sábado, 19 de junho de 2021

Inferno existencial?

 

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmou que será criado “inferno existencial” se entrar em vigor a impressão do voto para urnas eletrônicas e que a iniciativa poderá levar a “imensa judicialização” das eleições, no Brasil.

Ele disse que “Nós vamos criar um inferno existencial que é um mundo que nós vivíamos antes da urna eletrônica, que são aquelas mesas apuradoras, todo mundo manuseando voto, aí aparece voto, some voto, aparece urna e some urna. Foi disso que nós nos livramos e a isso que nós corremos o risco de retornar”.

          A aludida medida tem sido defendida, com insistência, pelo presidente da República e é objeto de Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que se encontra em debate na Câmara dos Deputados.

Em sua live semanal, no dia anterior, o presidente do país teve a impulsiva e estranha, para não dizer absurda, ideia – por não haver qualquer indício nesse sentido - de afirmar que o Brasil pode ter, pasmem, “convulsão social” se não houver a aprovação do voto impresso para as urnas eletrônicas, para as eleições do próximo ano.

Por sua vez, o presidente do TSE argumentou, ontem, que o atual modelo de votos – em que não há impressão da cédula de votação – acabou com as fraudes no país.

Ele alertou que “a adoção do voto impresso poderá ter problemas como a recontagem de milhões de votos, o armazenagem das cédulas e a judicialização em caso de o derrotado discordar do resultado.”.

É evidente que o presidente do TSE tem entendimento formado e consolidado sobre o funcionamento e a operacionalidade do atual sistema das urnas eletrônicas, mas ele precisa se conscientizar também de que são de somenos importância os problemas com “recontagem de milhões de votos, o armazenagem das cédulas e a judicialização”, desde que o modelo pretendido ou outro que venha a ser adotado funcione a contento e autentique, de forma inquestionável, a plena segurança sobre a correção dos votos lançados nas urnas eletrônicas, pelos eleitores brasileiros.

Com certeza, não deve haver maior “inferno existencial” para os brasileiros do que essa verdadeira “caixa preta” sustentada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que vem resistindo, a ferro e fogo, aos apelos sobre a junção do voto impresso à urna eletrônica, chegando agora, pasmem, a alegar a figura do “inferno existencial”, caso venha a ser criado esse sistema que objetiva, em princípio, tornar mais seguro e eficiente o processamento do voto, por meio da sua impressão.

O novo sistema vem sendo defendido precisamente por políticos que garantem que foram prejudicados pelo sistema atual, por suspeitarem sobre a existência da fragilidade e da falta de segurança oferecidas pelas urnas eletrônicas, utilizadas nas eleições, mas até agora ninguém se dignou, como é preciso e necessário, em termos jurídicos, a apresentação de, pelo menos, um único caso de fraude constatada nos pleitos eleitorais, de modo a justificar, com base em caso concreto e irrefutável, a real necessidade do novo procedimento.

A maior dificuldade para a compreensão do atual sistema e do pretendido, por parte dos eleitores, os principais interessados no seu funcionamento, exatamente por serem os usuários das máquinas eleitorais, consiste precisamente na falta de informações consistentes e completas sobre o que realmente existe de errado, falho ou impreciso na operacionalidade das máquinas, de modo que o seu saneamento também carece de maiores explicações sobre os componentes que passarão a ser introduzidos nas atuais engrenagens.

Ou  seja, convém que seja mostrado, passa-a-passo, como se processarão os novos equipamentos, por meio dos quais serão evitadas definitivamente, se é que elas existem, as fraudes constatadas no passado, por meio da indicação, de maneira técnica e clara, do funcionamento operacional, tendo a certeza absoluta de que o sistema eleitoral brasileiro passa a ser o mais eficiente e seguro do planeta, porque é exatamente assim que deve ser a prestação dos serviços pelo Estado.

O presidente do TSE também precisa parar de ficar se justificando e se opondo ao aperfeiçoamento do sistema das urnas eletrônicas, uma vez que ele não é o único dono da verdade, evitando as alegações as mais estapafúrdias possíveis, diante da falta de objetividade sobre o seu temor quanto às mudanças pretendidas, porque elas somente põem mais ingredientes de dúvidas ao rol das feitas por refutações, que também não conseguem convencer ninguém, apenas por meio de falações inconsistentes, sem as necessárias explicações de natureza técnica, que convém em situação que tal.

Convém que o presidente do TSE se convença, ante o princípio da humildade, de que também é merecedora de respeito e acolhimento, ao menos, a discussão sobre o aperfeiçoamento colocado em pauta, em especial diante das suspeitas de fraudes do atual sistema.

Uma das medidas conciliatórias poderia ser por meio de parecer técnico fidedigno, tendo por base a manifestação de especialistas independentes, mostrando e provando, em forma de esclarecimentos minuciosos, nos mínimos detalhes, termos populares mesmo, o funcionamento das urnas eletrônicas em uso, de modo que não reste a menor dúvida ou suspeita sobre possíveis precariedades nem possiblidade da existência de manipulação externo, com capacidade para o surgimento de fraudes.

A imperfeição maior que se vislumbra, diante tudo o que está acontecendo, é o homem investido de autoridade não aceitar o aperfeiçoamento da máquina pública, tendo por base, em contrário, tão somente convicção pessoal, em desmerecimento da necessidade sequer da avaliação sobre as suspeitas levantadas por seus opositores, porque elas, justas ou não, precisam ser democraticamente aceitas e passadas a limpo, quando não se tem argumentos geralmente convincentes para a opinião pública, que merece o benefício da dúvida, até se provar em contrário.

A dificuldade de compreensão para os brasileiros é precisamente ter a certeza, se nada for feito, da permanência da gigantesca suspeita sobre a eleição fraudulenta de todos os candidatos, à vista de que não tem como se acreditar apenas na palavra do “todo-poderoso” presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que não tem competência técnico-legal para afirmar e garantir a lisura do sistema eleitoral brasileiro, considerando que ele fala sobre a inexistência de possibilidade de manipulação do resultado das eleições com a autoridade fajuta de servidores do próprio tribunal, igualmente sem a menor validade jurídica que poderia se assegurar caso houvesse a atestação por profissionais especialistas externos e independentes, contratados exclusivamente com a finalidade de mostrar se pode ou não se confiar no justo e correto resultado das urnas.  

Os brasileiros esperam que a tentativa de aperfeiçoamento do sistema operacional das urnas eletrônicas seja discutida sob o prisma do bom senso e da racionalidade, tendo em vista que o único interesse é o de se assegurar a credibilidade e a legitimidade do resultado das eleições, de modo que seja descartada, em definitivo, qualquer possibilidade de fraudes.     

Brasília, em 19 de junho de 2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário