terça-feira, 8 de junho de 2021

Inadmissível fake news

 

Logo cedo de ontem, o presidente da República, com cara de felicidade, se apressou em dá notícia aos seus apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada, tendo afirmado, verbis: "Primeira mão para você. Não é meu, é do tal do Tribunal de Contas da União, questionando o número de óbitos no ano passado por Covid. O relatório final não é conclusivo, mas em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid segundo o Tribunal de Contas da União".       

Ao falar do suposto documento aos apoiadores, o presidente do país disse que estava divulgando a informação em "primeira mão", e que "em torno de 50% dos óbitos por Covid" teriam sido registrados de forma incorreta no ano passado.

Ele afirmou também que divulgaria o suposto relatório do TCU à tarde, mas isso não aconteceu.

Ao tomar conhecimento sobre a informação dada pelo presidente do país, o Tribunal de Contas da União emitiu nota, logo em seguida, onde nega que tenha emitido algum relatório questionando o número de mortes por Covid-19, em 2020.

No aludido comunicado, o TCU rebate declaração dada pelo presidente do país, negando a existência de qualquer trabalho de auditoria ou investigação nesse sentido.

A nota esclarece que "O TCU esclarece que não há informações em relatórios do tribunal que apontem que 'em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid', conforme afirmação do Presidente Jair Bolsonaro divulgada hoje".

No fim da noite, o TCU fez adição do parágrafo da nota, ao afirmar seu posicionamento, tendo negado a autoria de documento que circula na internet.

O novo parágrafo registara que "O TCU reforça que não é o autor de documento que circula na imprensa e nas redes sociais intitulado 'Da possível supernotificação de óbitos causados por Covid-19 no Brasil'".

Não há a menor dúvida de que é bastante deselegante para o presidente do Brasil, na ânsia que querer se eximir de culpa sobre fatos relacionados à Covid-19, correr, desesperadamente, para dá notícia absolutamente inexistente e ainda atribuir a sua origem a instituição da maior credibilidade de controle.

O normal, ante a relevância do cargo de ocupa, teria ficado calado, ao ser informado por assessores, apenas determinado que se promovesse a checagem sobre a veracidade das informações de que se tratam, de modo a se evitar dá noticia “em primeira mão”, como se tratasse de bomba anunciada pelo mandatário do país, mas ela não passava de fake news, ficando muito feio para ele, ante a relevância do cargo que ocupa, que tem o dever de somente informar a verdade sobre fatos de interesse dos brasileiros.

Essa forma de prestar informação à sociedade contribui para enfraquecer a credibilidade do presidente do país, além de ficar muito feio para ele, que poderia ser mais cauteloso quanto ao trato sobre informações de interesse dos brasileiros.

É preciso se compreender que o TCU é o principal órgão União que tem a incumbência constitucional de controlar e fiscalizar a arrecadação das receitas e a execução das despesas previstas nos Orçamentos públicos federais, não podendo ser tratado com o desdém e a indiferença demonstrados pelo presidente da República, que se referiu a ele como “é do tal do Tribunal de Contas da União”, dando a entender, de maneira explícita, que ele não simpatiza com a atuação desse órgão, a despeito de o mandatário brasileiro ser obrigado, por força constitucional, a prestar contas ao Congresso Nacional, sendo que antes elas, necessariamente, devem ser examinadas pelo TCU, que emite parecer técnico sobre a regularidade dos atos tratados nas contas.

A bem da verdade, ao ser negada a autoria da notícia atribuída ao Tribunal de Contas da União, o presidente da República, por questão de elevados princípios democrático e civilizatório, teria a obrigação de, imediatamente à negação da notícia, apresentar desculpas aos brasileiros e também ao mencionado respeitável órgão, em razão do seu gravíssimo ato falho, que deveriam vir acompanhadas das devidas justificativas, para que o seu vexame pudesse ser minorado e não ficar tão ruim para o lado dele, por ele ter sido condutor de injustificado fake news, nada elegante para o nível da sua autoridade presidencial.      

Brasília, em 8 de junho de 2021

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