sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A degeneração da dignidade humana

Segundo a classe médica da Venezuela, um hospital público da capital do país se equipara a “hospital de guerra”, onde falta tudo e os doentes ainda ficam aguardando, por quase um ano, atendimento médico de urgência, correndo risco de vida ou do comprometimento da recuperação da doença, ficando à mercê da precariedade do atendimento médico-hospitalar, que nem sempre aparece.
A dramaticidade do hospital público de Coche (na capital do país) é notória exemplo do estado falimentar da saúde pública, porque a comunidade é submetida a terrível crise de atendimento médico-hospitalar, a começar pela falta de água três dias por semana, que propicia falta de higiene e assepsia e resultado a inalação de cheiro pútrido por todos, cujas dependências ainda padecem pelo complicado acúmulo de lixo, uma vez que os depósitos permanecem abertos e abarrotados, permitindo a proliferação de muitas moscas, que povoam até os corredores. Um dos três centros cirúrgicos está fechado por causa da contaminação.
Um doente aguardando cirurgia, que se encontra internado em uma sala de teto úmido, disse que “Tenho medo. Não quero mais subir para o centro cirúrgico, porque cada vez volto pior”.
Segundo um médico residente em traumatologia: “Temos pessoas que acabaram sendo amputadas por falta de assepsia nos centros cirúrgicos”.
Há informação de que, no hospital de Coche, os tubos dos respiradores são reutilizados e vários esperam para ser lavados junto de um bisturi elétrico descartável. Há 18 médicos e a demanda é pelo triplo.
A situação de calamidade pública se repete em muitos dos 320 centros médicos públicos do país, que estão mergulhados em uma crise econômica e generalizada escassez, que impedem o atendimento satisfatório à população.
Um médico disse que viu um jovem morrer, contorcendo-se de dor, por causa de um joelho atingido por tiro, porque “Não havia soro, hemoderivados, sangue, nem morfina”, tendo ressaltado que já havia presenciado outras mortes, por falta de insumos básicos e concluiu: “Ajudo a morrer”.
Ele disse que, na emergência do hospital, há apenas cinco soluções endovenosas para o plantão noturno, o necessário para estabilizar um único baleado, quando podem chegar até 20 pacientes no mesmo plantão: “Sinto-me de mãos atadas (…), não posso curar. Alivio e ajudo a morrer”.
Em razão da falta de espaço nos necrotérios, os corpos das pessoas executadas são deixados no hospital, que chega a abrigar até uma dúzia de corpos, embora só tenha espaço para quatro, sendo que “Os corpos às vezes ficam aí 72 horas e explodem. É terrível porque tudo cheira a putrefação. É um hospital de guerra”.
Segundo o Observatório Venezuelano da Saúde, a escassez de material cirúrgico afeta 81% dos serviços hospitalares e a de remédios para os pacientes chega a 76%.
O governo da Venezuela garante que as falhas são pontuais e estão sendo solucionadas e a “revolução” socialista investiu 250 bilhões de dólares em saúde nos últimos treze anos, especialmente em um programa de atenção primária que envia médicos – muitos deles cubanos – às zonas populares.
O médico disse que “Ser médico na Venezuela é um ato de heroísmo”, por receber o equivalente a 60 dólares mensais, que são suficientes para se alimentar duas vezes por dia.
Ele disse que deixará o país, seguindo o exemplo de outros 13 mil médicos, desde a era chavista, que tem sido capaz de causar a degeneração do sistema de saúde do país, na esteira dos demais serviços públicos prestados à população.
À toda evidência, as informações oficiais não condizem com a realidade dos fatos, porquanto a regra é a precariedade da saúde pública daquele país, atestada tanto pelos médicos como pelos doentes, que estão atravessando a fronteira do país, à procura de assistência médico-hospitalar nos países vizinhos, que já estão com os hospitais e as unidades de saúde assoberbados de doentes, diante da procura de socorro pelos venezuelanos.
É inacreditável como o povo da Venezuela não tenha o mínimo de dignidade para, diante da destruição generalizada da nação, repudiar, com veemência, situação tão humilhante, degradante e da maior gravidade como essa dispensada à população, à vista da constatação de que os doentes estão morrendo ou sendo submetidos a tratamentos subumanos, justamente pela falta de estruturas e de recursos materiais, humanos e financeiros, em clara demonstração de verdadeiro abandono do Estado.
É lamentável que o país permaneça sendo comandado por presidente totalmente alienado e despreparado, que conseguiu destruir o país e infernizar seu povo, em nome da desastrosa e horrenda revolução bolivariana, que cada vez mais empurra a população para a ruína, à fome, à miséria, ao sofrimento e, enfim, à morte.
Enquanto a desgraça se abate de forma cruel e impiedosa sobre a população, o governo e seus fanáticos apoiadores nada sofrem em razão da tragédia que somente a atinge, em nome de uma revolução que somente proporciona horrores para o povo e que ainda foi capaz de empurrar a nação para o isolamento do resto do mundo, a miséria, o sofrimento e o subdesenvolvimento socioeconômico.
Os fatos mostram a dimensão da tragédia disseminada na nação venezuelana, de forma generalizada, com as perspectivas cada vez piores de incertezas, porque o governo se mostra absolutamente irremovível quanto à sua incompetência, mostrando total incapacidade para reverter o quadro de completa decadência administrativa e gerencial da cosa pública, tendo atingido o grau máximo possível de tolerância, a ponto de o povo se tornar verdadeiro capacho, totalmente impotente para reclamar seus direitos como ser humano, que não pode ser tratado com absolutos desprezo e humilhação.
Os venezuelanos precisam reagir, com o máximo de suas forças, para acabar de vez com essa situação desesperadora e intolerável, sendo aconselhável a promoção de inevitável contrarrevolução social, no sentido do imediato afastamento do governo ditatorial e do seu bando de sanguessugas e aproveitadores, antes que seja tarde demais e nada possa ser feito para se pensar na imprescindível restauração da dignidade humana. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 09 de dezembro de 2016

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