quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Os abutres das secas

Segundo levantamentos realizados no sertão nordestino, a região convive com uma das piores secas da sua história, à vista da estiagem que já perdura por mais de cinco anos, em que pesem as chuvas terem caído na região, porém em quantidade bastante reduzida, insuficiente para acumular água necessária à transposição do período não chuvoso, que se agrava ainda diante do castigo proveniente do sol estridente, que ajuda à evaporação da água e à sua rápida diminuição.
A insuficiência das chuvas, nos últimos cinco anos, vem castigando a região nordestina, com destaque para o Estado da Paraíba, que foi afetado pela pouca chuva e a consequência é bastante sentida agora, com a falta de água para o consumo das pessoas e dos animais, além da irrigação das plantas, cuja escassez vem causando a maior preocupação ao povo nordestino, que não tem a quem recorrer, ante a calamidade que bate às suas portas, sem ter alternativa.
Nos maiores açudes da Paraíba, os reservatórios de água não chegam sequer a 5% da sua capacidade, enquanto os açudes menores estão todos secos, totalmente sem o precioso líquido e isso marca dramática época que não se via há mais de 60 anos, quando a seca deixou a região totalmente dizimada.
A imagem viva da calamidade que se abate na região do Nordeste é vista no açude do Boqueirão, na Paraíba, cuja capacidade pode atingir apenas 5%, fato que significa a perda de volume, desde as fortes chuvas de 2011, de mais de 20 metros de profundidade, mostrando que a crise é realmente devastadora.
Segundo um técnico agrícola, a represa vem baixando de forma progressiva, em razão do sol mais quente e da ventania, havendo a perda de volume de dois centímetros por dia. Em 60 anos de existência, é a primeira vez que o açude atinge essa capacidade perigosa, porque suas águas são responsáveis pelo abastecimento das cidades da redondeza, que ainda são obrigadas ao recebimento de péssima qualidade do produto, em razão da toxidade das águas, devido à pouca quantidade.
A principal cidade abastecida pelas águas do açude do Boqueirão é Campina Grande, na PB, que tem cerca de 400 mil habitantes, além de outros 18 municípios da região, que correm o risco de colapso total, embora todos já estão em processo de racionamento de água.
O que se verifica é a premência do desespero da população do Nordeste, que pressente o fim do abastecimento de água e não pode fazer absolutamente nada, uma vez que não há a menor possibilidade da garantia de água, porque inexiste alternativa capaz de assegurar o abastecimento para tanta gente, porque não tem de onde tirar.
Isso demonstra extrema irresponsabilidade por parte dos governantes, que já deveriam ter planos preventivos como medida alternativa para o abastecimento de água à população, por meio da canalização de água dessanilizada do mar, como opção emergencial capaz de salvar vidas humanas e de animais, mas, ao que tudo, não existe qualquer iniciativa para a salvação dos nordestinos.
          A reportagem não disse a verdadeira causa dessa tragédia, se ela tem algo a ver com o descaso dos governantes e dos políticos inescrupulosos, que apenas alimentam a cultura das secas, com suas políticas de cunho visivelmente paliativos, que somente procuram acudir situações momentâneas, pontuais, casuais e emergenciais, como forma de anunciar que está providenciando a parte que incumbe ao governo.
         Caso típico acaba de ocorrer na região, quando o presidente do país, com cara de bom samaritano e de anjo salvador dos nordestinos, vai até Alagoas, para entregar montanha de dinheiro aos tubarões das secas, para irrigar seus bolsos ávidos de abastecimentos com recursos públicos, enquanto a miséria da seca continua a todo vapor até a próxima emergência.
Na verdade, o que existe mesmo é vergonhosa falta de interesse para resolver as questões no seu âmago, por exigir, para tanto, vontade política e profundos estudos sobre as verdadeiras causas da destruição da região, com destaque para o ecossistema, que foi degradado para atender à ânsia e à ganância do lucro e do poder econômico, que simplesmente devassa e degenera tudo e não assume nenhuma responsabilidade, com vistas à restauração dos estragos deixados nas regiões afetadas, que ficam prejudicadas para sempre, sendo abrigadas a pagar o preço altíssimo da insanidade humana, que apenas enxerga o lucro fácil e o oportunismo de ganho.
 Os terríveis sofrimento e sacrifício dos sertanejos devem ser atribuídos à omissão e à irresponsabilidade dos governantes, que estão sempre ausentes, entre outras atribuições, quanto ao seu poder de controle e fiscalização sobre as riquezas naturais do país, que estão progressivamente sendo dizimadas e largadas à própria sorte, cujos resultados são traduzidos pela destruição e impossibilidade de reconstrução dos meios indispensáveis à sobrevivência do homem do sertão.
Os brasileiros precisam se conscientizar de que somente forte mobilização social, com o foco para a calamidade das secas, será capaz de sensibilizar os governantes sobre a urgente necessidade de se cuidar dos nordestinos, no sentido de que as secas não sejam cuidadas por meio de meras medidas paliativas, mediante a generosa distribuição de substanciais somas de recursos, mas de estudos capazes de levantar os problemas na sua entranha, com vistas à adoção de medidas mesmo que sejam simples, mas que possam efetivamente solucionar os graves problemas da região, sem que tenha a participação dos abutres das secas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 28 de dezembro de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário