O presidente da República disse que a vacina CoronaVac contra Covid-19, desenvolvida pelo laboratório chinês
Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan brasileiro, "não tem
comprovação científica ainda".
O aludida vacina, ao
contrário do afirmado pelo presidente, já passou pelos testes de fase três e teve
o uso emergencial aprovado não só pela Agência de Vigilância Sanitária
(Anvisa), em 17 de janeiro último, mas também pela Organização Mundial da Saúde
(NOS), evidentemente após a apresentação dos resultados quanta à provação sobre
a sua eficácia.
As afirmações do presidente do país foram feitas em entrevista
concedida à SIC
TV, afiliada da Record, em Rondônia.
O presidente brasileiro
ainda disse que a vacina da Pfizer teria "mais credibilidade do
que a que foi e está sendo distribuída aqui", fazendo referência
direta à CoronaVac, o primeiro imunizante aplicado no país e distribuído hoje
em volume de doses muito maior em relação às do laboratório americano.
Causa perplexidade que, em que pese o relato sobre a "credibilidade"
da vacina da Pfizer, o presidente do país e seu governo demoraram meses para
responderem às ofertas feitas pela farmacêutica e somente decidiram comprar a
vacina da Pfizer este ano.
É muito estranha a sedução
do presidente do país pela cloroquina, como se ela fosse a salvação da vida
humana contra a Covid-19 e se ele fosse autoridade competente para ficar
tratando insistentemente sobre a indicação de medicamentos.
A propósito, na semana
passada, ao participar de culto religioso em Anápolis (GO), o presidente
defendeu, em reiteração, o uso do referido medicamento, tendo alegado, pasmem,
que as vacinas aplicadas no Brasil ainda estariam em "fase experimental",
confirmando o que ele disse acima, de que "não tem comprovação
científica ainda”, quando ambas as afirmações são completamente
inverídicas, intempestivas, insensatas e indevidas, quando as vacinas somente
podem ser aplicadas depois da experiência e da comprovação científica sobre a
sua eficácia, que apenas poderá variar quanto ao percentual imunizante, pelo
menos superior a 50%, que é o caso de todas elas que estão sendo aplicadas no
Brasil.
Em novo aceno à sua base mais radicalizada, o
presidente voltou a pregar o "tratamento precoce", que consiste na utilização
de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19, tendo dito, em forma
de severa crítica, que "A indústria farmacêutica não se preocupa com
remédios que são baratíssimos; se preocupa com vacinas, que são caras. Sempre
defendemos o tratamento precoce após ouvir médicos.".
O presidente da República
chegar ao ponto de afirmar, de maneira categórica, em programa televisivo transmitido
para todo país, que determinado imunizante que vem sendo aplicado na população "não
tem comprovação científica ainda” demonstra, certamente, lapidares
desconhecimento sobre o medicamento e má vontade contra a vacina, diante da
estrondosa injustiça praticada tanto contra a farmacêutica como os órgãos de
controle de qualidade e eficácia, inclusive a Anvisa, que a aprovou e autorizou
a sua aplicação aos brasileiros.
Quando o presidente brasileiro
afirma que há imunizante, no país, em fase experimental, ele simplesmente deve
estar conscientemente equivocado ou mal assessorado, porque as vacinas que
estão sendo aplicadas no Brasil passaram por aprovação sobre a sua eficácia e jamais
elas seriam aceitas se estivessem em “fase experimental”, sob pena de criminalização
do procedimento, com responsabilização aos envolvidos, inclusive a ele próprio,
que não poderia, na qualidade de
principal autoridade do país, permitir a aplicação de vacinas nessas condições de
experimentabilidade.
Por seu turno, quando
poderia ter comprado, com bastante antecedência, a vacina da Pfizer, por agora
demonstrar melhor qualidade, conforme afirmação acima, somente em março houve a
aquisição do imunizante, mas mesmo assim em quantidade bem reduzida.
Esse fato bem demonstra
a falta de seriedade e de competência do governo, na condução das medidas de
combate à pandemia do coronavírus, especialmente sob a deselegante afirmação presidencial
de que o imunizante predominante é de qualidade inferior à da Pfizer, não
somente com relação à CoronaVac, mas em especial aos brasileiros, que realmente
merecem vacinas de qualidades superiores, à vista da afirmação de dirigente da
Anvisa, que disse que a vacina da Sinovac só era melhor do que nada.
Na verdade, o resumo da
ópera bufa encenada por meio das declarações presidenciais só demonstra que o
mandatário do país precisa aprender a lição de que, em matéria de saúde pública,
ele prestaria enorme ajuda em se abster, deixando que o titular do órgão
próprio do governo, que é especialista na área de medicina, se encarregue das
manifestações pertinentes, mas somente quando for preciso algum esclarecimento
relacionado com o combate à pandemia do coronavírus, conquanto as declarações do
presidente somente contribuem para a distorção dos fatos, a exemplo do que ele
disse acima.
Acredita-se que,
diferentemente do Brasil, as nações com pouco de seriedade e evolução, em
termos administrativos, são conscientizadas sobre a incumbência institucional de
seus órgãos governamentais especializados, destinados à execução das políticas públicas,
a quem são determinados os cuidados setoriais, quanto à eficiência e à eficácia
das suas funções, não havendo necessidade da intromissão no seu trabalho, ante
o respeito à dignidade que precisa ser mantida para o regular e o proveitoso desempenho
do trabalho sob a sua responsabilidade.
No Brasil, a bem da verdade,
à vista do péssimo exemplo dado nesse caso do imunizante, seria de bom alvitre
que somente o Ministério da Saúde tratasse das políticas sobre a saúde dos
brasileiros, em sua plenitude, ficando apenas sob a incumbência do presidente
do país as coordenações e as orientações próprias de chefe do governo, deixando
os cuidados especializados, como os assuntos relacionados à pandemia do
coronavírus, exclusivamente para o órgão
que precisa entender minuciosamente do assunto.
Urge que os brasileiros
sejam tratados com o devido respeito, não somente por meio de informações e
declarações fidedignas das autoridades públicas, mas em especial quanto às
vacinas que são aplicadas no país, porque eles bem merecem as melhores, as de
qualidade reconhecida, em termos de eficácia, devendo o presidente da República
se conscientizar sobre a sua direta responsabilidade com relação aos temas em
comento.
Brasília, em 16 de junho
de 2021
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