domingo, 25 de setembro de 2016

Dependência à demagogia


Você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo”. Abraham Lincoln, ex-presidente norte-americano

Apontado pelo Ministério Público Federal como chefe do megaesquema de corrupção descoberto pelas investigações da Operação Lava-Jato, o ex-presidente da República petista se cercou de lideranças, militância e aliados do PT, para descer o malho geral, mas em especial nos procuradores, por terem revelado os meandros da roubalheira de recursos da Petrobras.
No longo discurso de mais de uma hora, o petista não apresentou uma única explicação plausível contra as graves denúncias que pesam sobre seus ombros, mas teve a capacidade de verberar a atuação de quem vem mostrando resultado substancial com os levantamentos dos fatos que até então estavam adormecidos e escondidos nos porões da indecência e da indignidade.
O ex-presidente mentiu no seu discurso, quando disse que falava como cidadão indignidade e não como político, mas, na verdade, a sua fala não fugiu da linha política, no padrão “Fifa” que ele domina, cuja centralidade focava para os duros ataques ao Ministério Público, à imprensa e aos adversários, aproveitando para fazer ameaças com o reforço da intenção de se lançar candidato em 2018, ao dizer que “A história mal começou. Alguns pensam que terminou. E ainda vou viver muito. Por isso estou me preparando”.
Como se a gestão governamental tivesse o poder de salvo-conduto das falcatruas elencadas pelos procuradores, ele enumerou os feitos “milagrosos” do Partido dos Trabalhadores, principalmente os programas sociais, como se isso não fosse obrigação do Estado de ajudar financeiramente as famílias carentes, tendo aproveitado para dizer que “Tenho profundo orgulho de ter criado o mais importante partido de esquerda da América Latina”, evidentemente sem mencionar suas proezas negativas no cenário político-administrativo.  
Embora tenha dito que não tencionava protagonizar “show de pirotecnia”, em clara alusão à apresentação da denúncia contra ele pelos procuradores, o petista nunca foi tão o próprio em hipocrisia, por ter chorado, contado histórias e principalmente agredido duramente adversários políticos, dizendo, em tom de provocação, que “Eles construíram uma mentira, como se fosse o enredo de uma verdade, e tá chegando o fim do prazo. Já cassaram Cunha, já elegeram Temer pela via indireta, já cassaram a Dilma. Agora precisa concluir a novela. Quem é o bandido e quem é o mocinho? Vamos ao fecho: acabar com a vida política do Lula. Não existe explicação para o espetáculo de pirotecnia feito ontem”, tendo ainda provocado com ironia e desprezo os denunciantes, em tom de supremacia, nestes termos: “Provem uma corrupção minha e eu irei a pé para a delegacia”.
Numa tentativa bufa de defesa, quis impressionar os militantes fanatizados, por meio de construção sem nexo que mais justifica suas trapalhadas, afirmando que “As pessoas achincalham muito a política, mas a profissão mais honesta é a do político, porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir para rua e pedir voto”, como querendo dizer com isso que o político ainda é um mal necessário, obviamente no país tupiniquim, no entender dele.
O petista foi sumamente arrogante quando disse que “Hoje nós vivemos momento no Brasil em que a lógica não é mais do processo. Não é mais os autos. É a manchete. Quem é que nós vamos criminalizar pela manchete. Quem vamos demonizar. Está acontecendo isso desde 2005. O PT é tido como o partido que tem que ser extirpado da história política brasileira”. Essas afirmações estão contaminadas pelo sentimento de má fé e de má intenção, porque muitos criminosos do seio de seu partido foram julgados à luz dos fatos apurados, com base em provas resultantes das suas participações em esquemas criminosos arquitetados dentro de palácios de Brasília, a exemplo do ex-ministro da Casa Civil, dos tesoureiros do partido e de outros acusados formalmente em processo e não fora dele e a denúncia em tela mostra o contrário das absurdas declarações.
Com a finalidade de marcar o ato de puro desespero, mas de muita prepotência, o discurso do petista foi abundantemente carregado com fatos pitorescos de hipocrisia com a cara dele, com ênfase para histórias envolvendo líderes mundiais e passagens de pura melancolia da sua origem paupérrima, mas uma frase foi capaz de superar o extremo da “humildade” do político como a que “Eu tô falando como cidadão indignado, como pai, como avô, como bisavô. Eu tenho uma história pública conhecida. Acho que só ganha de mim aqui no Brasil Jesus Cristo. Pense num cabra conhecido e marcado neste país”.
Ou seja, fica muito difícil “não acreditar” em tanta sinceridade vinda de um homem puro, honesto e cheio de boas intenções, que somente se rende à pureza do Mártir do cristianismo.
Em conclusão, o ex-presidente conclamou os petistas a usarem o símbolo vermelho da legenda, concitando que “Cada petista do país tem que começar a andar de camisa vermelha. Quem não gostar, coloque de outra cor. Esse partido tem que ter orgulho”.
À toda evidência, o discurso do ex-presidente, na vã tentativa de se afastar – não de se defender, porque nada foi feito nesse sentido - das acusações da prática de corrupção, constitui mais uma aberrante peça de extrema demagogia que os petistas adoram ouvir, como se ele fosse capaz de mudar os rumos dos levantamentos sobre os fatos denunciados, que tiveram por base contratos, notas fiscais, testemunhas e outras provas juridicamente válidas, enquanto os argumentos do ex-presidente se limitaram a repudiar as conclusões do Ministério Público, sem apresentar um único documento capaz de refutar as graves denúncias, que são robustas e convincentes, por que baseadas em fatos concretos.
A propósito, salta aos olhos o aluguel do depósito da transportadora Granero, que teve o custo aproximado do valor de R$ 1,3 milhão, suportado, a pedido do Instituto Lula, diretamente pela construtora OAS, como se fossem daquela empresa os bens em nome do ex-presidente, que foram levados por ele por ocasião da sua mudança dos Palácios do Planalto e da Alvorada, por meio da frota composta por muitos caminhões, conforme notícia da mídia.
Especificamente sobre os fatos que pesam sobre os ombros do petista, tidos por irregulares, não houve a devida justificativa, porquanto ele entendeu apenas de estranhar a descortesia do tratamento dispensado pelos procuradores, como forma de transformar o ato da denúncia como atitude de desonra e afronta a ex-presidente da República, dando a entender que ele é inocente, a ponto de se colocar tão somente, em termos de honestidade, logo abaixo de Jesus Cristo, a par de se transformar na maior vítima da história republicana, ensejando que procuradores hão de pedir-lhe perdão pela cruel denúncia, sem provas.
O mais chocante do discurso político foi ver fiéis admiradores o aplaudindo entusiasticamente e a todo instante, acreditando piamente nas afirmações do petista, como a devotar o seu apoio à criatura tão pura, imaculada e, acima de tudo, injustiçada, completamente incapaz de cometer qualquer deslize, muito menos de se aproveitar de benesses espúrias, tão somente em decorrência do seu prestígio e da sua influência política.
A pobreza política do país tupiniquim se materializa quando se verifica que a nação ainda depende de homens públicos extremamente demagogos, hipócritas e populistas, com capacidade de influenciar, com palavras vazias e emotivas, as pessoas facilmente manipuláveis e carentes de reais lideranças que sejam capazes de conduzir os interesses da pátria por meio de atitudes respaldadas nos princípios da sinceridade, moralidade, honestidade, legalidade e dignidade, entre outros em condições de contribuir para o desenvolvimento socioeconômico. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de setembro de 2016

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