Com
certeza, o juiz responsável pela Operação Lava-Jato deverá ser lembrado, no
futuro, como o magistrado que foi capaz de mudar a história brasileira, por ter
conseguido quebrar o paradigma de impunidade que havia antes do início de seu
trabalho à frente daquela operação, quando políticos corruptos e empreiteiras
corruptoras praticamente zombavam da Justiça, porque nada acontecia com eles,
que estavam sempre protegidos pelo poderoso manto da impunidade.
Bastou
apenas pouco mais de dois anos e oito meses do começo das investigações para que
o magistrado condenasse à prisão ou à devolução de dinheiro desviado de cofres
públicos 93 pessoas poderosas, incluindo ex-ministros, ex-deputados, ex-tesoureiros
e até importantes empresários e executivos, o que já lhe valeu a escolha pela
ISTOE, por mérito, de brasileiro do ano na Justiça.
Em
consonância com sua modéstia, o juiz da Lava-Jato não aceita a sua comparação ao
super-herói, por entender que o trabalho vem sendo realizado em grupo e o
mérito deve ser distribuído entre todos integrantes da força-tarefa. Ele disse
que “Há um trabalho institucional e não
um êxito pessoal”.
A
Operação Lava-Jato já produziu levantamentos suficientes para a abertura de 37
ações penais e contabilizou a transformação de 179 pessoas em réu, inclusive o
ex-presidente da República petista.
É
curioso que, quando foi deflagrada a Lava-Jato, no final de 2013, com a autorização
para escutas em telefones de doleiros, o juiz de Curitiba apenas objetivava a desarticulação
de grupo de doleiros que operavam câmbio negro do dólar.
Ele
disse que, “No início, não havia a menor
condição de prever o gigantismo das revelações que seriam alcançadas”, mas,
com a prisão de um doleiro, a sua delação abriu caminho para o deslanchar das
investigações que deram vida e dinamismo às atividades gigantescas representadas
pela importante Operação Lava-Jato.
O
resultado do trabalho da Lava-Jato contribuiu para que o juiz passasse a ser respeitado
não somente pelos brasileiros, mas por magistrados e profissionais do mundo
jurídico, inclusive os advogados dos réus que ele condena.
Na
opinião do juiz, a Lava-Jato tem o condão de mostrar que “Impunidade e corrupção sistêmica são irmãs e caminham juntas. Mas a
Justiça, como a democracia, é uma construção do dia a dia. Não há futuro
assegurado, mas há razões para crer que houve uma melhora da qualidade de nossa
democracia, considerando que ela pressupõe que ninguém está acima da lei”.
Embora
o juiz da Lava-Jato seja aplaudido por seu excelente trabalho, ele descarta
peremptoriamente ser candidato à Presidência da República, como tem sido o
desejo de brasileiros, por enxergarem nele pessoa que transmite confiança e
respeito à dignidade ao trato da coisa pública. Ele disse, em resposta à
pergunta se seria a candidato a presidente do país, que “Não, jamais. Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou
um homem da política”.
Em
que pesem as contestações por parte dos corruptos e dos simpatizantes à
corrupção, a Operação Lava-Jato, ao completar três anos, em março do próximo ano,
deve ter vida longa, que pensa assim o próprio responsável por seus trabalhos,
principalmente depois da turbulência política que deverá ser desencadeada pela delação
do ex-presidente da Odebrecht, que promete denunciar “plêiade” de políticos
corruptos.
O
juiz da Lava-Jato disse que “É difícil
prever o término, pois podem surgir provas e fatos novos (com a delação da
Odebrecht) e não se pode simplesmente
varrê-los para debaixo do tapete”.
O
juiz da Lava-Jato ainda não pode ser herói nacional, mas o seu trabalho
certamente ultrapassa ano-luz de distância a atuação, em geral, do que vinha
sendo realizado pelo Poder Judiciário, que sempre teve a fama de ser
instituição emperrada e atrasada no cumprimento da sua incumbência
institucional.
Não
há a menor dúvida de que o seu desempenho é excepcionalmente destacado pelos
excelentes resultados conseguidos até o momento, levando-se em conta o tanto de
condenações de prisão de importantes políticos, executivos e empresários, que
jamais imaginariam que esse fato extraordinário pudesse acontecer contra eles,
haja vista a banalização das irregularidades e impunidades, que passavam ao
largo da Justiça.
A
partir da atuação do juiz de Curitiba, quando foi implantada nova sistemática
de investigação, com eficiência e amplitude sobre os fatos denunciados,
envolvendo principalmente os esquemas criminosos da Petrobras, os resultados
alarmantes passaram a aparecer um atrás do outro e se poder contabilizar o
alastramento de estrondosa corrupção que simplesmente havia tomado conta da
administração pública, que a estava asfixiando em razão de tanta roubalheira,
tendo por estratagema ambições políticas de extrema apoderação da coisa
pública, dominação das classes política e social e perenidade no poder, tudo
isso sob o emprego de mecanismos espúrios que tinham por objetivo beneficiar
pequeno grupo organizado sob a ideologia decadente e egoísta, em prejuízo dos legítimos
interesses nacionais.
É
evidente que os brasileiros têm enorme preito de gratidão ao bravo juiz da
Lava-Jato, que tem se dedicado ao máximo para trilhar os caminhos íngremes que
estão levando à tão perseguida verdade, em que pesem os gigantescos percalços
opostos ao seu trabalho, notadamente vindos por parte de poderosos políticos,
que jamais imaginavam ser importunados com tantos obstinação e amor ao ofício
da magistratura, que até então não se acreditava que ela seria capaz de alcançar
resultados tão auspiciosos e maravilhosos contra os corruptos.
O
juiz da Lava-Jato ainda não pode ser elevado ao pedestal imortalizado de herói
nacional, mas certamente o final do seu magnifico trabalho o levará a ser
aplaudido como o brasileiro que soube, como poucos patriotas, sintetizar o
verdadeiro sentimento de brasilidade, por ter dado o exemplo de dignidade e de
amor ao seu importante ofício, demonstrando que o destino de uma nação pode ser
sim mudado com esforço, devotamento e dedicação em prol das causas nacionais. Acorda,
Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 10 de dezembro de 2016
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