Segundo
levantamentos realizados no sertão nordestino, a região convive com uma das
piores secas da sua história, à vista da estiagem que já perdura por mais de
cinco anos, em que pesem as chuvas terem caído na região, porém em quantidade
bastante reduzida, insuficiente para acumular água necessária à transposição do
período não chuvoso, que se agrava ainda diante do castigo proveniente do sol
estridente, que ajuda à evaporação da água e à sua rápida diminuição.
A
insuficiência das chuvas, nos últimos cinco anos, vem castigando a região nordestina,
com destaque para o Estado da Paraíba, que foi afetado pela pouca chuva e a
consequência é bastante sentida agora, com a falta de água para o consumo das
pessoas e dos animais, além da irrigação das plantas, cuja escassez vem
causando a maior preocupação ao povo nordestino, que não tem a quem recorrer,
ante a calamidade que bate às suas portas, sem ter alternativa.
Nos
maiores açudes da Paraíba, os reservatórios de água não chegam sequer a 5% da
sua capacidade, enquanto os açudes menores estão todos secos, totalmente sem o
precioso líquido e isso marca dramática época que não se via há mais de 60
anos, quando a seca deixou a região totalmente dizimada.
A
imagem viva da calamidade que se abate na região do Nordeste é vista no açude
do Boqueirão, na Paraíba, cuja capacidade pode atingir apenas 5%, fato que
significa a perda de volume, desde as fortes chuvas de 2011, de mais de 20
metros de profundidade, mostrando que a crise é realmente devastadora.
Segundo
um técnico agrícola, a represa vem baixando de forma progressiva, em razão do sol
mais quente e da ventania, havendo a perda de volume de dois centímetros por
dia. Em 60 anos de existência, é a primeira vez que o açude atinge essa
capacidade perigosa, porque suas águas são responsáveis pelo abastecimento das
cidades da redondeza, que ainda são obrigadas ao recebimento de péssima
qualidade do produto, em razão da toxidade das águas, devido à pouca quantidade.
A
principal cidade abastecida pelas águas do açude do Boqueirão é Campina Grande,
na PB, que tem cerca de 400 mil habitantes, além de outros 18 municípios da
região, que correm o risco de colapso total, embora todos já estão em processo
de racionamento de água.
O
que se verifica é a premência do desespero da população do Nordeste, que
pressente o fim do abastecimento de água e não pode fazer absolutamente nada,
uma vez que não há a menor possibilidade da garantia de água, porque inexiste
alternativa capaz de assegurar o abastecimento para tanta gente, porque não tem
de onde tirar.
Isso
demonstra extrema irresponsabilidade por parte dos governantes, que já deveriam
ter planos preventivos como medida alternativa para o abastecimento de água à
população, por meio da canalização de água dessanilizada do mar, como opção
emergencial capaz de salvar vidas humanas e de animais, mas, ao que tudo, não
existe qualquer iniciativa para a salvação dos nordestinos.
A
reportagem não disse a verdadeira causa dessa tragédia, se ela tem algo a ver
com o descaso dos governantes e dos políticos inescrupulosos, que apenas
alimentam a cultura das secas, com suas políticas de cunho visivelmente
paliativos, que somente procuram acudir situações momentâneas, pontuais,
casuais e emergenciais, como forma de anunciar que está providenciando a parte
que incumbe ao governo.
Caso típico acaba de ocorrer na região, quando o presidente
do país, com cara de bom samaritano e de anjo salvador dos nordestinos, vai até
Alagoas, para entregar montanha de dinheiro aos tubarões das secas, para
irrigar seus bolsos ávidos de abastecimentos com recursos públicos, enquanto a
miséria da seca continua a todo vapor até a próxima emergência.
Na
verdade, o que existe mesmo é vergonhosa falta de interesse para resolver as
questões no seu âmago, por exigir, para tanto, vontade política e profundos
estudos sobre as verdadeiras causas da destruição da região, com destaque para o
ecossistema, que foi degradado para atender à ânsia e à ganância do lucro e do
poder econômico, que simplesmente devassa e degenera tudo e não assume nenhuma
responsabilidade, com vistas à restauração dos estragos deixados nas regiões
afetadas, que ficam prejudicadas para sempre, sendo abrigadas a pagar o preço
altíssimo da insanidade humana, que apenas enxerga o lucro fácil e o oportunismo
de ganho.
Os terríveis sofrimento e sacrifício dos
sertanejos devem ser atribuídos à omissão e à irresponsabilidade dos
governantes, que estão sempre ausentes, entre outras atribuições, quanto ao seu
poder de controle e fiscalização sobre as riquezas naturais do país, que estão
progressivamente sendo dizimadas e largadas à própria sorte, cujos resultados
são traduzidos pela destruição e impossibilidade de reconstrução dos meios
indispensáveis à sobrevivência do homem do sertão.
Os
brasileiros precisam se conscientizar de que somente forte mobilização social, com
o foco para a calamidade das secas, será capaz de sensibilizar os governantes
sobre a urgente necessidade de se cuidar dos nordestinos, no sentido de que as
secas não sejam cuidadas por meio de meras medidas paliativas, mediante a generosa
distribuição de substanciais somas de recursos, mas de estudos capazes de
levantar os problemas na sua entranha, com vistas à adoção de medidas mesmo que
sejam simples, mas que possam efetivamente solucionar os graves problemas da
região, sem que tenha a participação dos abutres das secas. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 28 de dezembro de 2016
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