Com a finalidade de atender a grave crise do
sistema de saúde pública, de forma simplista, apressada e atabalhoada, sem
qualquer critério racional e melhor planejado, como se a questão envolvesse
apenas objetos sem valor e sem a necessidade da avaliação da valoração da
sensibilidade humana, o governo se apressa na tentativa de dar resposta aos
reclamos da sociedade, nitidamente com sua tolerância já exaurida diante do
eterno descaso, da indiscutível precariedade e da patente falta de atendimento
médico-hospitalar. Nas condições pensadas pelo governo, não há dúvida de que a
vinda de médicos estrangeiros merece pleno repúdio, considerada a indiferença
às imprescindíveis cautelas de segurança e responsabilidade quanto aos fins
colimados, consistentes no importante tratamento da saúde de seres humanos, que
não merecem passar pelo teste da certeza ou da dúvida se os profissionais
contratados são realmente competentes e qualificados. Não basta a tão alardeada
"importação de médicos", dispensada a revalidação do diploma
pertinente, pasmem, em absurda inobservância da exigência legal para a espécie,
deixando de comprovar a experiência profissional para as peculiaridades
pretendidas. A vinda de médicos estrangeiros, como medida isolada, poderá se
tornar inócua e até desastrosa se não houver investimentos maciços em instalações
e equipamentos hospitalares e se não tiverem leitos, materiais técnicos,
medicamentos e ambulâncias compatíveis às necessidades. De nada servirá a
importação de médicos se continuarem as precariedades e as más condições das
raras e péssimas instalações e unidades hospitalares, onde há fartura das
mínimas condições para o desempenho digno da profissão médica, que apenas
contribuem para pôr em risco não somente a qualidade do atendimento médico, mas
a própria profissão médica e a vida das pessoas. É evidente que o governo,
mantendo costumeira coerência, distorce o entendimento quanto à realidade dos
fatos e manda às favas as cobranças sobre a melhoria da saúde pública,
notadamente no que tange à disponibilização de substanciais recursos, capazes
de contribuir para sanear a precariedade consistente na plena falta de
atendimento médico-hospitalar, sobretudo afetada pela acentuada incompetência
gerencial do Sistema Único de Saúde – SUS, que subsiste mesmo com inadequado
controle sobre a efetividade da sua atuação, inepta e incapaz de aquilatar o
real emprego dos recursos destinados às causas médico-hospitalares. Os
protestos dos médicos no país inteiro são justíssimos, ante a insensibilidade
das autoridades públicas em pretender solucionar questão tão relevante de forma
primária e açodada, sem sopesar os componentes que influenciam na degeneração
do sistema de saúde pública. Convém que haja compreensão dos problemas
maximizados pela falta de priorização e de investimentos e pela incompetência
da gestão do sistema de saúde, que contribuem negativamente para o afastamento
dos médicos brasileiros das regiões do interior do país e, de resto, do serviço
público, causando verdadeiro caos à assistência médico-hospitalar a cargo do
anacrônico e falido SUS. A importação de médicos, na forma preconizada pelo
governo, demonstra incompetência no trato de tema de extrema sensibilidade
humana, por dizer respeito à saúde da população que merece atendimento de
qualidade, assegurada a indispensável segurança psicológica e garantia de que a
vida humana se encontra aos cuidados de profissionais confiáveis e preparados
para cuidar das doenças e enfermidades. Não há a mínima garantia do atendimento
médico-hospitalar apenas com a presença, em abundância, de médicos, se não
houver empenho e esforço no sentido de assegurar suprimento, em quantidade e
qualidade, dos recursos materiais e pessoais imprescindíveis ao nobre exercício
das funções e atividades médicas. Com pouco esforço criativo, se acredita que o
grave problema da falta de médicos no interior do país pode ser solucionado, em
parte significativa, de forma permanente e racional, tendo o condão de
privilegiar a prata da casa, ampliar as condições de acessibilidade social e
valorizar os brasileiros, com a aplicação de instituto genuinamente tupiniquim
denominado cotas médicas, a ser viabilizado nos moldes do critério da regra de
cotas, no caso já em uso sem justificável objetividade, para fins raciais e
sociais. As cotas médicas se destinarão a reservar vagas nos cursos de
medicina, observadas com rigor as carências médicas do país. Na prática, essa
medida objetiva estabelecer, nos vestibulares das universidades públicas - que
deverão ampliar significativamente as atuais quantidades de vagas -, cotas
exclusivas para quem aceitar fazer o curso de medicina tendo a obrigação de,
após a formatura, prestar serviços médicos no interior do país, em localidades
predeterminadas, com remuneração compatível com a insalubridade e duração, no
mínimo correspondente ao tempo de colação do grau médico ou outro compatível
com os fins de interesse público, ficando claramente definido em contrato
público que, quem se recusar a cumprir o compromisso assumido, sujeitar-se-á à
única condição de ficar suspenso do direito de exercer a profissão médica por
idêntico período previamente fixado para a prestação do serviço na localidade
para a qual ele seria designado. É evidente que a criação das cotas médicas
também implica a criação de condições indispensáveis ao atendimento médico da
melhor qualidade possível, com a disponibilização dos recursos materiais e
humanos suficientes e capazes de dar suporte ao ofício em causa. A sociedade
anseia por que as autoridades públicas se conscientizem, com urgência, sobre a
necessidade da priorização das ações e políticas públicas de competência
constitucional do Estado, em especial no que se refere à situação periclitante
do sistema de saúde pública, que pode ser, em parte, solucionada com a
implantação de sistema de cotas médicas, para quem aceitar trabalhar no
interior, depois de formado. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 07 de julho de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário