terça-feira, 20 de novembro de 2012

Clássica lição de indignidade e imoralidade


Passados sete anos sem quaisquer avanços nas investigações, por parte da Polícia Federal ou do Ministério Público Federal, foi arquivado o inquérito instaurado para apurar possível tráfico de influência no caso do filho mais velho do ex-presidente da República petista. Ele teria recebido, em 2004, a quantia de R$ 5 milhões da operadora de telefonia Telemar, atual Oi, que à época era concessionária pública, cujo dinheiro foi injetado numa empresa de jogos eletrônicos, aberta no ano anterior, pasmem, com o irrisório capital de R$ 10 mil. Causa estranheza o fato de que, decorrido tanto tempo, houve o arquivamento do inquérito agora sem que ninguém tenha sido chamado a depor. Quando do recebimento do dinheiro, o Ministério Público abriu a investigação porque a Telemar, além de ser uma concessionária pública, recebeu financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social – BNDES, causando com isso enorme escândalo envolvendo a família do ex-presidente. O episódio ganhou extraordinária repercussão, porquanto, logo em seguida ao repasse do dinheiro, o então presidente assinou decreto autorizando a fusão da Telemar com a Brasil Telecom, dando origem à Oi, apesar de a legislação vigente não permitir tal negócio. Por pressão do Planalto e da bancada do PT, a CPI dos Correios, instalada no Congresso, decidiu não convocar o novo milionário e os representantes da Telemar e do BNDES, para justificar a transação suspeita. Segundo notícia publicada pela mídia, durante os sete anos de inquérito, os procuradores se limitaram a pedir, somente em 2009, explicação formal à empresa do filho do ex-presidente, à Telemar e ao BNDES, perguntando a essas últimas duas entidades se elas sabiam que o empresário era filho do então presidente da República. Em resposta, foi argumentado que não havia "impedimento legal" para o empresário participar da sociedade da Gamecorp pelo fato de ele ser filho do então presidente da República. Após a análise dessa sintética e lacônica resposta e o seu confronto com reportagens de jornais, o Ministério Público decidiu arquivar as investigações, por ter interpretado que o empresário não fez tráfico de influência e o aporte de capital na sua empresa não ter causado prejuízo para os sócios da operadora de telefonia. Verifica-se que não adianta o caso dar origem a rumoroso escândalo, pela forma indecorosa como tudo aconteceu, em evidente falta de honestidade e moralidade, mostrando claramente a forma irregular de um filho do mandatário do país se enriquecer da noite para o dia, mediante a maciça participação de recursos públicos, e não acontecer absolutamente nada, como se fosse tudo normal. O pai, todo orgulhoso do filho milionário às custas dos bestas dos contribuintes, ao invés de se envergonhar diante da fraude, do golpe cometido contra o patrimônio público, preferiu se vangloriar do proeza do seu pimpolho e considerá-lo o fenômeno dos negócios, em alusão ao famoso jogador de futebol. No caso, a sociedade ficou prejudicada e se sente mais uma vez impotente diante de explícito caso de corrupção com recursos públicos, que sequer foi apurado como devia. É preocupante a leniência dos órgãos de controle e fiscalização com a indignidade dos fatos, por nada apurarem e decidirem inexplicavelmente pelo arquivamento do inquérito, curvando-se à argumentação vazia de conteúdo e de plausibilidade, quanto à gravidade e imoralidade do repasse de dinheiro público de forma gratuita e sem razoabilidade para investimento em negócio do filho do presidente, quando os filhos dos outros brasileiros não tiveram a mesma deferência ou a sorte grande de ficarem milionários de uma hora para outra, de forma graciosa e injustificável. A sociedade se regozija quando os filhos dos brasileiros se tornam milionários com a honestidade do seu trabalho, mas repudia com veemência o enriquecimento dos filhos privilegiados, fruto de atos indecorosos e indignos, fazendo uso do dinheiro público, de forma injustificada. Acorda, Brasil!

 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES


Brasília, em 19 de novembro de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário