terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Calamidade humanitária

Conforme reportagem publicada no jornal The Guardian, mulheres da Venezuela, diante do desespero pela falta de dinheiro para comprar produtos de primeira necessidade, estão indo à fronteira com a Colômbia para vender seus cabelos.
Essa é uma atividade que vem crescendo nas últimas semanas, se tornando mais uma fonte de renda para quem vive no país afundado em gravíssimas crises de toda ordem, em especial econômica, diante do generalizado desabastecimento de produtos, alimentos, remédios etc.
Segundo o citado jornal, dezenas de interessados vão até a ponte que liga a cidade de San Antonio del Táchira, na Venezuela, com a colombiana Villa del Rosario, e ficam gritando que “compram cabelo”. Há pelo menos sete pontos de “coleta” e cerca de duzentas mulheres que aceitam a oferta diariamente. As mechas são vendidas como extensões para cabelo no país vizinho.
Uma mediadora, que faz cortes e vendas, explica que a maioria das clientes “chega com crianças e, em seguida, sai para comprar comida. Posso tirar volume, cortar mechas aqui e ali ou fazer um rabo de cavalo e cortar todo o cabelo”. Segundo ela, algumas demonstram insatisfação diante do novo visual, mas terminam aceitando a situação, por absoluta necessidade financeira.
De acordo com o referido jornal, uma senhora de 45 anos ficou uma hora na fila para vender seu cabelo, pelo preço de 60.000 pesos colombianos, cujo valor se equivale a R$ 67,00 reais, no câmbio negro, quantia semelhante ao salário mínimo mensal na Venezuela.
A mencionada senhora disse que “Sofro de artrite e preciso comprar remédios. Não é muito, mas pelo menos adquiro medicamentos para dor”.
Como é notório, as graves crises econômica e política no país estão dificultando o acesso a mantimentos básicos, como alimentos, produtos de higiene e remédios. Mesmo nas datas de compra organizadas pelo governo, nem sempre há estoque suficiente para que todos possam fazer compras. Em meios não oficiais, um pacote de arroz pode custar até um décimo do salário médio do mês.
Isso é o que se pode denominar de degradação humana, onde a pessoa se obriga a vender parte do corpo para prover o seu sustento ou a amenizar a sua dor, mediante a compra de alimentos e remédios.
Enquanto a população passa por situação aviltante e vexaminosa, a cúpula do governo convive normalmente no seu conforto, nos palácios sempre muito bem abastecidos do bom e do melhor, em nome da famigerada revolução bolivariana, que é o retrato fiel da degeneração e da destruição da Venezuela, país que convive com a miséria, a violência, a corrupção e sobretudo a privação dos direitos humanos e dos princípios democráticos.
          Esse quadro de terrível dificuldade atinge impiedosamente vários segmentos da sociedade venezuelana, que são atormentados pela escassez de gêneros alimentícios, produtos de primeira necessidade, inclusive remédios e outros produtos essenciais à sobrevivência, fato que já vem causando convulsão social.
Diante das trágicas crises moral, política, econômica, administrativa, entre outras, com destaque para a galopante inflação, que poderá ultrapassar os 450% a.a., as dificuldades da população tenderão a piorar em escala ainda mais crescente e preocupante, ante a visível falta de perspectivas em curto prazo, à vista da gigantesca incompetência do mandatário do país e de seus assessores, que culpam, como justificativa para os graves problemas, as forças contrárias ao governo, como a oposição e os empresários, que boicotam as políticas públicas e promovem as piores dificuldades em contraposição às iniciativas governamentais e ao desempenho da economia do país.
Custa acreditar que um país com potencial petrolífero como a Venezuela, o quarto em reservas do mundo, esteja passando por situação tão aflitiva e degradante como essa de se permitir que seu povo chegue a esse ponto de extrema aviltamento de precisar vender cabelos para puder adquirir algo indispensável à sobrevivência, sem que o governo seja capaz de se sensibilizar para terrível situação como essa, em cristalina demonstração de desprezo aos princípios humanitários.
Diante desse quadro de indiscutível calamidade humanitária, impõe-se que as entidades e os organismos internacionais de direitos e de defesa da dignidade do ser humano se empenhem no sentido de repudiar, com veemência, a forma desumana pela qual os venezuelanos estão sendo tratados e de exigir o máximo de respeito à dignidade que as pessoas têm direito. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 13 de dezembro de 2016

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