“Você pode enganar algumas pessoas o tempo
todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas
as pessoas o tempo todo”. Abraham Lincoln, ex-presidente norte-americano
Apontado
pelo Ministério Público Federal como chefe do megaesquema de corrupção descoberto
pelas investigações da Operação Lava-Jato, o ex-presidente da República petista
se cercou de lideranças, militância e aliados do PT, para descer o malho geral,
mas em especial nos procuradores, por terem revelado os meandros da roubalheira
de recursos da Petrobras.
No longo
discurso de mais de uma hora, o petista não apresentou uma única explicação
plausível contra as graves denúncias que pesam sobre seus ombros, mas teve a
capacidade de verberar a atuação de quem vem mostrando resultado substancial
com os levantamentos dos fatos que até então estavam adormecidos e escondidos nos
porões da indecência e da indignidade.
O
ex-presidente mentiu no seu discurso, quando disse que falava como cidadão
indignidade e não como político, mas, na verdade, a sua fala não fugiu da linha
política, no padrão “Fifa” que ele domina, cuja centralidade focava para os
duros ataques ao Ministério Público, à imprensa e aos adversários, aproveitando
para fazer ameaças com o reforço da intenção de se lançar candidato em 2018, ao
dizer que “A história mal começou. Alguns
pensam que terminou. E ainda vou viver muito. Por isso estou me preparando”.
Como se a
gestão governamental tivesse o poder de salvo-conduto das falcatruas elencadas
pelos procuradores, ele enumerou os feitos “milagrosos” do Partido dos
Trabalhadores, principalmente os programas sociais, como se isso não fosse
obrigação do Estado de ajudar financeiramente as famílias carentes, tendo
aproveitado para dizer que “Tenho
profundo orgulho de ter criado o mais importante partido de esquerda da América
Latina”, evidentemente sem mencionar suas proezas negativas no cenário
político-administrativo.
Embora
tenha dito que não tencionava protagonizar “show
de pirotecnia”, em clara alusão à apresentação da denúncia contra ele pelos
procuradores, o petista nunca foi tão o próprio em hipocrisia, por ter chorado,
contado histórias e principalmente agredido duramente adversários políticos,
dizendo, em tom de provocação, que “Eles
construíram uma mentira, como se fosse o enredo de uma verdade, e tá chegando o
fim do prazo. Já cassaram Cunha, já elegeram Temer pela via indireta, já
cassaram a Dilma. Agora precisa concluir a novela. Quem é o bandido e quem é o
mocinho? Vamos ao fecho: acabar com a vida política do Lula. Não existe
explicação para o espetáculo de pirotecnia feito ontem”, tendo ainda
provocado com ironia e desprezo os denunciantes, em tom de supremacia, nestes
termos: “Provem uma corrupção minha e eu
irei a pé para a delegacia”.
Numa tentativa
bufa de defesa, quis impressionar os militantes fanatizados, por meio de
construção sem nexo que mais justifica suas trapalhadas, afirmando que “As pessoas achincalham muito a política, mas
a profissão mais honesta é a do político, porque todo ano, por mais ladrão que
ele seja, ele tem que ir para rua e pedir voto”, como querendo dizer com
isso que o político ainda é um mal necessário, obviamente no país tupiniquim,
no entender dele.
O petista
foi sumamente arrogante quando disse que “Hoje
nós vivemos momento no Brasil em que a lógica não é mais do processo. Não é
mais os autos. É a manchete. Quem é que nós vamos criminalizar pela manchete. Quem
vamos demonizar. Está acontecendo isso desde 2005. O PT é tido como o partido
que tem que ser extirpado da história política brasileira”. Essas
afirmações estão contaminadas pelo sentimento de má fé e de má intenção, porque
muitos criminosos do seio de seu partido foram julgados à luz dos fatos
apurados, com base em provas resultantes das suas participações em esquemas criminosos
arquitetados dentro de palácios de Brasília, a exemplo do ex-ministro da Casa
Civil, dos tesoureiros do partido e de outros acusados formalmente em processo
e não fora dele e a denúncia em tela mostra o contrário das absurdas
declarações.
Com a
finalidade de marcar o ato de puro desespero, mas de muita prepotência, o
discurso do petista foi abundantemente carregado com fatos pitorescos de
hipocrisia com a cara dele, com ênfase para histórias envolvendo líderes
mundiais e passagens de pura melancolia da sua origem paupérrima, mas uma frase
foi capaz de superar o extremo da “humildade” do político como a que “Eu tô falando como cidadão indignado, como
pai, como avô, como bisavô. Eu tenho uma história pública conhecida. Acho que
só ganha de mim aqui no Brasil Jesus Cristo. Pense num cabra conhecido e
marcado neste país”.
Ou seja,
fica muito difícil “não acreditar” em tanta sinceridade vinda de um homem puro,
honesto e cheio de boas intenções, que somente se rende à pureza do Mártir do
cristianismo.
Em
conclusão, o ex-presidente conclamou os petistas a usarem o símbolo vermelho da
legenda, concitando que “Cada petista do
país tem que começar a andar de camisa vermelha. Quem não gostar, coloque de
outra cor. Esse partido tem que ter orgulho”.
À toda evidência, o discurso do ex-presidente, na
vã tentativa de se afastar – não de se defender, porque nada foi feito nesse
sentido - das acusações da prática de corrupção, constitui mais uma aberrante
peça de extrema demagogia que os petistas adoram ouvir, como se ele fosse capaz
de mudar os rumos dos levantamentos sobre os fatos denunciados, que tiveram por
base contratos, notas fiscais, testemunhas e outras provas juridicamente
válidas, enquanto os argumentos do ex-presidente se limitaram a repudiar as
conclusões do Ministério Público, sem apresentar um único documento capaz de
refutar as graves denúncias, que são robustas e convincentes, por que baseadas
em fatos concretos.
A propósito, salta aos olhos o aluguel do depósito
da transportadora Granero, que teve o custo aproximado do valor de R$ 1,3
milhão, suportado, a pedido do Instituto Lula, diretamente pela construtora
OAS, como se fossem daquela empresa os bens em nome do ex-presidente, que foram
levados por ele por ocasião da sua mudança dos Palácios do Planalto e da
Alvorada, por meio da frota composta por muitos caminhões, conforme notícia da
mídia.
Especificamente sobre os fatos que pesam sobre os
ombros do petista, tidos por irregulares, não houve a devida justificativa,
porquanto ele entendeu apenas de estranhar a descortesia do tratamento
dispensado pelos procuradores, como forma de transformar o ato da denúncia como
atitude de desonra e afronta a ex-presidente da República, dando a entender que
ele é inocente, a ponto de se colocar tão somente, em termos de honestidade,
logo abaixo de Jesus Cristo, a par de se transformar na maior vítima da
história republicana, ensejando que procuradores hão de pedir-lhe perdão pela
cruel denúncia, sem provas.
O mais chocante do discurso político foi ver fiéis
admiradores o aplaudindo entusiasticamente e a todo instante, acreditando
piamente nas afirmações do petista, como a devotar o seu apoio à criatura tão
pura, imaculada e, acima de tudo, injustiçada, completamente incapaz de cometer
qualquer deslize, muito menos de se aproveitar de benesses espúrias, tão
somente em decorrência do seu prestígio e da sua influência política.
A pobreza política do país tupiniquim se materializa
quando se verifica que a nação ainda depende de homens públicos extremamente
demagogos, hipócritas e populistas, com capacidade de influenciar, com palavras
vazias e emotivas, as pessoas facilmente manipuláveis e carentes de reais lideranças
que sejam capazes de conduzir os interesses da pátria por meio de atitudes
respaldadas nos princípios da sinceridade, moralidade, honestidade, legalidade
e dignidade, entre outros em condições de contribuir para o desenvolvimento
socioeconômico. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 25 de setembro de 2016
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