domingo, 22 de janeiro de 2012

A meia verdade

Conforme noticia o jornal Folha de S. Paulo, a presidente da República deve consultar o seu antecessor antes de escolher os integrantes da famigerada Comissão da Verdade, aprovada com a finalidade de apurar os fatos ocorridos no período do regime militar, considerado de linha dura. A opinião do ex-presidente terá peso na escolha dos sete conselheiros que irão integrar a referida comissão, justamente por ele ter sido, assim como a mandatária do país, preso durante a ditadura militar. Convém lembrar que essa comissão, além de funcionar como verdadeiro grupo governamental com a exclusiva finalidade de narrar as violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, terá a precípua missão de identificar os responsáveis pelas mortes, torturas e desaparecimentos no período, porém sem nenhuma competência para punir possíveis culpados ou mesmo sugerir qualquer medida decorrente do resultado dos trabalhos dessa comissão. Não deixa de ser curioso o fato de que a presidente não conseguir, por iniciativa pessoal, escolher os membros de uma simples comissão sem antes consultar o ex-presidente, que há mais de ano não tem feito outra coisa senão opinar sobre os casos de incompetência ou de corrupção que resistem e insistem em se manter vinculados à herança maldita do seu governo. Como a comissão deverá ser constituída exclusivamente de “notáveis” do governo, as apurações deverão alcançar tão somente as situações e os fatos que dizem respeito aos interesses das pessoas que estão no poder, sem qualquer preocupação com as atividades terroristas praticadas contra o regime militar, mas que, indiscutivelmente, atingiram profundamente a sociedade, infernizando-a e atormentando-a de forma marcante e cruel. No contexto atual, não há dúvida alguma de que seria de suma importância para o aperfeiçoamento e a consolidação da democracia que a comissão não somente tivesse abrangência sobre a identificação dos responsáveis pelas mortes, torturas e desaparecimentos no aludido período, mas também sobre os ativistas e terroristas que assassinaram pessoas inocentes, assaltaram bancos e patrimônio público e privado, entre outras práticas de delitos prejudiciais à sociedade, que jamais foram punidos, mas, ao contrário, muitos se beneficiaram indevidamente de polpudas indenizações e aposentadorias ou pensões, sem o desembolso de um centavo para o sistema previdenciário, que tem um dos piores rombos financeiros. A sociedade almeja que a verdade do passado, de hoje e de sempre seja única, autêntica e imutável e não apenas a verdade forjada com o auxílio de uma comissão, que terá por objetivo o atendimento de conveniência pessoal, política ou simplesmente momentânea ou interesseira, porque isso não ajuda a aperfeiçoar a democracia, justamente por causa da falta da plena transparência dos fatos ocorridos na época das apurações. Acorda, Brasil!


ANTONIO ADALMIR FERNANDES


Brasília, em 21 de janeiro de 2012

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