A líder e candidata da
extrema-direita à eleição presidencial da França se recusou a colocar véu para
se reunir com o grão-mufti da República do Líbano em Beirute (Líbano), principal clérigo para
muçulmanos sunitas do país, mesmo
já estando na proximidade da entrada de seu gabinete.
A
extremista, uma das principais candidatas à presidência da França, usou a
visita de dois dias ao Líbano para impulsionar suas credenciais de política
externa, a oito semanas do primeiro turno, em 23 de abril, à vista de ter como
alvo possíveis eleitores franco-libaneses.
Na
chegada ao evento, a presidente da Frente Nacional recebeu um véu antes de se
reunir com o xeque libanês, em seu gabinete de Aicha Bakkar, mas ela, de forma
categórica, se recusou a usá-lo.
Demonstrando
indignação, a presidencial francesa disse, depois do imbróglio, que "A mais alta autoridade sunita do mundo não
havia feito esta exigência, consequentemente não tenho nenhuma razão para...
Mas não importa, transmita ao grande mufti minha consideração, mas não usarei
um véu", tendo deixado o local, imediatamente e bastante desapontada.
A
presidente da FN se referia a sua visita, em maio de 2015, ao Egito, onde ela
se reuniu com o grande imã de Al Azhar, no Cairo, a principal instituição
teológica no mundo do islã sunita.
Ainda
contrafeita diante do lamentável episódio, a extremista francesa de direita
disse aos jornalistas que "... indiquei
que não colocaria um véu. Não cancelaram o encontro. Acreditei, portanto, que
aceitariam que não usasse um véu (...) Tentaram
me impor isso".
A
maior autoridade sunita no Líbano, presidida pelo mufti, declarou em comunicado
que "seu gabinete havia informado a
candidata presidencial sobre a necessidade de cobrir a cabeça durante sua
reunião com sua eminência (o mufti), segundo
o protocolo de Dar al-Fatwa".
A
instituição se declarou "surpresa
por esta rejeição", pois é "uma
norma bem conhecida" e lamenta este "comportamento inadequado".
Não
há a menor dúvida de que as religiões e os costumes devam ser devidamente
respeitados, inclusive de forma recíproca, porque isso faz parte do rito e da
tradição que precisam ser preservados entre seus seguidores e até admiradores,
mas exigir ou impor condições para que pessoas de cultura completamente
diferente se submetam aos rituais protocolares segundo as suas normas isso não
condiz com o bom senso e a racionalidade, principalmente ante a modernidade
experimentada na atualidade, que acena para a independência de cresça,
pensamento, religiosidade, ideologia e tudo o mais que contribua para o
desenvolvimento da humanidade.
Na
atualidade, o ser humano precisa se conscientizar de que cada qual é dono do
seu direito e ninguém pode estabelecer condições para o usufruto dele, muito
menos os prepotentes dignitários, possuidores
de títulos proeminentes ou de graduação honorífica, que também precisam
respeitar o sentimento do ser humano, entendendo o grau de autoridade de
cada um, nas suas respectivas áreas de atuação, inclusive política.
Diante
da modernidade, não existe mais essa de querer impor, controlar, menosprezar e
manter mulheres sob o jugo de certos princípios religiosos que prevaleciam no
passado, fruto da ignorância e da fragilidade da mulher de ter dificuldade de
se impor e de rejeitar o machismo próprio do autoritarismo que ainda prevalece
em segmentos da sociedade, que apenas contribui para distanciar as pessoas,
como no caso em comento.
Na
verdade, sua eminência não estava disposta a conversar de igual para igual com
a líder francesa, mas, por certo, ele gostaria de mostrar a sua autoridade, à
sua feição, que ela prontamente a recusou, como prova de protesto e também de
dizer que ninguém é melhor que ninguém e que é preciso mostrar que os princípios
religiosos devem se adequar à modernidade atual, em que os seres humanos
evoluíram e adquiram consciência suficiente para compreender que todos são
iguais como pessoa e assim deve ser tratado.
No
caso concreto, o uso do véu seria o mesmo que aceitar e se submeter à
autoridade do islã, ou mesmo que dizer que aceita e reconhece sua superioridade
sobre seu semelhante.
Ou
seja, o véu é a simbologia de uma crença que deve ser usado somente por aqueles
que a aceita e se submete às suas lideranças e aos seus ritos, em respeito aos dogmáticos
costumes impostos por suas normas de regência, não sendo justo que se imponha a
obrigação de usá-lo por alguém que não faz farte do seu ciclo.
À
toda evidência, a líder da extrema-direita da França se houve muito bem, com a
dignidade e a autenticidade esperadas das pessoas conscientes da necessidade de
se exigir respeito aos direitos humanos e aos princípios humanitários, ao
mostrar às lideranças religiosas encastelas e decadentes que o mundo exterior
foi transformado para melhor e não aceita mais o imperialismo religioso, sectário,
dogmático, ideológico, entre outros autoritarismos prejudiciais à evolução dos
princípios humanos de liberdade e de pensamento. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 11 de março de 2017
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