sábado, 21 de janeiro de 2012

A sangria da saúde

A presidente da República, indignada com possível negligência que teria acontecido por ocasião da procura de atendimento médico a servidor palaciano, determinou ao ministro da Saúde que investigue o que realmente houve em dois hospitais particulares, que teriam deixado de socorrer o então secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, que, após infarto ocorrido dentro de um terceiro nosocômio, veio a falecer na madrugada de ontem. Segundo a versão da família do de cujos, ele deixou de ser atendido porque seu plano de saúde não foi aceito nas duas unidades anteriores e também não portava cheque para caução. O servidor foi conduzido para outro hospital, mas os médicos não obtiveram êxito na reanimação aplicada nele. Essa triste realidade acontecida envolvendo uma autoridade, caso a versão seja verdadeira, uma vez que os fatos teriam ocorrido na rede hospitalar privada e não na pública, quando se sabe que nesta última unidade isso já não é mais novidade, onde normalmente se morre à míngua, pode até contribuir para que as autoridades sejam despertadas para a difícil situação por que passa o sistema de saúde brasileiro. Já que o lamentável ocorrido causou indignação à presidente da República, ela poderia aproveitar o ensejo para se sensibilizar sobre a real precariedade da saúde pública e determinar ao seu ministro da Saúde urgente melhoria das condições de atendimento nos hospitais do Sistema Único de Saúde, propiciando a prestação de serviços médicos e hospitalares decentes também às autoridades do governo. Não se pode afirmar que o servidor falecido teria sido salvo se ele tivesse sido encaminhado imediatamente para o Hospital de Base, já que a sua residência ficava bem próxima dessa unidade, mas, possivelmente, alguém pode ter concluído ser temerário levá-lo para ser atendido na rede pública, a exemplo do que sempre acontece com as autoridades públicas, que preferem o atendimento de qualidade oferecido pelos hospitais particulares. Agora, não adianta lamentar o tamanho do estrago contabilizado, quando o próprio governo não se sensibiliza para a eterna sangria desatada existente na saúde pública brasileira, que somente contribui para consolidar as estatísticas negativas dos fatos tristes protagonizados nos sucateados hospitais públicos. A sociedade anseia por que as autoridades governamentais jamais tenham que determinar apuração sobre possível negligência quando da busca de serviços médicos e hospitalares, na rede pública ou privada, por quem quer que seja, desde que sejam, evidentemente, priorizadas políticas públicas voltadas para a melhoria das condições de atendimento, com adoção de eficiente gerenciamento e substancial disponibilização de recursos públicos necessários à plena assistência à saúde dos brasileiros. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 20 de janeiro de 2012

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