
nação, que se orgulha de atropelar as comezinhas regras da boa educação.
É evidente que seria
impossível a imprensa deixar de se aproximar do presidente da República, porque
ela sobrevive por meio do ofício de informar à sociedade, mas forma especial de
abandono a ele poderia ser demonstração clara de despreza a quem deixou de ter respeito
ao saudável princípio da civilidade no relacionamento com os meios de comunicação,
pelo menos até quando houver a compreensão, a tolerância e o respeito acerca do
verdadeiro valor dos sentimentos humanitários.
Brasília, em 27 de junho
de 2021
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