A Câmara dos
Deputados decidiu sepultar as pretensões da presidente da República sobre a
realização de plebiscito, visando à reforma política tão necessária à
modernização do sistema político-eleitoral, que seria implantado na eleição de
2014. Em contrapartida, a Câmara decidiu criar grupo de trabalho para elaborar projeto
de reforma, cuja proposta poderá ser submetida a referendo. Enfim, o órgão
legislativo teve o bom senso de sopesar o altíssimo custo que seria realizado e
o risco de o resultado do plebiscito não ser aproveitado na próxima eleição,
tornando infrutíferos os esforços, que certamente terão melhor proveito na
apreciação de matérias urgentes e imprescindíveis ao interesse público. Houve
quem dissesse que o plebiscito, pela exiguidade de tempo, poderia criar
frustração na população, ante a possibilidade de não valer para a eleição do
ano que vem. Além da convocação não corresponder às expectativas do povo, para
decidir sobre fatos que não foram objeto dos últimos protestos, sendo tema
inventado pelo governo sabe lá por qual finalidade. A sociedade não foi para as
ruas pedir plebiscito e muito menos reforma política, em que pese o anacronismo
sistema vigente servir de respaldo às falcatruas dos maus políticos, que
aproveitam suas fragilidades para tirar proveito e se beneficiarem politicamente
com base nas suas deficiências. Quando o tema em discussão na Câmara ou no
Senado envolver reforma política, com a finalidade de corrigir as seríssimas
falhas do sistema político-eleitoral mais ultrapassado da face da terra, ninguém
acredita que os parlamentares se dignem a mexer nos seus privilégios nem no
status quo, porque eles não abrem mão das vantagens, mordomias e dos benefícios,
conquistados em abundância e amparados nas normas aprovadas pelos próprios
interessados, que a sociedade questiona, mas sem nenhuma valia diante da
insensibilidade de quem se julga acima da lei e dos protestos do povo,
responsável pela eleição deles e pela manutenção dos seus vencimentos. O certo
é que felizmente o pseudoplebiscito da presidente da República felizmente não
ganhou fôlego no Congresso, justamente por conter nele temas contrários aos
interesses dos parlamentares, que não aceitam perder as cômodas regalias e
condições angariadas ao longo da vida pública, construída com tanto
“sacrifício” e não seria reforma de surpresa que deveria interromper o
tranquilo modelo apropriado aos seus projetos políticos. Os parlamentares sequer
admitem discutir alteração no sistema de financiamento de campanha, garantido
por empresas e construtoras contratadas por governos, a preços normalmente
superfaturados; eliminação na reeleição para cargos executivos, acabando a certeza
da permanência no poder; o fim das coligações partidárias, em que as grandes
agremiações sempre levam vantagem; o término do coeficiente eleitoral, que
possibilita a eleição de outros candidatos por “puxador” de votos; o
estabelecimento de cinco anos para todos os cargos, que pode contrariar
pretensões de senadores; a implantação do voto majoritário, contrariando
interesses dos medíocres; entre outras essenciais regras eleitorais e
políticas indispensáveis ao aperfeiçoamento do sistema político-eleitoral. Os
atuais parlamentares não estão preparados para alterações tão profundas e
jamais aceitariam que suas cômodas atividades políticas sofressem bruscas
modificações, com o risco de serem politicamente prejudicados. Pode-se concluir
que a “avançada” mentalidade dos políticos não permite que haja reforma tão
cedo nesse vergonhoso e ineficiente sistema político-eleitoral, certamente por representar
retrocesso na consolidação dos seus interesses pessoais. Considerando que a reforma
política é de suma importância para o aprimoramento da democracia, a sociedade
anseia por que os congressistas sejam capazes de abdicar das suas cômodas “ideologias”
políticas em nome do interesse nacional e se conscientizem sobre a urgente aprovação
de regras capazes de tornar eficiente o sistema político-eleitoral, com a
implantação de métodos de vanguarda tão almejados pelos brasileiros. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 11 de julho de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário