sábado, 10 de dezembro de 2016

A um passo de herói nacional

Com certeza, o juiz responsável pela Operação Lava-Jato deverá ser lembrado, no futuro, como o magistrado que foi capaz de mudar a história brasileira, por ter conseguido quebrar o paradigma de impunidade que havia antes do início de seu trabalho à frente daquela operação, quando políticos corruptos e empreiteiras corruptoras praticamente zombavam da Justiça, porque nada acontecia com eles, que estavam sempre protegidos pelo poderoso manto da impunidade.
Bastou apenas pouco mais de dois anos e oito meses do começo das investigações para que o magistrado condenasse à prisão ou à devolução de dinheiro desviado de cofres públicos 93 pessoas poderosas, incluindo ex-ministros, ex-deputados, ex-tesoureiros e até importantes empresários e executivos, o que já lhe valeu a escolha pela ISTOE, por mérito, de brasileiro do ano na Justiça.
Em consonância com sua modéstia, o juiz da Lava-Jato não aceita a sua comparação ao super-herói, por entender que o trabalho vem sendo realizado em grupo e o mérito deve ser distribuído entre todos integrantes da força-tarefa. Ele disse que “Há um trabalho institucional e não um êxito pessoal”.
A Operação Lava-Jato já produziu levantamentos suficientes para a abertura de 37 ações penais e contabilizou a transformação de 179 pessoas em réu, inclusive o ex-presidente da República petista.
É curioso que, quando foi deflagrada a Lava-Jato, no final de 2013, com a autorização para escutas em telefones de doleiros, o juiz de Curitiba apenas objetivava a desarticulação de grupo de doleiros que operavam câmbio negro do dólar.
Ele disse que, “No início, não havia a menor condição de prever o gigantismo das revelações que seriam alcançadas”, mas, com a prisão de um doleiro, a sua delação abriu caminho para o deslanchar das investigações que deram vida e dinamismo às atividades gigantescas representadas pela importante Operação Lava-Jato.
O resultado do trabalho da Lava-Jato contribuiu para que o juiz passasse a ser respeitado não somente pelos brasileiros, mas por magistrados e profissionais do mundo jurídico, inclusive os advogados dos réus que ele condena.
Na opinião do juiz, a Lava-Jato tem o condão de mostrar que “Impunidade e corrupção sistêmica são irmãs e caminham juntas. Mas a Justiça, como a democracia, é uma construção do dia a dia. Não há futuro assegurado, mas há razões para crer que houve uma melhora da qualidade de nossa democracia, considerando que ela pressupõe que ninguém está acima da lei”.
Embora o juiz da Lava-Jato seja aplaudido por seu excelente trabalho, ele descarta peremptoriamente ser candidato à Presidência da República, como tem sido o desejo de brasileiros, por enxergarem nele pessoa que transmite confiança e respeito à dignidade ao trato da coisa pública. Ele disse, em resposta à pergunta se seria a candidato a presidente do país, que “Não, jamais. Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política”.
Em que pesem as contestações por parte dos corruptos e dos simpatizantes à corrupção, a Operação Lava-Jato, ao completar três anos, em março do próximo ano, deve ter vida longa, que pensa assim o próprio responsável por seus trabalhos, principalmente depois da turbulência política que deverá ser desencadeada pela delação do ex-presidente da Odebrecht, que promete denunciar “plêiade” de políticos corruptos.
O juiz da Lava-Jato disse que “É difícil prever o término, pois podem surgir provas e fatos novos (com a delação da Odebrecht) e não se pode simplesmente varrê-los para debaixo do tapete”.
O juiz da Lava-Jato ainda não pode ser herói nacional, mas o seu trabalho certamente ultrapassa ano-luz de distância a atuação, em geral, do que vinha sendo realizado pelo Poder Judiciário, que sempre teve a fama de ser instituição emperrada e atrasada no cumprimento da sua incumbência institucional.
Não há a menor dúvida de que o seu desempenho é excepcionalmente destacado pelos excelentes resultados conseguidos até o momento, levando-se em conta o tanto de condenações de prisão de importantes políticos, executivos e empresários, que jamais imaginariam que esse fato extraordinário pudesse acontecer contra eles, haja vista a banalização das irregularidades e impunidades, que passavam ao largo da Justiça.
A partir da atuação do juiz de Curitiba, quando foi implantada nova sistemática de investigação, com eficiência e amplitude sobre os fatos denunciados, envolvendo principalmente os esquemas criminosos da Petrobras, os resultados alarmantes passaram a aparecer um atrás do outro e se poder contabilizar o alastramento de estrondosa corrupção que simplesmente havia tomado conta da administração pública, que a estava asfixiando em razão de tanta roubalheira, tendo por estratagema ambições políticas de extrema apoderação da coisa pública, dominação das classes política e social e perenidade no poder, tudo isso sob o emprego de mecanismos espúrios que tinham por objetivo beneficiar pequeno grupo organizado sob a ideologia decadente e egoísta, em prejuízo dos legítimos interesses nacionais.
É evidente que os brasileiros têm enorme preito de gratidão ao bravo juiz da Lava-Jato, que tem se dedicado ao máximo para trilhar os caminhos íngremes que estão levando à tão perseguida verdade, em que pesem os gigantescos percalços opostos ao seu trabalho, notadamente vindos por parte de poderosos políticos, que jamais imaginavam ser importunados com tantos obstinação e amor ao ofício da magistratura, que até então não se acreditava que ela seria capaz de alcançar resultados tão auspiciosos e maravilhosos contra os corruptos.
O juiz da Lava-Jato ainda não pode ser elevado ao pedestal imortalizado de herói nacional, mas certamente o final do seu magnifico trabalho o levará a ser aplaudido como o brasileiro que soube, como poucos patriotas, sintetizar o verdadeiro sentimento de brasilidade, por ter dado o exemplo de dignidade e de amor ao seu importante ofício, demonstrando que o destino de uma nação pode ser sim mudado com esforço, devotamento e dedicação em prol das causas nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 10 de dezembro de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário