quarta-feira, 31 de julho de 2013

Paralisação inconveniente e inócua

As relações entre os profissionais da medicina e o governo podem estar se encaminhando para verdadeiro impasse, devido à falta de diálogo para desarmar os espíritos aflorados com a aprovação das medidas destinadas à importação de médicos e à reestruturação do curso de medicina. Diante da confusão formada, os médicos estão promovendo greves em várias regiões do país, com a paralisação do trabalho da categoria, em que pese causar sérios transtornos ao atendimento à população. Os protestos são contra as medidas já adotadas pelo governo, com base apenas na “experiência” dos Ministérios da Saúde e da Educação, que entenderam de impor solução de afogadilho para antigo e grave problema da saúde pública, que vem afetando a vida do povo brasileiro. Não há dúvida de que a tormentosa falta de atendimento médico-hospitalar exige, no mínimo, estudos aprofundados e circunstanciados envolvendo as entidades médicas, os organismos da sociedade civil e os órgãos governamentais ligados à saúde, com vistas à análise das questões que estão causando enorme prejuízo à população, em face da falta de médicos e da deficiência das estruturas fundamentais para o exercício da medicina. De um lado, os médicos dizem que os movimentos grevistas têm a finalidade de pressionar o governo a rever as decisões adotadas em contrariedade aos interesses da categoria, a exemplo da intenção de contratar profissionais estrangeiros pelo programa Mais Médicos e dos vetos parciais à Lei do Ato Médico, que estabelece as atribuições dos profissionais de medicina. Medidas essas promovidas pelo Palácio do Planalto sem prévia consulta às entidades representantes de classe, que poderiam, com a sua experiência, contribuir com sugestões capazes de aperfeiçoar e melhorar o encaminhamento da solução desse gravíssimo problema. Do outro extremo, o governo lamenta as greves, alegando que “O Ministério da Saúde sempre esteve aberto ao diálogo com entidades interessadas na melhoria do atendimento no SUS e nas necessidades de saúde da população brasileira. O ministério lamenta qualquer prejuízo que as paralisações possam causar no atendimento dos pacientes”. O Ministério da Saúde alega que o objetivo da iniciativa federal é acelerar os investimentos em infraestrutura e ampliar o número de médicos nas regiões carentes, especialmente nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades, em que pesem as preocupações das entidades e associações médicas, afirmando que os profissionais estrangeiros passariam a atuar no país sem a submissão à comprovação da sua capacitação técnico-profissional. Em tese, o governo assegura que a contratação de médicos estrangeiros é transitória, para preenchimento de vagas ociosas, não havendo competição com os profissionais brasileiros. Não há dúvida de que o governo não vem agindo com transparência e sinceridade na adoção das medidas com vistas a cuidar do caos da saúde pública, quando, sem qualquer diálogo com as organizações médicas, adotou, de forma precipitada várias medidas, contrariando completamente a experiência dessas entidades. Tratando-se de questão envolvendo o governo e os profissionais da medicina, é inconcebível que a sociedade seja diretamente afetada e prejudicada com essa injustificável, absurda e inadmissível paralisação de 48 horas, que, em princípio, teria por finalidade atingir o governo, mas de forma errônea, seu efeito recaiu sobre o povo que carece da assistência médica. A paralisação, no caso, é medida extremamente inócua e de cristalina imaturidade e irresponsabilidade, por evidenciar falta de criatividade e de melhor opção para protestar contra o governo, com a devida efetividade quanto aos fins preconizados, que seriam mostrar inconformismo com relação às medidas adotadas pelo governo. A repercussão das manifestações teve efeito apenas sobre a população, que teve agravada a já crítica e precária situação de atendimento médico-hospitalar, inclusive contribuindo para comprometer o estado de saúde das pessoas doentes, que deixaram de ser atendidas. No Estado Democrático de Direito, é inadmissível que os direitos das pessoas sejam desrespeitados sem causa que a justifique, como nesse caso das paralisações, que não devem ter reflexos quanto aos objetivos pretendidos, visto que a população nada fez para ser indevidamente penalizada. Convém que as entidades e os organismos representativos de classes profissionais sejam cautelosos e conscienciosos sobre as medidas adotadas em defesa dos seus associados, agindo com mais inteligência e responsabilidade, quando protestarem contra fatos prejudiciais aos seus interesses, evitando causar danos à sociedade, já bastante atingida pelo despreparo no exame das questões nacionais.  Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 31 de julho de 2013

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