terça-feira, 14 de março de 2017

Humilhação humanitária

Na Venezuela, parcela expressiva da população recorre aos lixões à procura dos restos de comida, que tem sido forma desesperada para se conseguir algum alimento para matar a fome, que é uma das maiores tormentas do momento naquele país.
O caminhão de lixo chega no seu itinerário final e logo é cercado por pessoas, com destaque para país de família, que correm até o contêiner para “fuçar” os sacos, na expectativa de encontrar migalhas de alimentos, e essa é batalha que vem se repetindo diariamente contra a fome e tem obrigado muitos venezuelanos a viverem nessa correria em busca de restos de comida que se destinam ao lixo.
As pessoas vasculham com incontrolável avidez os depósitos de resíduos antes que estes sejam triturados, até encontrar algo que seja aproveitável para comer e, se possível, saciar a fome.
A reportagem narra o caso de uma mãe deficiente, com um filho de dois anos desnutrido, que é levada a percorrer as ruas de zonas ricas para buscar comida no lixo deixado para o recolhimento.
Também é citada a situação angustiante de outra pessoa, nestes termos: “Minha mãe não aceitava, mas o que mais se pode fazer com a situação ruim do país? Ia morrer de fome, dava para ver os ossos dela”. Essa mesma pessoa disse que “Dorme na rua e volta à casa de manhã para limpar o que recolheu e descansar, para depois continuar fazendo a roda girar.”.
Esta jovem disse que deixou a vergonha de lado para sobreviver a grave crise, onde a escassez atinge 68% dos produtos básicos no país e a inflação cresce em nível assustador e de forma descontrolada, chegando ao patamar, pasmem, de 1.660%, em 2017, segundo a avaliação do Fundo Mundial Internacional.
Ela disse, enquanto aguardava um caminhão de lixo, que antes “Chorava, porque me sentia humilhada. Já não me importa, porque se você não trabalha nem procura algo no lixo, você não come”.
Aproximadamente 70 pessoas, inclusive crianças, esperavam os caminhões coletores e repartiam o controle das lixeiras de restaurantes.
Muito próximo do lixão, em um estabelecimento de fast food, um homem foi esfaqueado recentemente, depois de ter se envolvido em uma briga por um saco de lixo, conforme narrou um funcionário daquele comércio.
Nesse lugar, um pedreiro desempregado lambia um prato descartável, enquanto suas duas filhas, de seis e nove anos, bebiam suco retirado de depósito encontrado no local. Elas aparentavam estar anêmicas e comiam apenas bananas ou iúca, uma vez por dia, conforme disse seu pai.
O pedreiro disse que “Uma noite fomos dormir sem comer. Não desejo isso a ninguém. As crianças choravam e diziam: ‘tenho fome’. Vendi as ferramentas, tudo, e por último saí às ruas. Milhares de nós vivemos de lixo”.
Quase um terço dos venezuelanos, aproximadamente 9,6 milhões de pessoas, come duas ou menos vezes por dia, numa demonstração de que a pobreza aumentou quase nove pontos percentuais entre 2015 e 2016, atingindo 81,8% dos lares, enquanto 51,51% estão em situação de pobreza extrema, segundo a Pesquisa sobre Condições de Vida.
O estudo, realizado por um grupo de universidades, revelou também que 93,3% das famílias não têm renda suficiente para comprar alimentos, enquanto sete em cada dez pessoas perderam em média 8,7 kg de peso no último ano. Um cidadão disse que “Eu era gordo, e olhe só agora, estou magrinho. Tive que tirá-la do colégio porque não podia dar comida para ela levar”.
Uma nutricionista, coautora da pesquisa, disse que 10% das pessoas em situação de pobreza extrema (cerca de 1,5 milhão) comem alimentos doados por familiares, do lixo ou de sobras de restaurantes, expondo-se a doenças graves.
Não obstante, o presidente venezuelano assegurou que, em 2016, a pobreza no país caiu de 19,7% para 18,3%, e a miséria de 4,9% para 4,4%, apesar da queda do preço do petróleo, que é praticamente a única fonte de renda do país.
O governo chavista atribui a escassez generalizada a uma “guerra econômica” que somente a sua incompetência administrativa enxerga e ainda faz questão de lembrar que as Nações Unidas reconheceram, em 2015, seus esforços com relação ao combate à fome, e que seu programa de venda de produtos subsidiados em zonas populares – criado há um ano – beneficiará seis milhões de lares em 2017.
O reconhecimento da ONU até pode ter existido em 2015, mas a população está morrendo de forme agora, no ano de 2017, e que as sacolas de alimentos anunciadas pelo governo somente chegam, com bastante dificuldade, duas vezes às casas das pessoas e são insuficientes para abastecer a despensa delas e saciar sua fome, o que as dispensariam, se houvesse regular fornecimento de alimentos, da procura desenfreada e perigosa de restos de comida nos lixões.
Há poucos dias, a chanceler venezuelana disse que o Brasil é "uma vergonha para o mundo", somente porque o Congresso Nacional afastou a presidente brasileira que apoiava o terrível regime socialista bolivariano e praticara crime de responsabilidade, em acintosa afronta à Constituição do país.
Agora, será se ela é capaz de reconhecer o caos humanitário instalado naquele país, com a generalização da falta de alimentos para as famílias e se envergonhar com essa situação de tragédia contra o ser humano, onde as pessoas estão sendo submetidas pelo governo revolucionário à miséria da fome e da desnutrição?
É triste e dramática a situação humilhante por que passam muitos venezuelanos, que são obrigados a recorrer aos depósitos de lixo à busca de restos de comida, para tentar desesperadamente sobreviver ainda de forma precária e trágica, pondo em risco as suas saúde e vida, eis que se tratam de restos de comida contaminada e imprópria para a alimentação humana.
As nações sérias, civilizadas e com o mínimo de sentimento humanitário precisam interferir, com urgência, nesse cruel processo de destruição humana, com a imposição de sanções diplomáticas, antes que a população pobre da Venezuela seja completamente dizimada pelas incompetência e desumanidade do governo revolucionário daquele país, que tem dado cabal demonstração de insensibilidade ao clamor da população indefesa, deixando de suprir às suas necessidades básicas, como alimentos, remédios e demais assistência humanitária digna. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 14 de março de 2017

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