quarta-feira, 16 de junho de 2021

Vacina experimental?

 

O presidente da República disse que a vacina CoronaVac contra  Covid-19, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan brasileiro, "não tem comprovação científica ainda".  

O aludida vacina, ao contrário do afirmado pelo presidente, já passou pelos testes de fase três e teve o uso emergencial aprovado não só pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 17 de janeiro último, mas também pela Organização Mundial da Saúde (NOS), evidentemente após a apresentação dos resultados quanta à provação sobre a sua eficácia.

As afirmações do presidente do país foram feitas em entrevista concedida à SIC TV, afiliada da Record, em Rondônia.

O presidente brasileiro ainda disse que a vacina da Pfizer teria "mais credibilidade do que a que foi e está sendo distribuída aqui", fazendo referência direta à CoronaVac, o primeiro imunizante aplicado no país e distribuído hoje em volume de doses muito maior em relação às do laboratório americano.

Causa perplexidade que, em que pese o relato sobre a "credibilidade" da vacina da Pfizer, o presidente do país e seu governo demoraram meses para responderem às ofertas feitas pela farmacêutica e somente decidiram comprar a vacina da Pfizer este ano.

É muito estranha a sedução do presidente do país pela cloroquina, como se ela fosse a salvação da vida humana contra a Covid-19 e se ele fosse autoridade competente para ficar tratando insistentemente sobre a indicação de medicamentos.

A propósito, na semana passada, ao participar de culto religioso em Anápolis (GO), o presidente defendeu, em reiteração, o uso do referido medicamento, tendo alegado, pasmem, que as vacinas aplicadas no Brasil ainda estariam em "fase experimental", confirmando o que ele disse acima, de que "não tem comprovação científica ainda”, quando ambas as afirmações são completamente inverídicas, intempestivas, insensatas e indevidas, quando as vacinas somente podem ser aplicadas depois da experiência e da comprovação científica sobre a sua eficácia, que apenas poderá variar quanto ao percentual imunizante, pelo menos superior a 50%, que é o caso de todas elas que estão sendo aplicadas no Brasil.

Em novo aceno à sua base mais radicalizada, o presidente voltou a pregar o "tratamento precoce", que consiste na utilização de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19, tendo dito, em forma de severa crítica, que "A indústria farmacêutica não se preocupa com remédios que são baratíssimos; se preocupa com vacinas, que são caras. Sempre defendemos o tratamento precoce após ouvir médicos.".

O presidente da República chegar ao ponto de afirmar, de maneira categórica, em programa televisivo transmitido para todo país, que determinado imunizante que vem sendo aplicado na população "não tem comprovação científica ainda” demonstra, certamente, lapidares desconhecimento sobre o medicamento e má vontade contra a vacina, diante da estrondosa injustiça praticada tanto contra a farmacêutica como os órgãos de controle de qualidade e eficácia, inclusive a Anvisa, que a aprovou e autorizou a sua aplicação aos brasileiros.

Quando o presidente brasileiro afirma que há imunizante, no país, em fase experimental, ele simplesmente deve estar conscientemente equivocado ou mal assessorado, porque as vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil passaram por aprovação sobre a sua eficácia e jamais elas seriam aceitas se estivessem em “fase experimental”, sob pena de criminalização do procedimento, com responsabilização aos envolvidos, inclusive a ele próprio, que não poderia,  na qualidade de principal autoridade do país, permitir a aplicação de vacinas nessas condições de experimentabilidade.

Por seu turno, quando poderia ter comprado, com bastante antecedência, a vacina da Pfizer, por agora demonstrar melhor qualidade, conforme afirmação acima, somente em março houve a aquisição do imunizante, mas mesmo assim em quantidade bem reduzida.

Esse fato bem demonstra a falta de seriedade e de competência do governo, na condução das medidas de combate à pandemia do coronavírus, especialmente sob a deselegante afirmação presidencial de que o imunizante predominante é de qualidade inferior à da Pfizer, não somente com relação à CoronaVac, mas em especial aos brasileiros, que realmente merecem vacinas de qualidades superiores, à vista da afirmação de dirigente da Anvisa, que disse que a vacina da Sinovac só era melhor do que nada.

Na verdade, o resumo da ópera bufa encenada por meio das declarações presidenciais só demonstra que o mandatário do país precisa aprender a lição de que, em matéria de saúde pública, ele prestaria enorme ajuda em se abster, deixando que o titular do órgão próprio do governo, que é especialista na área de medicina, se encarregue das manifestações pertinentes, mas somente quando for preciso algum esclarecimento relacionado com o combate à pandemia do coronavírus, conquanto as declarações do presidente somente contribuem para a distorção dos fatos, a exemplo do que ele disse acima.

Acredita-se que, diferentemente do Brasil, as nações com pouco de seriedade e evolução, em termos administrativos, são conscientizadas sobre a incumbência institucional de seus órgãos governamentais especializados, destinados à execução das políticas públicas, a quem são determinados os cuidados setoriais, quanto à eficiência e à eficácia das suas funções, não havendo necessidade da intromissão no seu trabalho, ante o respeito à dignidade que precisa ser mantida para o regular e o proveitoso desempenho do trabalho sob a sua responsabilidade.

No Brasil, a bem da verdade, à vista do péssimo exemplo dado nesse caso do imunizante, seria de bom alvitre que somente o Ministério da Saúde tratasse das políticas sobre a saúde dos brasileiros, em sua plenitude, ficando apenas sob a incumbência do presidente do país as coordenações e as orientações próprias de chefe do governo, deixando os cuidados especializados, como os assuntos relacionados à pandemia do coronavírus, exclusivamente  para o órgão que precisa entender minuciosamente do assunto.      

Urge que os brasileiros sejam tratados com o devido respeito, não somente por meio de informações e declarações fidedignas das autoridades públicas, mas em especial quanto às vacinas que são aplicadas no país, porque eles bem merecem as melhores, as de qualidade reconhecida, em termos de eficácia, devendo o presidente da República se conscientizar sobre a sua direta responsabilidade com relação aos temas em comento.

Brasília, em 16 de junho de 2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário