sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Se houvesse humildade...

A posse do novo presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça teve a presença da presidente da República, de autoridades da República, ministros aposentados, magistrados, celebridades, famosos do mundo artístico, familiares e conterrâneos dele, em disputadíssima solenidade atendendo aos 2,5 mil convites para o evento, entre os quais 60 foram enviados para os Estados Unidos, a Alemanha e a França. Quem não teve acesso ao plenário do Supremo, pôde participar do evento por meio de telões instalados em outras dependências, para que todos conseguissem acompanhar a cerimônia. Na ocasião, foi quebrada uma tradição das posses no Supremo, em razão do problema na coluna do novo presidente, que optou pelo recebimento dos cumprimentos no coquetel ocorrido à noite, cuja reunião social foi patrocinada por diversas entidades de juízes, entre elas a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe). Esse tipo de ato sempre ocorreu com discrição e pouco alarde, como no caso da posse do seu antecessor, diferente da atual que se notabilizou por ter sido um evento concorridíssimo e cheio de pompa, surpreendendo aqueles que imaginavam que Sua Excelência seria incapaz de concordar com tamanho aparato, fato que discrepa daquele magistrado sapiente e aparentemente avesso aos arroubos da vaidade humana. A investidura no mais importante cargo do Poder Judiciário não deixa de ser por demais sedutor à realização de sentimentos até então não revelados. Na qualidade de servidor público e de respeitável magistrado que é, teria sido menos prejudicial à sua imagem se ele apenas procurasse atender ao ritual de posse, conforme a praxe do cerimonial, não aceitando a transformação do evento em inusitada festa sem a mínima necessidade de chamar atenção da mídia, por se tratar de uma posse igual às demais. Não se pode olvidar que as passes na Presidência da República tem sido de forma exagerada, mas igualmente merece a censura da sociedade, tendo em vista que a pompa nela revestida não condiz com a pobreza de significativa parcela da população brasileira, quanto mais que as economias com a austeridade dos atos atenderiam algumas necessidades sociais. Embora a propalada festança tenha sido custeada por entidades sindicais relacionadas ao Poder Judiciários, em merecida homenagem ao magistrado que teve, pela primeira vez no país, a dignidade de cumprir fielmente a sua competência constitucional e legal, ao conduzir com eficiência e profundo conhecimento das práticas desmoralizantes do sistema republicano brasileiro, ficaria muito mais elegante para o novo presidente se ele tivesse a humildade de declinar das nababescas mordomias comuns nos palácios de Brasília, que não dispensam jantares e coquetéis por quaisquer posses mequetrefes da incompetência governamental. O magistrado disciplinador do mensalão teria excelente oportunidade para dar lição de moralidade e de austeridade ao governo federal e aos órgãos e empresas estatais, que desconhecem completamente o que seja parcimônia com verbas públicas, ao promoverem, sem escrúpulo, festanças por motivos sem importância para o interesse público. A sociedade anseia por que as autoridades públicas tenham o bom senso de compreender que as extravagâncias de hábitos não condizem com a austeridade que exige a gestão da administração pública. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 23 de novembro de 2012

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