Mesmo
que o Supremo Tribunal Federal tenha chancelado, depois das liminares
concedidas anteriormente, a ascensão do amigo político à blindagem do foro
privilegiado, não há dúvida de que foi erro grasso praticado pelo presidente da
República, pela evitável exposição, de maneira ridícula e acintosa, das
fragilidades do primeiro escalão do governo, em termos de moralidade, diante do
envolvimento de muitos titulares em atos suspeitos de irregularidades, que são
objeto das investigações da Operação Lava-Jato.
É
evidente que o governo poderia ter evitado os solavancos da imprensa e da
sociedade sobre a questionada nomeação, exatamente no momento em que o país
começa a mostrar alguns importantes sinais de melhora, depois de ultrapassar
período de fortes turbulências, quanto ao desempenho da economia, na expectativa
de se alcançar a tão ansiada recuperação desta e de outras tomentosas crises.
O
governo vinha acenando pela proximidade da estabilidade econômica, ainda que em
ritmo moderado, ante a profundidade do abismo onde o país havia chegado, com os
indicadores mais pessimistas possíveis.
Possivelmente,
com o entusiasmo das comemorações das vitórias dos presidentes da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, o presidente cuidou de criar uma secretaria com
nível ministerial e de nomear um dos principais personagens da sua confiança,
mas com o nome sempre lembrado na agenda das investigações da Operação Lava-Jato.
É
evidente que o ato presidencial frustrou as esperanças dos brasileiros que reprovaram
idêntica medida quando a presidente afastada quis blindar seu padrinho
político, para chefiar a Casa Civil, político também envolvido nos intricados
palpos de aranha das investigações da Lava-Jato, justamente para tirá-lo das
garras do competente e implacável juiz de Curitiba.
É
natural que os brasileiros ficassem indignados e perplexos ao ver a repetição
de condenável postura presidencial, que já havia sido contestada e repudiada, com
veemência pela opinião pública, exatamente porque ela não se harmonizava com os
princípios da seriedade republicana e da conduta de retidão que devem nortear
os estadistas sensatos.
A
postura digna de um presidente se mede exatamente pela eficiência de seus atos
e pela ausência de censura sobre eles, mas a tentativa de blindagem de amigo,
protegendo-o contra possível punição, não condiz com os princípios da ática e
moralidade, que não podem se afastar dos governantes responsáveis pelo zela da
coisa pública.
A
nomeação de um amigo, com a implícita tentativa de protegê-lo, é erro imperdoável
do governo, por afrontar a opinião pública, que espera dele atitude compatível
com os princípios da legalidade, dignidade e moralidade.
À
toda evidência, a população vem manifestando, em alto e bom som, total intolerância
com a corrupção e os atos de cumplicidade com ela, não admitindo mais essa
forma de nomeação visivelmente espúria, que transmite clara mensagem afrontosa
àqueles que batalham e enfrentam a dureza e as dificuldades do batente, sempre
na esperança que os governantes evitem tanta trapalhada nos seus atos.
A
indignidade dos brasileiras se manifesta por entender que o presidente do país ignorou
a opinião pública, ao demonstrar que não existe ninguém com comprovada conduta
ilibada e nome digno de assumir relevante cargo de ministro, livre de qualquer
suspeita de mácula na vida pública.
A
nomeação de amigo nas condições do questionado ministro não somente contribui
para desestabilizar a credibilidade do governo, como para pôr em dúvida seus propósitos
de governabilidade, justamente pela insegurança que seu ato deixa transparecer,
porquanto a pessoa que pode estar envolvida em atos suspeitos de irregularidades
perde confiança da opinião pública, porque há gravíssima incompatibilidade entre ele
e os princípios da moralidade e da dignidade, entre outros contrários à
probidade que deve existir na administração pública.
Os
brasileiros precisam continuar repudiando os atos do presidente da República contrários
aos princípios da ética, moralidade, legalidade, dignidade, entre muitos que reafirmem
a defesa do interesse público e a grandeza da democracia e da República, com
embargo dos ridículos e reprováveis sentimentos de amizade, compadrio e
companheirismo, porque eles são dissonantes dos conceitos de competência e
eficiência que devem permear as atividades públicas. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 10 de março de 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário