sexta-feira, 19 de julho de 2013

A desmoralização da segurança pública


Dando cumprimento ao acordo firmado entre a Polícia Militar do Rio de Janeiro, Anistia Internacional, Ordem dos Advogados do Brasil e Secretaria de Direitos Humanos, a PM atuou, na manifestação ocorrida ontem, com moderação, evitando o uso de armas não letais e excessivo gás lacrimogêneo, mas os atos de vandalismo levaram o comandante da PM a condenar a aludida decisão, por ter chegado à conclusão de que ele "Não deu certo. Então, hoje, já vamos sentar para reavaliar. O gás é para dispersar os vândalos. Então, as pessoas falaram para não usar o gás. Nessa ação, foi prejudicada". O comandante da Polícia militar acusa falta de apoio da imprensa e ainda tem a indignidade de dizer que a corporação e humilhada pelos baderneiros, ao afirmar que "É mijo o que eles jogam em cima da gente. Cospem na nossa cara. Nós somos, também, cidadãos. Estamos para dar segurança a todos vocês. Inclusive para a imprensa. E nós não estamos tendo apoio dos senhores também". Ora, seu comandante, isso já passou dos limites de tolerância, porque compete às autoridades policiais o vigoroso combate não só ao desrespeito à autoridade constituída como à destruição do patrimônio da sociedade, mas essa medida não foi adotada, o que é lamentável, por demonstrar a falta do cumprimento do dever constitucional pela corporação. As manifestações são amparadas constitucionalmente e devem ocorrer de forma ordeira e pacífica, mas o excesso dos baderneiros e vândalos jamais pode ser tolerado, sob qualquer pretexto, sob pena de caracterizar omissão irresponsável por parte de quem tem o dever constitucional de proteger a integridade das pessoas e do patrimônio da sociedade. Não há como aceitar que apenas a falta das armas não letais e do gás lacrimogênio seja desculpa para tanta irresponsabilidade da polícia e destruição dos vândalos, esta perfeitamente evitável se tivessem sido empregados a força policial suficiente e os aparelhamentos adequados de repressão à desordem pública, com o necessário rigor exigido para casos que tais, certamente que nada teria acontecido de tão grave e deprimente, causando enormes prejuízos materiais e financeiros à sociedade, além de macular seriamente a imagem do Rio de Janeiro e do Brasil, pela evidência da fragilidade e incapacidade de conter a banalidade da violência. Diante da falta de condições do Estado do Rio para impedir o império da criminalidade, o governo carioca teria a obrigação de recorrer com urgência ao governo federal, de modo que o socorro de policiamento seja capaz de conter o avanço da violência. Essa desculpa fajuta da falta dos citados instrumentos não descaracteriza nem justifica a plena incompetência da PM do Rio, ao permitir que meia dúzia de gatos pintados infernize a Cidade Maravilhosa, com quebra-quebra, saques e generalizado vandalismo, em completa desmoralização da segurança pública, cujos órgãos de policiamento não conseguem proteger a sociedade e manter a ordem pública. É lamentável que a Polícia Militar carioca não tenha se conscientizado ainda de que o gás lacrimogênio e as armas não letais não podem ser empregados contra as manifestações pacíficas, mas o seu uso é licitamente justificável nos casos de extrema violência, para impedir bagunças e destruição, que deve ser associado a ações e operações estrategicamente preparadas, com disponibilização de pessoal suficiente e treinado. A forma facilitada com que os vândalos exerceram suas maldades, sem que houvesse o indispensável combate pelas autoridades policiais, implica a responsabilização do governador do Rio de Janeiro e demais envolvidos na omissão havida no lamentável sinistro. Não há dúvida de que, nesse triste episódio, a PM/RJ prestou relevantes desserviços à sociedade, ao deixar de aplicar as forças repressoras da sua competência, merecendo severas críticas quanto ao seu despreparo e à sua omissão, para que as autoridades sejam despertadas sobre a premência de serem adotados os recursos contra os baderneiros, com vistas a serem evitados danos materiais e financeiros e prevenir a incidência do caos. Urge que as autoridades do Rio de Janeiro se conscientizem sobre a necessidade da adoção de efetivas medidas de combate à criminalidade, com a utilização dos meios e instrumentos imprescindíveis à manutenção da ordem pública, não permitindo que a desmoralização das autoridades e da segurança pública volte a ocorrer. Acorda, Brasil!
 

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 

Brasília, em 18 de julho de 2013

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