sábado, 4 de março de 2017

O pior da intelectualidade

        Segundo o Estadão, um manifesto assinado por 424 pessoas, figurando entre elas artistas e intelectuais simpatizantes do petismo, defenderam a candidatura do ex-presidente da República petista ao Palácio do Planalto, tendo anunciado que eles vão lançar na proximamente plataforma online para coletar assinaturas de internautas ao documento.
Em síntese, a denominada "Carta das (os) brasileiras (os)" pede ao ex-presidente que considere a possibilidade de se colocar "desde já" à disposição para a sua candidatura presidencial, em 2018, sob o argumento de que "É o compromisso com o Estado Democrático de Direito, com a defesa da soberania brasileira e de todos os direitos já conquistados pelo povo desse País, que nos faz, através desse documento, solicitar ao ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva que considere a possibilidade de, desde já, lançar a sua candidatura à Presidência da República no próximo ano, como forma de garantir ao povo brasileiro a dignidade, o orgulho e a autonomia que perderam".
O manifesto tem a assinatura de teólogo, músico, ex-ministros do governo afastado, líderes, representantes de movimentos sociais, como o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sindicalistas, além de professores universitários e profissionais liberais.
O manifesto diz que o Brasil "precisa de Lula", como forma possível de se avançar na inclusão social, assegurar a soberania sobre o pré-sal e o território nacional, fazer com que o Brasil volte "a ter um papel ativo no cenário internacional" e a "distribuir com todos os brasileiros aquilo que os brasileiros produzem".
O manifesto em apreço se tornou objeto de discussão na rede social Twitter no Brasil, quando uma apresentadora da Rádio Jovem Pan fez crítica contra ele, tendo merecida rápida adesão de usuários, que atribuíram à intempestiva campanha forma de "homenagem ao réu candidato e aos intelectuais que o apoiam". 
As pessoas de pouca inteligência, ao contrário do grandioso entendimento dos intelectuais, têm astronômica dificuldade para compreender a afirmação tão pacífica de que "... lançar a sua candidatura à Presidência da República no próximo ano, como forma de garantir ao povo brasileiro a dignidade, o orgulho e a autonomia que perderam", tendo em vista que se trata de apelo em favor de alguém que se encontra envolvido em suspeitas da prática de irregularidades com recursos públicos, à vista de inúmeras denúncias sobre fatos delituosos, muitos dos quais já até foram transformados em denúncias aceitas pela Justiça, em razão do levantamento de provas substanciais promovidas pelas referidas apurações, cujos fatos pendem, evidentemente, dos esclarecimentos e das justificativas por parte do político escolhido para se lançar candidato ao Palácio do Planalto.
Ao que se parece os termos do manifesto de que se trata pode contribuir para confundir tremendamente a concepção de muitos brasileiros que entendem que dignidade, orgulho e autonomia não condizem, em absoluto, com suspeitas da prática de atos ilícitos, a exemplo daqueles que estão sendo investigados pela Operação Lava-Jato, cujos envolvidos precisam compreender que o exercício de cargos públicos, inclusive os eletivos, exige, nos termos da Constituição e da legislação pátrias, que o homem público comprove conduta ilibada e absolutos zelo e responsabilidade pela coisa pública, como forma de realmente garantir aos brasileiros dignidade, orgulho e autonomia perdidos com os péssimos exemplos protagonizados por dezenas de homens públicos, que, em defesa de seus interesses, se envolveram em casos de corrupção, em completo desprezo aos princípios da ética, moralidade, legalidade, dignidade, entre tantos que são inalienáveis das saudáveis condutas políticas.
Causa perplexidade que artistas e intelectuais tupiniquins de esquerda não consigam enxergar e muito menos aceitar os resultados das investigações levadas a efeito pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, que comprovam à saciedade o mar de sujeita do governo afastado, onde foram extrapolados todos os recordes mundiais de corrupção e de desmoralização de um país, diante do desvio de montanhas de recursos para cofres de partidos políticos e bolsos de inescrupulosos políticos, empresários e executivos, cujos maus-tratos e  irresponsabilidades contra o patrimônio público não foram ainda assumidos pelos principais envolvidos, que são do conhecimento da nação.
Essa dificuldade de percepção da realidade sobre os fatos tem o condão de mostrar o nível desses personagens, que demonstram total insensibilidade com relação à verdadeira situação de penúria ética e moral, por força dos escândalos que abalaram as estruturas da dignidade dos brasileiros, que também se sacrificaram com a desastrada gestão afastada, responsável pela devastação das contas públicas, com os incalculáveis e assombrosos rombos, que tiveram reflexo direto na recessão econômica e no desemprego, além de contribuírem para a notória falta de investimentos público e privado.
Ditos artistas e intelectuais demonstram irresponsável e injustificável bajulação a político que não faz outra coisa senão se preocupar com a reconquista do poder e da dominação absoluta das classes política e social, sem acenar para nenhum sentimento sobre a causa maior da nacionalidade, diante do evidente desinteresse em prestar contas à sociedade sobre os fatos suspeitos e denunciados sobre o possível envolvimento dele com atividades ilícitas, inclusive com provável recebimento de benefício oriundo de propina.
Nessas circunstâncias, convém, em nome da dignidade e da lisura que devem imperar nas atividades político-partidárias, que qualquer candidatura seja defendida no seu devido tempo e somente após os imprescindíveis esclarecimentos à Justiça sobre os fatos investigados e denunciados pela Operação Lava-Jato, conquanto pensamento diferente disso tem o condão de mostrar completa dissonância com os princípios da ética, moralidade, dignidade, legalidade, entre outros compatíveis com o exercício de cargos públicos, inclusive eletivos.
Por certo, nem nas republiquetas os artistas e intelectuais de lá teriam a torpeza de liderar manifesto em defesa de causa visivelmente nebulosa, por envolver político com situação pública completamente tragada por suspeitas da prática de atos ilícitos contra a administração pública, já tendo sido enquadrado como réu pelos graves crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, obstrução à Justiça, organização criminosa, todos incapacitantes para o exercício de cargos públicos, quanto mais o de presidente do país, cujo ocupante precisa comprovar conduta ilibada e não responder a qualquer processo penal, sob pena de não preencher os requisitos essenciais de moralidade e dignidade.           
Certamente que a mentalidade dos artistas e intelectuais que defendem à volta do político ao Palácio do Planalto prestariam enorme benefício ao país se o convencerem a, antes do lançamento da pretendida candidatura, empenhar-se em mostrar a sua inculpabilidade sobre os fatos denunciados acerca da prática de corrupção e do beneficiamento de dinheiros ilícitos, como forma de se confirmar a rigorosa observância aos saudáveis princípios pertinentes à moralidade e à dignidade, que não podem se afastar dos homens públicos respeitados por sua conduta íntegra e responsável pelo zelo com a coisa pública. Acorda, Brasil!      
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 4 de março de 2017

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