quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Desmoralização da transparência

Nesse governo, já se tornaram costumeiros os escândalos de corrupção, como o último revelado pela Polícia Federal, e, de igual modo, os esforços dos governistas no Congresso Nacional para se evitar que os protagonistas, entre eles a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, sejam convocados para prestar esclarecimentos ao país. Não obstante, os governistas, ainda justificando não se tratar de blindagem aos denunciados, firmaram acordo com o PSol, partido de oposição, no sentido de que os ministros da Justiça e da Advocacia Geral da União e os presidentes das agências envolvidas deverão comparecer àquela Casa, para “esclarecer” os fatos objeto da operação Porto Seguro. Esse acerto é a tentativa de esvaziar as intenções dos oposicionistas, que lutam pela transparência sobre o que realmente aconteceu a partir dos bastidores do escritório presidencial. Com a finalidade de acobertar as falcatruas e irregularidades nas suas entranhas, o governo não permite que uma das principais pessoas envolvidas no esquema de fraudes em pareceres técnicos de órgãos públicos, objetivando beneficiar empresas privadas, conforme resultado de apuração realizada pela Polícia Federal, esclareça o imbróglio. A resistência do governo, por não permitir que a ex-assessora seja ouvida, pode ter óbvias razões, quais sejam, suas proximidades de confiança e amizade com o ex-presidente da República petista, de quem ganhou o cargo no governo e ainda mantém com ele fortes ligações e constantes contatos. Daí, a maior preocupação do governo de evitar que as relações promíscuas dela com o esquema criminoso no serviço público sejam reveladas e possam complicar ainda mais a situação do ex-presidente, que anda mais misterioso e talvez traumatizado com as insinuações sobre seu possível envolvimento com o mensalão. A ex-assessora, que vem à tona após ter sido investigada, indiciada e exonerada sem nenhum pré-julgamento, deve ter motivos para ficar a distância dos holofotes, por constituir paiol de pura nitroglicerina caso ela conte algo comprometedor sobre a sua amizade com o “todo-poderoso”. À toda evidência, é vergonhosa a conduta do governo de blindar a convocação da bandida, que se corrompeu, cometeu tráfego de influência e se beneficiou de propina, evitando que ela seja interrogada pelos parlamentares, em evidente prejuízo aos princípios da democracia, verdade e transparência e ainda contrariando de forma inexplicável o interesse público, que deve prevalecer sobre quaisquer outras motivações, inclusive partidárias ou de amizades. Já é tempo de o governo entender que a sociedade é plenamente favorável à apuração dos fatos denunciados e à punição dos culpados, não bastando apenas afastá-los dos cargos, como tem ocorrido em todos os casos de corrupção na gestão petista. Em se tratando que a República é o próprio povo, porque os poderes emanam dele, é inacreditável e inadmissível que ainda se tolere que os governantes, em defesa da tão “decantada” democracia, sejam capazes de omitir a verdade à sociedade, que também é responsável pela manutenção do Estado. A sociedade não pode ser indulgente com o governo, quando, embora se julgue democrático, impõe, em clara demonstração totalitária no caso em foco, sua vontade acima dos interesses nacionais, como se somente existisse a sua verdade, em desprezo aos sentimentos sociais e princípios democráticos, que são alicerçados na transparência dos atos pertinentes à gestão do país. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 27 de novembro de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário