terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Mentalidades estratificadas

Dias antes do Natal, o papa denunciou, em tom de desabafo, a resistência que ele está enfrentando na reforma das burocracias do Vaticano, dizendo que algumas delas são inspiradas pelo Diabo.
Nessa mesma linha de pensamento, ele também disse que os prelados que trabalham para ele devem passar por “purificação permanente” para melhor servir à Igreja Católica.
Em seu discurso que antecedeu o Natal, o papa ataca, pelo terceiro ano consecutivo, a burocracia do Vaticano, mas desta vez ele parece ter perdido a compostura como líder da Igreja Católica, ao classificar de diabólica a atitude de muitos de seus subordinados.
Em seguida, ele afirmou que a reforma para a qual ele foi eleito (em 2014) não significa a realização de uma plástica superficial para a Santa Sé, mas sim uma mudança profunda na mentalidade dos que dirigem o Vaticano, tendo, na ocasião, exclamado nestes termos: “Caros irmãos, não são as rugas da Igreja que vocês devem temer, mas sim as manchas!”, referindo-se à necessidade da modernização da igreja, que não tem sido possível diante da terrível resistência das mentalidades estratificadas entremuros do Vaticano.
Neste ano, o santo pontífice distribuiu para os padres, bispos e cardeais que trabalham no Vaticano 12 diretrizes que estão inspirando seu processo de reforma, tendo em mira a consolidação de departamentos e a criação de novos no Vaticano, de modo a submetê-lo à indispensável modernização segundo a sua concepção clerical mais consentânea com a igreja atual, viva e atuante no mundo.
O papa deixa claro que vislumbra a premência da modernização do Vaticano, com a utilização de instrumentos atualizados capazes de responder melhor às necessidades da Igreja Católica de hoje, que precisa envolver mais as mulheres nas atividades da instituição, de modo que elas possam participar da tomada de decisões e permitir que o Vaticano seja mais multicultural.
Nas palavras do papa, reside todo sentimento de horror que existe no Vaticano contra as possíveis reformas que ele pretende implantar na Igreja Católica, conquanto as forças antagônicas conspiram abertamente contra o seu desejo de modernização da igreja, que é imperiosa necessidade de longa data, porque ela precisa reconhecer seu alarmante descompasso com a evolução da humanidade, que aconteceu naturalmente com as conquistas científica e tecnológica, por terem vindas certamente para beneficiar a vida do homem, que é a razão da igreja.
Na verdade, o inconformismo do papa vem no momento em que os bitolados e ultrapassados cardeais tramam toda espécie de dificuldades para impedir que a igreja se modernize, evidentemente que não precisa violar nem tão pouco descaracterizar suas filosofias e doutrinas, que são seculares, mas muitas atividades burocráticas e até mesmo orgânicas institucionais precisam passar por atualização imposta pelo desenvolvimento ocorrido no universo, em todas as áreas do conhecimento humano, que também precisa ter reflexo dentro do Vaticano.
A indignação do papa é visível, porque o antagonismo ao seu desejo de mudança produz visível desconforto no seio da igreja, que precisa passar por urgente reformulação, o mínimo que seja, até como experimentação, para possibilitar novos aperfeiçoamentos de procedimentos, que são saudáveis e necessários, em termos da essencialidade das atividades clericais, eucarísticas e pastorais, que não podem mais ficar estagnadas há séculos, quando o mundo passa por natural processo de modernização e de adaptação à realidade dos novos tempos, por que a igreja se trata de importante sistema que precisa, igualmente aos demais, de permanente transformação.
É evidente que o papa tem seus seguidores no Vaticano, mas não o suficiente para suplantar a forte adversidade ali existente, que é coesa e comanda expressiva ala da igreja conservadora, que somente contribui para o retrocesso e a estagnação de instituição que precisa urgentemente acompanhar o progresso que é obra e graça de Deus, visto que Ele é o criador do mundo e o eterno mentor da evolução da sua obra, da humanidade e de tudo que é essencial às relações com o homem e com a Igreja Católica.
          É lamentável que o papa seja obrigado a fazer esse monumental desabafo em momento tão especial, em clara demonstração de sua enorme insatisfação por não conseguir dobrar as mentes retrógradas que estão bastante distanciadas da realidade do mundo de modernidade e de evolução.
O mundo anseia por que o papa consiga reverter as resistências diabólicas dentro do Vaticano, de modo a se permitir que ele possa implantar as saudáveis e frutíferas reformas no seu papado, mediante a reestruturação da Igreja Católica, não somente com a roupagem da modernidade dos tempos atuais, ante a incorporação de toda bagagem que se refere à evolução da humanidade e de inumeráveis conquistas nos campos da ciência e da tecnologia, mas, em especial, na atualização das boas práticas dos ensinamentos verdadeiros cristãos, em especial no tocante à igualdade entre homens e mulheres, que podem e devem exercer, em conjunto, funções importantes na igreja, com a finalidade de pacificar, unificar e atrair muito mais seguidores para bem junto do altar de Jesus Cristo.
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 27 de dezembro de 2016

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