segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Revanchismo e intimidação

Encontra-se em pauta no Senado Federal, para aprovação ainda esta semana, o projeto de lei que trata do abuso de autoridade, de iniciativa do presidente afastado desse órgão, cujo cerne, em especial, é exatamente cercear as investigações de incumbência da Operação Lava-Jato, que tem sido o calcanhar de Aquiles do senador alagoano, que já é réu e investigado em onde processos no Supremo Tribunal Federal, por suspeita de seu envolvimento no esquema de corrupção do petrolão, ante a acusação de desvio de recursos da Petrobras.
À vista da nítida finalidade revanchista visada no referido projeto, alguns senadores, com espírito moderador e pacifista, houve por bem apresentar proposta alternativa sobre o abuso de autoridade, que tem por objetivo tão somente a normalização jurídico do assunto, com a diferença de que o princípio da lei não prejudica o sistema de investigação de incumbência do Estado, por não interferir na independência e autonomia dos investigadores, nem implicaria em punição e multa pecuniária para policiais, procuradores e juízes, em dissonância com o projeto do senador alagoano.
Segundo um senador autor da nova proposta, este não é o momento para debater esse assunto, mas é imperioso que haja reação contra o devastador projeto de autoria do presidente do Senado, porque o texto dele tem o objetivo claro de atrapalhar os avanços das investigações da Operação Lava-Jato, que somente contra o senador alagoano já foram levantados onze casos de desvio de recursos por ele.
Ele discorda da urgência da discussão do projeto em apreço, ao afirmar: “Por que discutir isso agora, no momento em que o país faz uma ofensiva ao combate à corrupção? Isso é um contrassenso. Não há dúvidas de que o objetivo do projeto é intimidar o trabalho do Ministério Público e da magistratura”.
No entendimento do senador, o projeto substitutivo poderá garantir liberdade aos procuradores e juízes para continuar normalmente as investigações da sua incumbência, evidentemente sem intimidação ou ameaça de retaliação aos trabalhos institucionais do Estado, em benefício da tão ansiada moralização da administração pública.
O texto substitutivo traz importante novidade, ao inserir no projeto a tipificação do crime popularmente conhecido por “carteirada”, que se caracteriza quando o agente público usa o poder do cargo que ocupa para tentar conseguir alguma vantagem ilegal ou indevida.
O projeto substitutivo foi apresentado no mesmo dia em que o juiz federal de Curitiba, responsável pela Operação Lava-Jato, esteve no Senado para participar do debate acerca da Lei de Abuso de Autoridade, tendo formulado críticas e sugestões ao aperfeiçoamento do projeto em apreço.
Na ocasião, o juiz foi incisivo ao ponderar que a aprovação do projeto em referência, neste momento, poderia passar a impressão, para a sociedade, de que a classe política pretende “tolher as investigações”.
Não há a menor dúvida de que as medidas de iniciativa tanto da Câmara como do Senado têm o deliberado propósito de intimidar e estancar, não somente com ameaça, mas com medidas efetivas, os importantes trabalhos de investigação da Operação Lava-Jato, onde muitos parlamentares fazem parte como envolvidos em casos de corrupção, o que equivale dizer que eles têm potencial interesse em dificultar as investigações pertinentes.
Trata-se de iniciativas parlamentares de cunho extremamente indecente, por contrariar o interesse público, que os congressistas têm o dever de defender, porque foram eleitos justamente para isso.
À toda evidência, somente interessa ao presidente afastado do Senado e aos senadores que apoiam esse absurdo projeto de intimidação que ele seja aprovado, por ficar  demonstrado, com muita nitidez, que se trata de medida com o exclusivo propósito de retaliação por conta das investigações contra eles, cuja medida tem a finalidade de satisfazer o sentimento egoísta e revanchista de alguns parlamentares que estão sendo investigados pela Operação Lava-Jato, por conta do que há o esforço e a dedicação ao máximo para a aprovação de normas que possam dificultar o bom desempenho da força-tarefa dessa operação.
Urge que os brasileiros continuem mobilizados em torno do permanente repúdio às medidas que visem intimidar e cercear a desenvoltura das investigações indispensáveis à busca da verdade sobre os envolvidos no esquema criminoso do petrolão, que tem a potencial participação dos congressistas que estão se empenhando para a aprovação de normas de retaliação aos investigadores da Operação Lava-Jato, como forma de não prejudicar as condenáveis práticas de corrupção e de consolidar a impunidade. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 05 de dezembro de 2016

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