quarta-feira, 10 de julho de 2013

A excrescência da política nacional

No momento, ganha destaque nas discussões, no parlamento e na mídia, a tão almejada reforma político-eleitoral, uma vez que as normas pertinentes em vigor não condizem com o desenvolvimento da democracia e das instituições político-partidárias. São tantas distorções e variadas anomalias no atual sistema político, a ponto de permitir, entre outras aberrações, o absurdo da legitimação de senador representar o povo sem ter obtido sequer o próprio voto - em contradição com o princípio constitucional segundo o qual o poder emana do povo e, por mais paradoxal que isso signifique, ele ainda tem o poder de decidir e aprovar projetos legislativos em igualdade de condições com os legítimos senadores, aqueles que obtiveram milhares de votos nas urnas; que político puxador de votos eleja, pelo coeficiente eleitoral, um bando de incompetentes para exercer a função parlamentar, sem ter sido chancelado pelo povo; que candidatos bem votados não se elejam, por não integrarem as famigeradas coligações de peso; que candidatos sem condição moral possam se eleger a cargos públicos, a exemplo dos presidentes do Senado - que renunciou a esse mesmo cargo para não ser cassado, em razão de denúncias de corrupção praticada com recursos públicos - e da Câmara - que responde processo na Justiça, por denúncia de remessa de dinheiro para o exterior - e de um senador do Pará - que acaba de ser condenado a ressarcir mais de dois milhões de reais aos cofres públicos, por ter se apoderado de recursos públicos, cujo processo já tramitava antes da sua eleição; entre tantas deficiências existentes no código eleitoral, totalmente desatualizado e incompatível com a modernidade dos novos tempos e a evolução da humanidade, em sintonia com os avanços em todos os campos do conhecimento. Na verdade, o vigente sistema político-eleitoral apenas se compatibiliza com a qualidade e a mentalidade retrógrada dos acomodados políticos brasileiros, que, mesmo conhecendo a fundo o anacrônico sistema político, trabalham para a sua conservação, a exemplo da derrubada da PEC que cuidava da eliminação de um suplente de senador e da proibição de familiar poder ser suplente, possibilitando que essa excrescência continue valendo, com a existência de dois suplentes de senador sem nenhum voto. Essa situação bem demonstra o anacronismo do sistema político brasileiro, que não merece sequer ser comparável aos países de quinta categoria, que devem não entender a razão pela qual ainda existe na face da terra essa figura esdrúxula de senador sem voto. Não há dúvida de que o sistema que adota a suplência senatorial, por ser espúrio e indecoroso, fere não somente os princípios programáticos e democráticos, mas a dignidade e a moralidade que se exigem na política. A mediocridade é tão patente que os suplentes são sempre membros da família, compadres ou amigos empresários, muitas deles sem vínculo com atividade política. À exceção dos familiares, os demais são generosos em financiar a campanha do senador, o que demonstra o imoral esquema vigente. O caso mais emblemático é o da família do ministro das Minas e Energia, onde o pai cedeu seu lugar no Senado para o filho, excrescência que maximiza a fama de o Brasil não ser um país sério e a política menos ainda. Isso fede muito no Senado, por permitir a ilação da ideia de legítimo feudo político naquela Casa Legislativa e contribui para desmoralizar as instituições político-partidárias. O pior cinismo de tudo isso é que esse procedimento avesso à moral e aos bons costumes político-sociais tem respaldo na legislação político-eleitoral, como se não houve nisso nenhuma degeneração dos princípios ético, moral e democrático. Urge que o povo, encabeçado por representação da sociedade civil organizada e juristas versados sobre a legislação eleitoral, elabore projeto de reforma político-partidário-eleitoral, adequado à realidade da democracia moderna e aos exclusivos anseios da sociedade e do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 09 de julho de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário