sábado, 10 de setembro de 2016

Conduta lícita?


Tempos atrás, a Polícia Federal anexou à ação penal envolvendo a Odebrecht na Operação Lava Jato levantamentos considerados estranhos, consubstanciados e-mails trocados entre executivos da empreiteira Odebrecht e o então ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do governo do ex-presidente petista, em 2009, com sinalização do tráfico de influência operado pelo ex-presidente da República petista.
Um e-mail entre o mencionado ministro e um executivo da Odebrecht diz que ele esteve com "PR", sigla que a Polícia Federal acredita ser Presidente da República, e que foi feito o "lobby" para a empresa em uma obra no segmento hidrelétrico na Namíbia, na África.
O executivo da Odebrecht o responde, nestes termos: “Miguel, se você estiver hoje com os presidentes Lula e o da Namíbia, é importante que esteja informado sobre esta negociação e, se houver oportunidade manifestar sua confiança na capacidade desta multinacional brasileira chamada Odebrecht”.
Em outro e-mail, consta que “Marcelo, ’O Presidente Lula está lhe fazendo um convite para participar de um almoço com o Presidente da Namíbia, no dia 11/02 (quarta-feira), às 13h, Itamaraty, Salão Brasília’” e ele responde, com esse teor: “Ok. Pode confirmar. Mesmo porque vou tentar estar com a Dilma. Mameri, ‘Entendo que pode ser uma boa oportunidade em função de nossa hidrelétrica. Seria importante eu enviar uma nota memória antes via Alexandrino com eventualmente algum pedido que Lula deve fazer por nós’”.
Na ocasião, o presidente nacional do PT disse que se trata "aberração" o vazamento de e-mails que mostram o lobby do governo, na gestão do ex-presidente da República petista, em favor da empreiteira Odebrecht, lembrando que a imprensa sempre glorificou a política de outros mandatários mundiais, como um ex-presidente norte-americano, na defesa de empresas de seu país, não considerando nada de errado que "Lula fez isso quando era presidente e faz agora, diz ele, com muito orgulho.".
O presidente do PT disse que a defesa do ex-presidente petista em favor das empresas não significa favorecimento de ninguém, porque seu objetivo "É criar empregos no Brasil, (melhorar) exportação e a tecnologia nacional e abrir mercados em outros países".
Ele classificou o vazamento em causa como tentativa de criminalizar o PT, a então presidente do país e o ex-presidente, para "tentar barrar qualquer possibilidade que possa (sic) ter dele ser candidato presidencial em 2018", que é o desejo da sociedade e do próprio partido.
O resultado das investigações da Lava-Jato aponta a participação da Odebrecht no chamado clube de empreiteiras, que combinava quais as empresas que seriam vencedoras de licitações da Petrobras, cujos executivos da construtora foram acusados do pagamento de propinas para diretores e gerentes da estatal.
O Instituto Lula destacou a legalidade e a lisura da conduta do ex-presidente, alegando, entre outros, que “... Há uma repetitiva, sistemática e reprovável tentativa de alguns órgãos de imprensa e grupos políticos de tentar criminalizar a atuação lícita, ética e patriótica do ex-presidente Lula na defesa dos interesses nacionais, atuação que resultou em um governo de grandes avanços sociais e econômicos, com índices recorde de aprovação. Temos a absoluta certeza da legalidade e lisura da conduta do ex-presidente Lula, antes, durante e depois do exercício da presidência do país, e da sua atuação pautada pelo interesse nacional.”.
Já a Odebrecht afirmou que “... os trechos de mensagens eletrônicas divulgados apenas registram uma atuação institucional legítima e natural da empresa e sua participação nos debates de projetos estratégicos para o país - nos quais atua, em especial como investidora...”.
O Ministério Público ressaltou que as empresas investigadas, incluída a Odebrecht, formavam verdadeiro cartel, com a finalidade de obter preços favoráveis, cuja parte dos lucros exorbitantes se destinava ao pagamento de propinas a agentes públicos e partidos políticos.
Os brasileiros precisam se conscientizar sobre a verdade dos fatos, procurando compreender a exata dimensão da tentativa de dilapidação do patrimônio nacional, quer por meio dos esquemas de desvio de recursos da Petrobras, como pelo lobby igualmente irregular envolvendo recursos do BNDES, ante a caracterização de atos contrários aos princípios da ética, moralidade e legalidade, cujos procedimentos irregulares somente aconteceram com a participação de inescrupulosos agentes públicos, que precisam ser penalizados, como forma de lição disciplinar e pedagógica e de se evitar a reincidência de fatos semelhantes.
Os fatos mostram que o ex-presidente teve participação ativa em defesa dos interesses da mencionada empreiteira, sendo injustificáveis os argumentos de que ele teria agido em defesa do interesse nacional, quando a sua participação, no caso da Namíbia, diz respeito tão somente a uma construtora, em detrimento das demais empresas nacionais, fato que representa forte suspeito de tráfico de influência internacional para beneficiar a Odebrecht.
Conviria, diante das suspeitas, que o petista se dignasse a liberar acesso às suas contas bancárias, operações fiscais e telefônicas e demais atividades pessoais, de modo a mostrar a lisura de seus atos na vida pública, como fazem normalmente os homens públicos dos países civilizados e evoluídos democraticamente.
Certamente que os fatos inquinados de irregulares vindos à lume seriam censurados ao extremo e com severidade pelo PT caso eles fossem protagonizados por alguém estranho ao partido, que cairia de pau sobre o acusado, exigindo a aplicação de duras penalidades, enquanto o alvo da acusação em comento merece a sua defesa como autêntico amante dos interesses nacionais, completamente imune às mínimas suspeitas de desvio de conduto, mesmo que os fatos conspirem contra os princípios da ética, moralidade, legalidade, honestidade e dignidade, que são inseparáveis das atividades inerentes aos homens públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de setembro de 2016

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