O vice-presidente da República
afirmou que sente “falta” de ser convidado para participar das reuniões de
trabalho da Presidência da República com os ministros do governo.
Na última terça-feira, o presidente do país se reuniu com seus ministros,
para discutir ações do governo, compromisso que não constava na agenda de
trabalho presidencial.
Ao chegar ao seu gabinete, o vice-presidente, perguntado por jornalistas
se havia sido chamado para o encontro, respondeu que “Não, não fui convidado”.
Indagado se sente falta de participar das reuniões, o que ocorria nos
dois primeiros anos do governo, o vice-presidente admitiu que sim, e alegou que
fica sem saber o que acontece na administração federal.
O vice-presidente respondeu, dizendo que “Sim, sinto falta. Sinto
falta. A gente fica sem saber o que está acontecendo. É importante que a gente
saiba o que está acontecendo, né? Paciência, né? C'est la vie (é a vida),
como dizem os franceses”.
Desde o início do ano, o vice-presidente vem sendo excluído das reuniões
ministeriais, no Palácio do Planalto.
O presidente do país evita convocar reuniões do chamado conselho de
governo, que inclui o seu vice, e realiza encontros com seu grupo ministerial,
que não são incluídos na previsão de agenda divulgada pelo Palácio do Planalto.
Em fevereiro, o vice-presidente comentou sua exclusão das reuniões e
disse, à época, que não estava incomodado com a situação, nos seguintes termos:
“Não fui convidado. Não fui chamado. Então, acredito que o presidente julgou
que era desnecessária minha presença. Só isso”.
Fala-se que o presidente do país e aliados reclamam, desde 2019, o
hábito de o vice-presidente conceder entrevistas à imprensa, muitas delas
criticando o governo.
Também há alegação de que a relação entre ambos teria entrado em roto de
colisão, no início do ano, depois do vazamento de mensagens de assessor do
vice-presidente, que mencionava a possibilidade de o chefe assumir o governo.
O vice-presidente tem repetido, em entrevistas, que, apesar de não ter
discutido o assunto com o presidente do país, sente intimamente que não será candidato
na chapa da reeleição, junto com o presidente.
À toda evidência, o presidente do país está obrigado a convidar para as
suas reuniões de trabalho somente as autoridades que ele achar conveniente, sob
o entendimento de que a presença de quem for convidado tenha algum interesse
para contribuir com os assuntos discutidos no evento.
Agora, em termos puramente democráticos, não é de bom tom que o vice-presidente
do país, sem qualquer motivação aparente e plausível, seja proposital e
sistematicamente excluído de reuniões ministeriais, se realmente os assuntos
tratados dizem respeito a interesses e importância nacionais, salvo se não for
o caso, quando o presidente apenas queira perder tempo fazendo críticas a
autoridades de outros poderes ou algo sem importância para a nação, à vista do
que ele normalmente faz perante seus aliados, nos encontros diários na saída do
Palácio da Alvorada.
É preciso ficar claro que o vice-presidente fez parte da chapa do
presidente da nação e, quer queira ou não, ele é o seu sucessor na vacância do
cargo, que pode ocorrer a qualquer momento, ante o aspecto da
imprevisibilidade, e, nesse caso, conviria que não houvesse essa forma esdrúxula
de discriminação, aparentemente por precaução sobre possível vazamento de
assuntos tratados em reuniões passadas, divergência essa que pode perfeitamente
ser cuidada racionalmente, por meio das aparas das arestas e do saneamento dos
desentendimentos, bastando apenas o presidente dizer aos participantes da
reunião quais assuntos ou todos precisam ser mantidos em sigilo, para que a imprensa
e a nação deles não tenham conhecimento.
Agora, por óbvio, depois disso, se as recomendações forem inobservadas,
o presidente tem todo direito de convidar exclusivamente as autoridades que
possam contribuir para o aprimoramento dos trabalhos, desde que aquelas não
convidadas não façam falta ao interesse do país, como parece ser o caso do
vice-presidente, que, repita-se, é o eventual substituto do titular do Palácio
do Planalto, até mesmo por motivo do afastamento dele, em caso de doença ou em
outras situações.
Em razão disso, convém que o vice-presidente se inteire previamente
sobre todos os assuntos do governo, evidentemente mantida a necessária reserva
sobre eles, quando assim se exigir, independentemente de amizades ou não,
diante do entendimento segundo o qual amizade sempre à parte de governo, porque
este condiz absolutamente com o interesse público.
O certo mesmo é que, no mundo globalizado, convém que o líder da nação deva
alimentar o salutar hábito de conversas e diálogos o mais amplamente possível
com as autoridades da República, como forma saudável de aperfeiçoamento dos
princípios democráticos, porque é exatamente assim que fazem os governos
modernos e evoluídos, tendo em conta a busca de benefícios aos interesses da
nação e do povo.
Brasília, em 18 de junho
de 2021
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