Ao
votar pelo recebimento da denúncia que coloca um senador do PMDB por Rondônia
no banco dos réus da Operação Lava-Jato, o ministro decano do Supremo Tribunal
Federal fez alerta para o que ele cognominou de “profana aliança entre determinados setores do Poder Público, de um
lado, e agentes empresariais, de outro”.
O
referido senador virou réu da Lava-Jato na sessão da Segunda Turma do Supremo,
tendo por base denúncia formulada pela Procuradoria Geral da República,
assegurando que ele teria recebido o valor de R$ 500 mil da empreiteira Queiroz
Galvão, para sua campanha ao Senado Federal, em 2010.
Segundo
os investigadores da Lava-Jato, o dinheiro tem origem no esquema de propinas operado
na Petrobrás, no período de 2004 e 2014.
A
Procuradoria Geral da República concluiu que o senador rondoniense recebeu
propina disfarçada de doação eleitoral.
Em
seu voto, o ministro do Supremo alertou que a Lava-Jato revela a ação de “um imoral sodalício com o objetivo perverso
e ilícito de cometer uma pluralidade de delitos gravemente vulneradores do
ordenamento jurídico instituído pelo Estado brasileiro”.
Ainda
na avaliação do decano do Supremo, as descobertas da força-tarefa da Lava-Jato
“compõem um vasto e ousado painel
revelador do assalto e da tentativa de captura do Estado e de suas instituições
por uma organização criminosa, identificável, em ambos os contextos, por
elementos que são comuns tanto ao ‘Petrolão’ quanto ao ‘Mensalão’.”.
O
voto do ministro da Excelsa Corte de Justiça simplesmente desmascara os
partidos e os políticos que vêm assegurando, de forma peremptória, que as
doações recebidas são legítimas, principalmente porque os recursos foram
contabilizados e informados à Justiça Eleitoral, como se isso tivesse o condão
de transformar dinheiro sujo, proveniente de fraude contratual, em
financiamento absolutamente legal e inquestionável.
É
mais do que sabido que as empresas superfaturam os valores de contratos para
transferir dinheiro para inescrupulosos políticos, que, em troca, são
submetidos às exigências delas, mediante espúria e condenável traficância de
influência, no Parlamento ou no Executivo, de modo que o financiamento de
campanha nada mais é do que verdadeira profana aliança entre empresários e
políticos desavergonhados, que se prostituem pelo recebimento de dinheiro de
origem indiscutivelmente ilícita, como foram os repasses provenientes do
petrolão.
É
evidente que a reação dos políticos contra as afirmações do ministro do Supremo
foi imediata, dando a entender que eles vestiram a carapuça, eis que, quando a
verdade seja dita, ela certamente contraria os interesses de muita gente, que
parece ser o caso dos partidos e políticos envolvidos nas falcatruas objeto das
investigações da Operação Lava-Jato, que já revelaram um oceano de sujeira e
ainda resta a transparência de outros oceanos de irregularidades somente com
relação ao desvio de recursos da Petrobras, para a sustentação de partidos
políticos e a manutenção de campanhas eleitorais de despudorados homens
públicos, que, sem o menor escrúpulo, empregam fins escusos para o atingimento
de seus objetivos de dominação política e de perenidade no poder.
O
referido “ousado painel revelador do assalto e da tentativa de captura do Estado e de
suas instituições por uma organização criminosa” é mostrado, com bastante
propriedade, pelos resultados das investigações da Lava-Jato, que vêm
identificando verdadeiro submundo de promiscuidade nas relações entre
partidos/políticos e empresários, revelando a situação degenerada dos
interesses envolvidos, que são absolutamente contrários às finalidades públicas
e visivelmente vantajosos para eles, por haver a plena satisfação de objetivos
ilícitos comuns.
Urge
que as denúncias sobre financiamentos de campanha sejam devidamente
investigadas, com vistas à verificação da sua regularidade e, se for o caso, à
apuração de responsabilidades pela violação das normas eleitorais, tendo em
vista não somente a coibição do uso do poder econômico, mas sobretudo a
premência de moralização dos pleitos eleitorais, que precisam ser rigorosamente
regidos segundo os princípios da ética, moralidade, legalidade, dignidade,
transparência, que se exigem em respeito aos conceitos de seriedade e
civilidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 12 de março de 2017
(Com esta crônica, eu concluo o 24ª livro)
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