sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Soluções paroquianas

Conforme reportagem publicada no Correio Braziliense, o ministro da Integração Nacional usa o órgão que comanda para prestigiar a sua cidade natal e o reduto eleitoral seu e da família, em Petrolina/PE, onde será distribuída a maior quantidade de cisternas de plástico compradas com recursos públicos, entre outras localidades nordestinas que receberão esses equipamentos. O edital destinado à aquisição de 60 mil cisternas, no custo de R$ 210,6 milhões, foi assinado pelo irmão do ministro, que é presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – Codevasf, empresa estatal vinculada ao Ministério da Integração Nacional. Causa espécie se perceber que, nos termos do edital, 38% das cisternas, ou seja, 22.799, deverão ser entregues na sede da Codevasf em Petrolina, cidade onde o ministro já foi prefeito, pasmem, por somente três vezes. Também é bastante interessante saber que o seu irmão e um dos filhos do ministro, que é deputado federal, são pré-candidatos à prefeitura da aludida cidade nas eleições deste ano. Outro fato curioso é que a Bahia, estado recordista em demandas por cisternas, receberá menos da metade das cisternas distribuídas somente para a região da cidade natal do ministro, em cerca de 11 mil equipamentos, enquanto para o Ceará não há previsão de entrega de cisternas, embora seja o segundo estado com maior número de famílias inscritas no Cadastro Único do governo. Após ser anunciado o resultado do certame, representantes da empresa vencedora visitaram aquela cidade, a fim de discutir a instalação ali de uma unidade da sua fábrica, sob o argumento de que “grande parte do volume de entrega (de cisternas) está num raio de 150km de Petrolina.”. Entre tantas medidas escabrosas adotadas por esse governo para beneficiar afilhados, políticos, aliados e partidários etc., essa distribuição de equipamentos de plástico caracteriza, de forma evidente e escandalosa, verdadeira imoralidade inadmissível e vergonhosa, que apenas se coaduna com as práticas sem caráter disseminadas com a entrega de ministério para partido político, para usar e abusar livremente, ao seu talante, dos seus recursos para beneficiar as bases eleitorais do seu titular, dos seus familiares, compadrios, afilhados e outros elementos da mesma panelinha política, em proveitos próprios e em franco desprezo às causas da nacionalidade, quando se verifica que algumas regiões são beneficiadas e outras não têm a mínima chance do cuidado governamental, mesmo revelando maior estado de carência e implorando por socorro oficial, que nunca aparece. O caos gerencial, praticado no Ministério da Integração Nacional, mediante a concessão de privilégios e benesses, com generosa liberação de recursos públicos para currais eleitorais, além de não ser combatido como devia, é forte indício de que esse péssimo exemplo pode também ocorrer nos demais ministérios entregues aos partidos políticos, cujo procedimento oficializa verdadeira desmoralização das ações políticas incumbidas constitucionalmente ao Estado, em claro desvirtuamento da função fundamental de servir indistintamente ao interesse público e ainda pelas práticas abomináveis de facilitação e favorecimento clientelísticas. A sociedade tem a obrigação de rechaçar, com veemência, essas políticas paroquianas retrógradas e inescrupulosas com recursos públicos, posicionando-se urgentemente por governantes constitucionalistas e republicanos, tendo por base o estrito respeito aos princípios da administração pública, com dedicação exclusiva aos interesses públicos e à verdadeira integração nacional. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 06 de janeiro de 2012

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