sexta-feira, 10 de março de 2017

Repúdio ao compadrio na administração pública

Mesmo que o Supremo Tribunal Federal tenha chancelado, depois das liminares concedidas anteriormente, a ascensão do amigo político à blindagem do foro privilegiado, não há dúvida de que foi erro grasso praticado pelo presidente da República, pela evitável exposição, de maneira ridícula e acintosa, das fragilidades do primeiro escalão do governo, em termos de moralidade, diante do envolvimento de muitos titulares em atos suspeitos de irregularidades, que são objeto das investigações da Operação Lava-Jato.
É evidente que o governo poderia ter evitado os solavancos da imprensa e da sociedade sobre a questionada nomeação, exatamente no momento em que o país começa a mostrar alguns importantes sinais de melhora, depois de ultrapassar período de fortes turbulências, quanto ao desempenho da economia, na expectativa de se alcançar a tão ansiada recuperação desta e de outras tomentosas crises.
O governo vinha acenando pela proximidade da estabilidade econômica, ainda que em ritmo moderado, ante a profundidade do abismo onde o país havia chegado, com os indicadores mais pessimistas possíveis.
Possivelmente, com o entusiasmo das comemorações das vitórias dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, o presidente cuidou de criar uma secretaria com nível ministerial e de nomear um dos principais personagens da sua confiança, mas com o nome sempre lembrado na agenda das investigações da Operação Lava-Jato.
É evidente que o ato presidencial frustrou as esperanças dos brasileiros que reprovaram idêntica medida quando a presidente afastada quis blindar seu padrinho político, para chefiar a Casa Civil, político também envolvido nos intricados palpos de aranha das investigações da Lava-Jato, justamente para tirá-lo das garras do competente e implacável juiz de Curitiba.
É natural que os brasileiros ficassem indignados e perplexos ao ver a repetição de condenável postura presidencial, que já havia sido contestada e repudiada, com veemência pela opinião pública, exatamente porque ela não se harmonizava com os princípios da seriedade republicana e da conduta de retidão que devem nortear os estadistas sensatos.
          A postura digna de um presidente se mede exatamente pela eficiência de seus atos e pela ausência de censura sobre eles, mas a tentativa de blindagem de amigo, protegendo-o contra possível punição, não condiz com os princípios da ática e moralidade, que não podem se afastar dos governantes responsáveis pelo zela da coisa pública.
A nomeação de um amigo, com a implícita tentativa de protegê-lo, é erro imperdoável do governo, por afrontar a opinião pública, que espera dele atitude compatível com os princípios da legalidade, dignidade e moralidade.
À toda evidência, a população vem manifestando, em alto e bom som, total intolerância com a corrupção e os atos de cumplicidade com ela, não admitindo mais essa forma de nomeação visivelmente espúria, que transmite clara mensagem afrontosa àqueles que batalham e enfrentam a dureza e as dificuldades do batente, sempre na esperança que os governantes evitem tanta trapalhada nos seus atos.
A indignidade dos brasileiras se manifesta por entender que o presidente do país ignorou a opinião pública, ao demonstrar que não existe ninguém com comprovada conduta ilibada e nome digno de assumir relevante cargo de ministro, livre de qualquer suspeita de mácula na vida pública.
          A nomeação de amigo nas condições do questionado ministro não somente contribui para desestabilizar a credibilidade do governo, como para pôr em dúvida seus propósitos de governabilidade, justamente pela insegurança que seu ato deixa transparecer, porquanto a pessoa que pode estar envolvida em atos suspeitos de irregularidades perde  confiança da opinião pública,  porque há gravíssima incompatibilidade entre ele e os princípios da moralidade e da dignidade, entre outros contrários à probidade que deve existir na administração pública.
Os brasileiros precisam continuar repudiando os atos do presidente da República contrários aos princípios da ética, moralidade, legalidade, dignidade, entre muitos que reafirmem a defesa do interesse público e a grandeza da democracia e da República, com embargo dos ridículos e reprováveis sentimentos de amizade, compadrio e companheirismo, porque eles são dissonantes dos conceitos de competência e eficiência que devem permear as atividades públicas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 10 de março de 2017

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