O presidente da República foi
envolvido em verdadeiro “palpos de aranha”, por causa de fatura suspeita
enviada ao governo brasileiro por empresa de Cingapura, cobrando o pagamento
por vacina indiana.
A
Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid, em funcionamento no Senado Federal,
que investiga a gestão do governo federal, no enfrentamento da pandemia,
entende que se trata de história bastante nebulosa, com capacidade para se tornar
o fio de trama que pode desaguar no colo do presidente do país, porque ele foi
avisado das irregularidades e não tomou as devidas medidas saneadoras.
A aludida fatura de 45 milhões de dólares, por três milhões de doses da
vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech, foi entregue no dia 18
de março ao chefe de importação de medicamentos do Ministério da Saúde.
Não obstante, diante da constatação de que a vacina ainda não havia sido
entregue, o servidor competente se recusou a autorizar o seu pagamento, notadamente
porque o contrato (no valor total de 300 milhões de dólares) não mencionava a
Madison Biotech, empresa de Cingapura que enviou a fatura, fato este que estaria
a caracterizar interveniência de fachada.
O
mencionado servidor, que testemunhou perante a CPI, instalada pelo Senado, para
definir as responsabilidades do governo na gestão da pandemia, declarou que
houve vários sinais de alerta ao presidente do país sobre a grave
irregularidade nessa operação.
Diante do surgimento de muitas irregularidades no acordo, o governo brasileiro
decidiu cancela a operação.
De acordo com levantamento pelo jornal O Estado de S.Paulo, a
empresa Bharat Biotech havia, inicialmente, cotado a dose do imunizante em 1,34
dólar, mas o Brasil concordou em pagar US$ 15, mais do que qualquer outra
vacina já comprada.
O referido servidor e seu irmão, que é deputado federal apoiador do bolsonarismo,
se reuniram, no dia 20 de março último, com o presidente brasileiro, quando
foram relatados os fatos considerados irregulares, tendo recebido a promessa dele
de que o caso seria transmitido à Polícia Federal, evidentemente para as
devidas investigações, mas nada disso aconteceu.
Em razão disso, o presidente da CPI já adiantou que irá denunciar o
presidente do país ao Ministério Público, por entender que houve a prática do
crime de "prevaricação", por parte do mandatário, ao silenciar
sobre o caso em questão.
Segundo o citado deputado, na mencionada reunião, o presidente expressou
preocupação com o impacto político do caso e suas suspeitas sobre o autor do
esquema, ao dizer que, verbis: “Se eu mexo nisso aí, você sabe a
merda que vai dar. Isso deve ser coisa de 'fulano'".
À vista da pressão por senadores da CPI, para a identificação do
"Fulano", o deputado insistiu que não se lembrava, até que,
finalmente, revelou o nome: “Ricardo Barros (PP-PR), um poderoso deputado
que chefia a bancada governista.”.
O “fulano”, ex-ministro da Saúde em governo anterior, negou ter cometido
qualquer ilegalidade, assim como o presidente do país, sob a alegação de que o
contrato acabou rescindido, tendo sobrado para os irmãos acusadores de
promoverem “campanha de difamação contra ele.”.
A partir dessa grave denúncia, o presidente do país se ver envolvido em
enorme dificuldade político-administrativa, porque, praticamente, ele já
demonstrou ter protegido o “fulano”, quando deixou de determinar as devidas investigações
pela Polícia Federal sobre o vergonhoso acordo imoral e ilegal, mesmo ele tendo
sido rescindido, mas os rastros da corrupção ficaram plantados indelevelmente
por parte dos envolvidos, à vista das tratativas para a efetividade da execução
dele, com prova da fatura fraudulenta, por sido emitida por empresa estranha ao
contrato, o que caracteriza grave irregularidade.
Ou seja, a participação do presidente do país é evidente no caso, já que
ele pôs “panos quentes”, ao deixar de apurá-lo, como era da sua incumbência constitucional,
fato este que tem o condão de arruinar, de forma acentuada e visível, a sua plataforma
anticorrupção que contribuiu para o fortemente da conquista da Presidência da
República.
A verdade é que a clara omissão do presidente do país, nesse episódio,
tem fortíssima explicação política, porque ele jamais teria condições de abandonar
o “fulano” no altar, diante do sério risco de romper perigosamente com a espúria
aliança com o Centrão, grupo heterogêneo de partidos conservadores
especializados em estratégia fisiologista, que nutrem a esperteza em negociação
de vantagens orçamentárias e obtenção de cargos públicos, em apoio aos
interesses do presidente do país, no âmbito do Congresso Nacional, em evidente demonstração
da maior indignidade da administração pública, quando o presidente da República
se submete a deprimente conchavo para merecer benefício pessoal referente à proteção
por meio da compra da consciência de inescrupulosos parlamentares.
À toda evidência, essa sebosa e vergonhosa aliança com o Centrão vem protegendo
o presidente do país da abertura de uma dos mais de centena de pedidos de
impeachment, que se acumulam contra ele, na Câmara dos Deputados.
O certo é que, se o "fulano” ficar à mostra, ele pode, por retaliação,
pressionar o Centrão a romper o famigerado acordo com o presidente do país, que
poderia ser o começo da beira do abismo do impeachment, que finalmente ganharia
os contornos do fim de era conturbada da história republicana brasileira,
comandada por presidente visivelmente de ideias maquiavélicas, que ainda se
sustenta no governo com forte apelo populista.
Sem a menor dúvida, o imbróglio da Covaxin tem todas as características
de grande “bomba" que veio à tona nos trabalhos da CPI e pode implodir
dentro do governo, cujos estilhaços podem atingir o Palácio do Planalto, que
não teve habilidade suficiente para contornar os estragos causados por essa crise
que agora toma grande dimensão dentro da República tupiniquim, ante às graves
irregularidades vindo à tona, que podem ter seus efeitos amenizados por força do
cancelamento do acordo.
Enfim, entre todas as vacinas, a que pode ser a mais forte e efetiva de
todas é a Covaxin, que mesmo sem ser inoculada em ninguém, tem tudo para entrar
para história brasileira, por ter causado estridente abalo das estruturas e dos
alicerces da República, caso seja finalmente investigado o acordo que nunca
existiu, mas que teve os ingredientes do azedume da corrupção abominável por
brasileiros dignos e honrados.
Brasília, em 28 de junho
de 2021
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