quarta-feira, 31 de julho de 2013

Desmoralização do instituto da democracia

Nos últimos dias, alguns importantes políticos foram internados às pressas em hospitais, a exemplo do maranhense, eleito senador pelo PMDB-AP, do ex-presidente do PT e atual deputado federal e do último candidato tucano à Presidência da República. Diferentemente do que acontecem com os pobres mortais brasileiros, eles mereceram prontos e especiais atendimentos médicos e hospitalares e estão totalmente fora de qualquer perigo de morte. Não deixa de ser contraditório que os políticos sempre encontram vagas disponíveis nos hospitais e médicos de prontidão, como se estivessem tudo reservado para o salvamento das suas vidas, sem a menor necessidade de entrar em fila para serem atendidos ou de depender de vagas de UTI ou de outras dependências para o adequado tratamento. Causa espanto que esses mesmos políticos, inclusive o ex-presidente da República petista, que também já teve atendimento VIP, quando precisou do socorro médico, nada fazem com vistas à melhoria da assistência médica à população, mediante a destinação de maciços recursos para investimentos na construção de hospitais públicos, na aquisição de medicamentos e na disponibilização de aparelhamentos, equipamentos e pessoal médico e paramédicos, como forma eficiente de atender a precária carência do sistema de saúde pública, que se encontra desfalecida há bastante tempo, mas as autoridades fazem ouvidos moucos aos clamores da sociedade. Os ilustres políticos bem que poderiam aproveitar o tempo de convalescença nos hospitais para ler os comentários feitos na mídia acerca das suas personalidades e da falta de contribuição ao país e à sociedade e fazerem intensa reflexão sobre o que realmente representa a sua pessoa para a vida pública brasileira. Diante das opiniões nada alentadoras, talvez seja possível se concluir que político sequer pode adoecer, porque logo surgem enxurradas de comentários “brilhantes” sobre o que as pessoas pensam sobre seus ultrajantes desempenhos nos cargos públicos. O é pior que os comentários nem sempre elogiosos são extensivos aos políticos de forma generalizada, com adjetivos muitos dos quais impublicáveis, porém eles parecem que foram feitos de encomenda, porque se encaixam perfeitamente nas qualificações dos homens públicos que deveriam ser apenas dignos representantes do povo. Conviria que os políticos internados em hospitais tomassem conhecimento das centenas de opiniões sobre seus desempenhos na vida pública e aproveitassem os ensinamentos e as lições de cunho moralizador e de chamamento à conscientização sobre a real necessidade de cuidar da política na forma da sua verdadeira instituição democrática, segundo os princípios da ética, moralidade, legalidade, transparência e, sobretudo, em atendimento ao interesse público. Certamente que não deve existir local mais ideal, no sossego do leito hospitalar, para profícua reflexão sobre a precípua finalidade da política e do exercício da função pública eletiva. Os políticos hospitalizados deveriam ser obrigados a conhecer os comentários da sociedade sobre eles, como forma de submetê-los ao compulsório exame de consciência acerca da sua verdadeira responsabilidade política, embora isso possa contribuir para agravar seus estados de saúde e aumentar o tempo da sua permanência no hospital, à vista da contundência das opiniões e da falta de compaixão para com o ser humano. Na realidade, as mensagens demonstram, com riqueza de detalhes, o quanto os políticos são desprezíveis, questionáveis e indesejáveis, em face das desonestas atuações políticas. A sociedade anseia por que os políticos não precisem passar pelo constrangimento de serem permanentemente menosprezados e diminuídos perante a opinião pública e muito menos escrachados e desrespeitados sempre que são hospitalizados, desde que as atividades e as funções públicas sejam desempenhadas em estrita observância aos princípios basilares da instituição democrática, em harmonia com a sua destinação de praticar o bem e satisfazer o interesse público. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 30 de julho de 2013

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