quinta-feira, 9 de março de 2017

Uso indevido do Parlamento

Segundo foi apurado pela Revista Congresso em Foco, mais de 40% dos senadores estão sob investigação no Supremo Tribunal Federal, uma vez que, dos 81 integrantes do Senado Federal, mais de 30 respondem a inquéritos ou ações penais na mais alta corte do país.
As suspeitas de delito são configuradas desde crimes de corrupção, fraudes contra as Leis de Licitações e eleitorais, até atos de menor gravidade delituosa, como os chamados crimes de opinião.
          Entre os investigados, mais de 10 senadores são alvos da Operação Lava-Jato, com destaque para importantes caciques PMDB.
Muitos senadores respondem a ações penais, normalmente pela prática de calúnia e crime eleitoral e ainda há ações por peculato, improbidade administrativa, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, crimes contra o meio ambiente, contra o sistema financeiro e contra a Lei de Licitações.
No Estado Democrático de Direito, em princípio, ser investigado ou mesmo responder a processo não significa qualquer problema para os parlamentares, porque, enfim, todo cidadão é considerado inocente até que se prove em contrário.
No ritual de julgamento a cargo do Supremo, a formalização de culpa ou de inocência se submete a dois procedimentos básicos, começando pelo inquérito, que é a etapa pré-processual para averiguar reais indícios da prática criminosa e, depois, no caso de serem encontrados elementos consistentes quanto à pratica de crime, a Procuradoria Geral da República apresenta denúncia ao Supremo, que, se aceita, o parlamentar passa à condição de réu em ação penal, estando apto ao crivo da Corte, por meio do julgamento do crime.
Agora, chega a ser intrigante a demora para o Supremo julgar os casos sob a sua jurisdição, exemplo de um processo envolvendo um senador alagoano, que foi denunciado em janeiro de 2013, mas até agora não houve julgamento, em que pese ele ter sido acusado da prática de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso no Inquérito 2593, que apura crimes atribuídos a ele em 2007, ou seja, há dez anos, quando ele teve que renunciar à presidência do Senado, em meio a uma série de acusações. Atualmente, ele é investigado em outros onze inquéritos, inclusive com origem na Operação Lava-Jato, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
No referido processo, a PGR sustenta que o senador enriqueceu de forma ilícita, forjou documentos para comprovar que tinha recursos para bancar despesas pessoais e teve evolução patrimonial incompatível com o cargo.
A Revista Congresso em Foco mostrou que, dos mais de 500 parlamentares investigados pelo Supremo, desde 1988, somente 16 foram condenados por aquela Corte, sendo que, desses, metade escapou da punição ou tenta revertê-la, e quase 25% dos casos envolvendo parlamentares foram simplesmente arquivados pelo tribunal, nos últimos anos, pasmem, por prescrição da pena, exatamente porque a ação não chegou a ser julgada, o que demonstra o tamanho da omissão e da irresponsabilidade dos ministros, que não conseguem cumprir os preceitos constitucionais de julgar os casos sob a sua jurisdição.
          É inacreditável que parte expressiva dos homens públicos, que, em princípio, são considerados lídimos representantes do povo, seja modelo de delinquência e de envolvimento com atos ilegítimos, em dissonância com os princípios da ética, da moralidade, do decoro, da dignidade, entre outros ínsitos das atividades próprias da vida pública, em completa desarmonia com os requisitos de equilíbrio e responsabilidade cidadã que se exigem deles, como dignos delegados do povo, de conduta e honestidade acima de quaisquer suspeitas.
Os fatos em referência, com evidência de falta de decoro, mostram que os brasileiros precisam se conscientizar, com o máximo de urgência, de que a dignidade e a moralidade do Parlamento dependem muito de suas vontade e decisão de somente eleger, para representá-los, pessoas realmente com firmeza de caráter e comprometidas com a exclusiva defesa do interesse público, com embargo dos políticos que têm sempre os mesmos propósitos de muito prometer e nada realizar de efetivo em benefício do povo e ainda de utilizar o Parlamento como biombo para se proteger de suas falcatruas. Acorda, Brasil!
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES

          Brasília, em 10 de março de 2017

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