Nesse governo, já se tornaram costumeiros os
escândalos de corrupção, como o último revelado pela Polícia Federal, e, de
igual modo, os esforços dos governistas no Congresso Nacional para se evitar
que os protagonistas, entre eles a ex-chefe do escritório da Presidência da
República em São Paulo, sejam convocados para prestar esclarecimentos ao país. Não
obstante, os governistas, ainda justificando não se tratar de blindagem aos
denunciados, firmaram acordo com o PSol, partido de oposição, no sentido de que
os ministros da Justiça e da Advocacia Geral da União e os presidentes das agências
envolvidas deverão comparecer àquela Casa, para “esclarecer” os fatos objeto da
operação Porto Seguro. Esse acerto é a tentativa de esvaziar as intenções dos
oposicionistas, que lutam pela transparência sobre o que realmente aconteceu a
partir dos bastidores do escritório presidencial. Com a finalidade de acobertar
as falcatruas e irregularidades nas suas entranhas, o governo não permite que uma
das principais pessoas envolvidas no esquema de fraudes em pareceres técnicos
de órgãos públicos, objetivando beneficiar empresas privadas, conforme
resultado de apuração realizada pela Polícia Federal, esclareça o imbróglio. A
resistência do governo, por não permitir que a ex-assessora seja ouvida, pode ter
óbvias razões, quais sejam, suas proximidades de confiança e amizade com o
ex-presidente da República petista, de quem ganhou o cargo no governo e ainda
mantém com ele fortes ligações e constantes contatos. Daí, a maior preocupação
do governo de evitar que as relações promíscuas dela com o esquema criminoso no
serviço público sejam reveladas e possam complicar ainda mais a situação do
ex-presidente, que anda mais misterioso e talvez traumatizado com as
insinuações sobre seu possível envolvimento com o mensalão. A ex-assessora, que
vem à tona após ter sido investigada, indiciada e exonerada sem nenhum
pré-julgamento, deve ter motivos para ficar a distância dos holofotes, por
constituir paiol de pura nitroglicerina caso ela conte algo comprometedor sobre
a sua amizade com o “todo-poderoso”. À toda evidência, é vergonhosa a conduta do
governo de blindar a convocação da bandida, que se corrompeu, cometeu tráfego
de influência e se beneficiou de propina, evitando que ela seja interrogada
pelos parlamentares, em evidente prejuízo aos princípios da democracia, verdade
e transparência e ainda contrariando de forma inexplicável o interesse público,
que deve prevalecer sobre quaisquer outras motivações, inclusive partidárias ou
de amizades. Já é tempo de o governo entender que a sociedade é plenamente
favorável à apuração dos fatos denunciados e à punição dos culpados, não
bastando apenas afastá-los dos cargos, como tem ocorrido em todos os casos de
corrupção na gestão petista. Em se tratando que a República é o próprio povo,
porque os poderes emanam dele, é inacreditável e inadmissível que ainda se
tolere que os governantes, em defesa da tão “decantada” democracia, sejam capazes
de omitir a verdade à sociedade, que também é responsável pela manutenção do
Estado. A sociedade não pode ser indulgente com o governo, quando, embora se
julgue democrático, impõe, em clara demonstração totalitária no caso em foco, sua
vontade acima dos interesses nacionais, como se somente existisse a sua
verdade, em desprezo aos sentimentos sociais e princípios democráticos, que são
alicerçados na transparência dos atos pertinentes à gestão do país. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 27 de novembro de 2012
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