Um
político potiguar, que já foi ministro do Turismo e presidente da Câmara dos
Deputados, com bagagem de suspeita de envolvimento no esquema criminoso
investigado pela Operação Lava-Jato, afirmou tranquilamente, em defesa
apresentada à Justiça Federal de Brasília, que, pasmem, terceiros depositaram e
movimentaram, em sua conta bancária aberta na Suíça, sem o seu conhecimento, a
bagatela de US$ 832.975,98, que corresponde a R$ 2,5 milhões.
O
político admite que é sim "beneficiário" da referida conta, ou seja,
ele é o titular dela, fato que confirma a suspeita do Ministério Público de que
o político é realmente o responsável pela movimentação da conta em apreço.
A
força-tarefa da Lava-Jato já sabia, em razão das investigações levadas a efeito
por ela, que o dinheiro foi depositado em três datas, entre outubro e dezembro
de 2011.
O
político disse que utilizou escritório de advocacia do Uruguai para abrir a questionada
conta bancária na Suíça, em 2008.
Como
se sabe, o político pediu demissão do Ministério do Turismo em junho do ano
passado, após ter sido citado no acordo de delação premiada do ex-presidente da
Transpetro como beneficiário de propina, tendo se antecipado aos acontecimentos.
Desta
feita, o ex-presidente da Câmara foi denunciado pela Procuradoria Geral da
República, pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro,
em razão da existência de conta atribuída a ele, na Suíça, sem a devida
declaração à Receita Federal, que seria o procedimento correto, na forma da
legislação vigente no país.
Com
base nas investigações, a Procuradoria Geral da República concluiu que a
mencionada quantia tem origem no suborno recebido da empreiteira Carioca
Engenharia, como pagamento pelo tráfico de influência na liberação de recursos
públicos.
As
alegações dos advogados do ex-ministro do Turismo, apresentadas como defesa por
conta da denúncia, não passam de artifícios bisonhos e risíveis, ante a
infantilidade de que seria absolutamente impossível alguém movimentar
livremente conta bancária sem que o titular sequer disso tivesse tomado conhecimento,
conforme alegado no recurso, no sentido de que "a utilização indevida da citada conta bancária e os depósitos
mencionados jamais foram de conhecimento do acusado".
É
evidente que declaração mentirosa, absurda e indecente como essa, dada por
homem pública, somente tem o condão de desmoralizar ainda mais o pouco de
dignidade que têm os políticos, que não se envergonham e muito menos coram a
cara para proferir inverdades, com absoluto fundo de inverossimilhança, a
demonstrar a pequenez da mentalidade de muitas pessoas públicas.
É
até bem provável que a Justiça não engula muito fácil essa "bem
bolada" desculpa, para negar o óbvio que não tem como ser disfarçado, mas
certamente ele continuará sendo acreditado por seus fiéis eleitores, por ele já
ter sido eleito por dez vezes para o mesmo cargo de deputado federal, certamente
sempre empregando junto a seus eleitores argumentos deturpados semelhantes aos
agora oferecidos à Justiça, em sua defesa em processo de pura fraude de conduta
como homem público.
Na
verdade, a justificativa apresentada agora como linha de defesa somente
confirma o nível do caráter de muitos políticos tupiniquins, que não assumem
suas falhas e seus deslizes, porque eles imaginam que são poderosos e estão
acima quaisquer suspeitas, podendo enganar a ingenuidade dos brasileiros, que já
se acostumaram a ser passados para trás por aqueles que são escolhidos para
representar o povo com, pelo menos, o mínimo de dignidade, mas o que se
verifica cada vez mais é a prática da torpeza e da indignidade com a finalidade
de encobertar as falcatruas e as ilicitudes no exercício de atividades públicas.
A
Justiça precisa cumprir, com o máximo de zelo e integridade, sua missão
institucional de coibir os abusos que são cometidos exatamente por aqueles que
têm o dever moral e legal de evitá-los, julgando com imparcialidade e firmeza
os homens públicos descaracterizados dos princípios da ética, moralidade,
dignidade e demais condutas que devem imperar nas atividades públicas, como
forma de dar exemplo disciplinar àqueles que ainda desprezam o decoro público. Acorda,
Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 17 de março de 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário