segunda-feira, 28 de junho de 2021

O azedume da corrupção?

 

O presidente da República foi envolvido em verdadeiro “palpos de aranha”, por causa de fatura suspeita enviada ao governo brasileiro por empresa de Cingapura, cobrando o pagamento por vacina indiana.

          A Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid, em funcionamento no Senado Federal, que investiga a gestão do governo federal, no enfrentamento da pandemia, entende que se trata de história bastante nebulosa, com capacidade para se tornar o fio de trama que pode desaguar no colo do presidente do país, porque ele foi avisado das irregularidades e não tomou as devidas medidas saneadoras.

A aludida fatura de 45 milhões de dólares, por três milhões de doses da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech, foi entregue no dia 18 de março ao chefe de importação de medicamentos do Ministério da Saúde.

Não obstante, diante da constatação de que a vacina ainda não havia sido entregue, o servidor competente se recusou a autorizar o seu pagamento, notadamente porque o contrato (no valor total de 300 milhões de dólares) não mencionava a Madison Biotech, empresa de Cingapura que enviou a fatura, fato este que estaria a caracterizar interveniência de fachada.

          O mencionado servidor, que testemunhou perante a CPI, instalada pelo Senado, para definir as responsabilidades do governo na gestão da pandemia, declarou que houve vários sinais de alerta ao presidente do país sobre a grave irregularidade nessa operação.

Diante do surgimento de muitas irregularidades no acordo, o governo brasileiro decidiu cancela a operação.

De acordo com levantamento pelo jornal O Estado de S.Paulo, a empresa Bharat Biotech havia, inicialmente, cotado a dose do imunizante em 1,34 dólar, mas o Brasil concordou em pagar US$ 15, mais do que qualquer outra vacina já comprada.

O referido servidor e seu irmão, que é deputado federal apoiador do bolsonarismo, se reuniram, no dia 20 de março último, com o presidente brasileiro, quando foram relatados os fatos considerados irregulares, tendo recebido a promessa dele de que o caso seria transmitido à Polícia Federal, evidentemente para as devidas investigações, mas nada disso aconteceu.

Em razão disso, o presidente da CPI já adiantou que irá denunciar o presidente do país ao Ministério Público, por entender que houve a prática do crime de "prevaricação", por parte do mandatário, ao silenciar sobre o caso em questão.

Segundo o citado deputado, na mencionada reunião, o presidente expressou preocupação com o impacto político do caso e suas suspeitas sobre o autor do esquema, ao dizer que, verbis:Se eu mexo nisso aí, você sabe a merda que vai dar. Isso deve ser coisa de 'fulano'".

À vista da pressão por senadores da CPI, para a identificação do "Fulano", o deputado insistiu que não se lembrava, até que, finalmente, revelou o nome: “Ricardo Barros (PP-PR), um poderoso deputado que chefia a bancada governista.”.

O “fulano”, ex-ministro da Saúde em governo anterior, negou ter cometido qualquer ilegalidade, assim como o presidente do país, sob a alegação de que o contrato acabou rescindido, tendo sobrado para os irmãos acusadores de promoverem “campanha de difamação contra ele.”.

A partir dessa grave denúncia, o presidente do país se ver envolvido em enorme dificuldade político-administrativa, porque, praticamente, ele já demonstrou ter protegido o “fulano”, quando deixou de determinar as devidas investigações pela Polícia Federal sobre o vergonhoso acordo imoral e ilegal, mesmo ele tendo sido rescindido, mas os rastros da corrupção ficaram plantados indelevelmente por parte dos envolvidos, à vista das tratativas para a efetividade da execução dele, com prova da fatura fraudulenta, por sido emitida por empresa estranha ao contrato, o que caracteriza grave irregularidade.

Ou seja, a participação do presidente do país é evidente no caso, já que ele pôs “panos quentes”, ao deixar de apurá-lo, como era da sua incumbência constitucional, fato este que tem o condão de arruinar, de forma acentuada e visível, a sua plataforma anticorrupção que contribuiu para o fortemente da conquista da Presidência da República.

A verdade é que a clara omissão do presidente do país, nesse episódio, tem fortíssima explicação política, porque ele jamais teria condições de abandonar o “fulano” no altar, diante do sério risco de romper perigosamente com a espúria aliança com o Centrão, grupo heterogêneo de partidos conservadores especializados em estratégia fisiologista, que nutrem a esperteza em negociação de vantagens orçamentárias e obtenção de cargos públicos, em apoio aos interesses do presidente do país, no âmbito do Congresso Nacional, em evidente demonstração da maior indignidade da administração pública, quando o presidente da República se submete a deprimente conchavo para merecer benefício pessoal referente à proteção por meio da compra da consciência de inescrupulosos parlamentares.

À toda evidência, essa sebosa e vergonhosa aliança com o Centrão vem protegendo o presidente do país da abertura de uma dos mais de centena de pedidos de impeachment, que se acumulam contra ele, na Câmara dos Deputados.

O certo é que, se o "fulano” ficar à mostra, ele pode, por retaliação, pressionar o Centrão a romper o famigerado acordo com o presidente do país, que poderia ser o começo da beira do abismo do impeachment, que finalmente ganharia os contornos do fim de era conturbada da história republicana brasileira, comandada por presidente visivelmente de ideias maquiavélicas, que ainda se sustenta no governo com forte apelo populista.

Sem a menor dúvida, o imbróglio da Covaxin tem todas as características de grande “bomba" que veio à tona nos trabalhos da CPI e pode implodir dentro do governo, cujos estilhaços podem atingir o Palácio do Planalto, que não teve habilidade suficiente para contornar os estragos causados por essa crise que agora toma grande dimensão dentro da República tupiniquim, ante às graves irregularidades vindo à tona, que podem ter seus efeitos amenizados por força do cancelamento do acordo.

Enfim, entre todas as vacinas, a que pode ser a mais forte e efetiva de todas é a Covaxin, que mesmo sem ser inoculada em ninguém, tem tudo para entrar para história brasileira, por ter causado estridente abalo das estruturas e dos alicerces da República, caso seja finalmente investigado o acordo que nunca existiu, mas que teve os ingredientes do azedume da corrupção abominável por brasileiros dignos e honrados.

Brasília, em 28 de junho de 2021

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