segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Abuso nos céus

Segundo reportagem publicada no jornal Folha de S. Paulo, o vice-presidente da República e ministros torraram juntos, somente no ano passado, no interregno de dez meses, o montante de R$ 16,6 milhões com viagens em jatinhos da Força Aérea Brasileira, em missões oficiais ou em deslocamentos para suas casas. As planilhas revelam os voos e os respectivos dados inéditos sobre horário de partida, duração da viagem, custo da hora/voo, roteiros e datas. A análise minuciosa nos documentos, com abrangência no período, permitiu ser verificado que muitas aeronaves decolaram em horários próximos umas das outras, com o mesmo destino, cada qual com apenas um ministro a bordo, indicando completa falta de planejamento sobre o atendimento das autoridades e de racionalidade no aproveitamento das aeronaves, sem qualquer preocupação de economizar de recursos públicos, contribuiu ainda, de forma categórica, para desrespeitar orientação emanada pela presidente da República, no sentido de que os voos sejam compartilhados entre as autoridades. Esse vergonhoso desatino se torna ainda mais grave porque a maior parte dos ministros vai para casa de jatinho nos finais de semana, cujos gastos neste tipo de trajeto atingiram a expressiva cifra de R$ 5,5 milhões, visto que, nesse procedimento o avião precisa fazer até quatro viagens. É normal a aeronave transportar o passageiro na quinta ou sexta-feira e retornar a Brasília e depois voltar para buscá-lo na segunda-feira. Na ordem, os campeões do uso de jatinhos são os ministros da Saúde, da Justiça e do Desenvolvimento Industrial, que gastaram, respectivamente, as quantias de R$ 1,4, R$ 1,1 e R$ 0,92 milhão. Não há a menor dúvida de que esse governo não faz a mínima ideia do que seja austeridade com recursos públicos, nem tem qualquer pudor quanto ao esbanjamento e às consequências dos seus atos, porque eles são praticados em nome do bel prazer de satisfazer o ego do poder, à vista desses gastos desmensurados com jatinhos, que poderiam ser evitados, tendo em conta a existência de voos regulares para os Estados desses ministros, que custariam exatamente o valor equivalente à autoridade que cada qual tem como mero mortal igual aos demais seres humanos e isso não arrancaria pedaço algum de suas excelências, apenas os tornariam dignos do respeito da sociedade. Esses dispêndios constituem verdadeiras exorbitâncias com dinheiro do contribuinte, que, por serem inaceitáveis na atualidade, devem, com urgência, passar pelo rigoroso crivo de controle, freios e limites, diante das notórias carência e precariedade do atendimento dos serviços públicos prestados à população. O governo precisa cair na real, sair das nuvens e entender que o país não se encontra ainda no paraíso financeiro, porquanto, no momento, há necessidade da imposição de rédeas com relação às despesas evitáveis e de implementação de medidas de priorização dos gastos públicos. A sociedade tem o dever de exigir que os governantes se conscientizem sobre as reais prioridades do Estado e a premente necessidade de serem evitados esbanjamentos com recursos públicos, devendo ser exigido dos seus auxiliares a utilização de linhas aéreas regulares para seus deslocamentos, só utilizando os jatinhos oficiais em extrema necessidade e devidamente justificado. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 30 de janeiro de 2012

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