Conforme
mostram os fatos e indicadores, o legado do PT se traduz em verdadeira hecatombe
ética, política, econômica e administrativa, mas nem por isso, como se não
fosse um dos autênticos responsáveis pela ruína do país, à luz das investigações
da Lava-Jato, o ex-presidente petista aparece empunhando a bandeira de “salvador
da pátria”, a antecipar o lançamento de sua candidatura ao Palácio do Planalto,
em 2018.
Na
verdade, a real finalidade de seu espetaculoso movimento objetiva tão somente tentar
intimidar a Justiça, com vistas a se evitar que ele sofra pesada condenação, em
face dos cinco processos que já responde como réu.
Como
explicar que um político que responde a vários processos na Justiça, com enorme
possibilidade de ser enquadrado como réu em novas ações, ainda seja defendido
entusiasticamente por simpatizantes enlouquecidos, ao fazerem arruaças, a
criticarem a imprensa e gritarem palavras de apoio ao ex-presidente, que foi descrito
pelo Ministério Público Federal como o “comandante
máximo” do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato?
Na
gestão petista, houve inovação na forma de governo, com a introdução do sistema
presidencialista de coalizão, tendo por base o estabelecimento de projeto
estruturado na corrupção e no poder, onde se discutia a plena dominação das
classes política e social e a perenidade no poder, não importando os fins
empregados para o atingimento dos meios, a exemplo do mensalão e petrolão, em
que a corrupção predominou e se consolidou como base da estrutura delituosa que
sustentava os objetivos políticos.
Mas
o petrolão foi a forma engenhosa arquitetada para dilapidar os cofres da
Petrobras, que foi destronada da liderança de empresa estatal sólida depois que
sofreu o golpe fatal com o desvio de recursos para a irrigação de campanhas eleitorais
de inescrupulosos políticos, sob o artifício de crime quase perfeito, qual
seja, a doação registrada oficialmente na Justiça Eleitoral.
Como
se não bastassem os benefícios políticos, com a garantia da consolidação e perenidade
no poder, a propina desviada da estatal serviu também para abarrotar os bolsos de
políticos, executivos e de outros criminosos assemelhados, em medíocre festim
que levaria ao enriquecimento deles, sem o menor esforço.
O
esquema criminoso engendrado vicejou por mais de década, na forma do mensalão e
petrolão, que vêm de longa data, tendo beneficiado principalmente o petista-mor
nos seus projetos políticos, que mereceu incondicional apoio de congressistas,
sendo lícito também se imputar a ele a principal responsabilidade pela debacle
do sistema político, muito bem representada na lista do procurador-geral da
República, recém-divulgada, que elenca em seu bojo corriola de beneficiários
das propinas.
Embora
o considerado pai da institucionalização da corrupção, dos malfeitos e da
hecatombe ética, política e econômica, na conclusão do Ministério Público
Federal, também indicado por ele como o comandante da “organização criminosa”, o político se apresenta como o único “salvador
da pátria”, como se nada tivesse ocorrido de ilícito contra os interesses dos
brasileiros, que teria ignorado e esquecido as maldades protagonizadas pelos
governos petistas, em que o país ingressou em forte recessão e foi obrigado a
administrar forte onda de desemprego, juros altos, falta de investimentos
público e privado, além do descrédito do sistema produtivo, que não confiava na
gestão do governo afastado.
O
político dá a impressão de que as investigações da Lava-Jato não passam de
brincadeirinhas para, na interpretação dele, apenas persegui-lo e macular a sua
reputação política, por acreditar que os fatos denunciados não têm consistência
capaz de incriminá-lo e muito menos de fundamentar a sua condenação, à vista da
sua convicção de que, ao final, ele ressurgirá impávido das acusações da Lava-Jato.
Entrementes,
ao que tudo indica, o político pretende manobrar no sentido de, mesmo sem
comprovar nada em contrário, transformar as denúncias, em um passe de mágica,
em simples miragens, como forma de, se possível, construir majestoso palácio
sobre os escombros de um edifício (no caso, o Brasil) que foi implodido com a
maligna engenhosidade atribuída a ele pela força-tarefa da Lava-Jato.
É
visível a ardilosa e cuidadosa estratégia de antecipação da candidatura dele ao
Palácio do Planalto, com a clara tentativa de pressionar a Justiça o quanto
possível, para que ela seja constrangida a evitar condená-lo, para não politizar
o que deveria ser examinado apenas nas esferas policial e judicial, tendo em
vista que a condenação dele em primeira instância é tida inapelavelmente como
certa.
Por
seu turno, com a finalidade de não ser descartado do processo eleitoral, já
existe discurso pronto, segundo o qual não há fatos que justifiquem a condenação
dele e se isso acontecer será por mera perseguição política, com vistas a
evitar que ele se candidate, conquanto a antecipação do lançamento do seu nome à
Presidência da República visa evitar justamente sua condenação.
Quando
o ex-presidente se sentou, pela primeira vez, no banco dos réus, foi colocada
em prática a tática da intimidação contra autoridades judiciárias, por meio da exortação
à militância da agremiação a processar aquele que acusar seu partido de ser uma
organização criminosa, nos termos da qualificação feita pelo Ministério
Público, conquanto isso seja forma de tentar ignorar os gravíssimos indícios de
desvios de recursos de empresas estatais, que foram desfalcadas para suprir não
somente os cofres de seu partido, mas também o bolso de políticos, executivos e
outros aproveitadores do dinheiro público.
Ainda
na ocasião, o político disse ao juiz que “Eu
tô cansado de ver procurador dizer que não precisa de prova, que ele tem
convicção. De juiz dizer que ‘não preciso de prova, eu tenho fé, vou votar com
fé’. Eu quero provas, alguém tem que dizer qual é o crime que eu cometi, aonde
que eu cometi. Chamar o PT de organização criminosa? Se dependesse de mim, cada
deputado do PT, cada vereador do PT, cada militante abria um processo para quem
disser qual é a quadrilha”, dando a entender que seu partido é o mais ético
do planeta, quando os fatos indicam a necessidade da urgente reparação dos
estragos causados à dignidade dos brasileiros.
O
político, ao invés de contestar, com elementos plausíveis, o mérito das graves
denúncias contra ele e seu partido, em harmonia com a grandeza da moralidade,
preferiu recorreu ao teatro do absurdo, para interpretar o principal papel de
vítima e de perseguido político, ao afirmar, ainda no banco dos réus, que “Há mais ou menos três anos, doutor, eu tenho
sido vítima de quase que um massacre. Eu acho que todos aqui têm dimensão do
que é um cidadão que foi presidente da República, que foi considerado o mais
importante presidente da história desse país, que saiu com 87% de aprovação de
bom e ótimo, que fez com que o Brasil fosse respeitado no mundo inteiro e virasse
protagonista internacional, de repente é pego de surpresa por manchete de
jornais, por notícias de televisão, todo dia, todo santo dia. No café da manhã,
no almoço e na janta, alguém insinuando: ‘Tal empresário vai prestar uma
delação e vai acusar o Lula. Tal deputado vai prestar uma delação e vai acusar
o Lula. Agora vão prender fulano, agora vão pegar o Lula. Prenderam a
Odebrecht, vai delatar o Lula. Prenderam a OAS, vai delatar o Lula. Prenderam
Bumlai, vai delatar o Lula. Prenderam o Delcídio, vai delatar o Lula. Prenderam
o papa, vai delatar o Lula”.
Embora
existam muitas acusações e até denúncias contra o político, ele insiste em se
passar por vítima de investigadores insensatos e usa, como tática de
intimidação, o ingresso de ações na Justiça contra delegados, procuradores e
juízes, cobrando reparação por danos morais, mediante indenização pecuniária.
Numa
das ações, a Advocacia Geral da União foi bastante elucidativa, ao se expressar
nestes termos: “Ao tentar fazer o réu
responder a uma ação com pedido de indenização exorbitante, o autor visa
interferir nas decisões e medidas adotadas no âmbito da Operação Lava Jato,
criando um receio generalizado de que as ações legítimas contra o autor estarão
sujeitas a fortes reações. O verdadeiro fim é intimidar e retaliar, e não
compensar o dano moral dito abalado”.
Ou
seja, o político se insurge contra os fatos, por achar que deve ser submetido a
um regime especial, diferenciado dos demais brasileiros, que não pode ser
investigado e que qualquer decisão do juiz da Lava-Jato contra ele representa
descabida e abusiva, mesmo que as provas sejam contundentes.
Ao
que tudo indica, na ausência de justificativas plausíveis contra as acusações
referentes ao recebimento de benefícios e vantagens repassados por
empreiteiras, em troca de favores, o político encontra a estratégia dos famosos
ataques com palavras e ações judiciais para se defender, na tentativa de acuar
e constranger autoridades que cuidam das investigações da Lava-Jato e de
sobreviver ao mar de gravíssimas denúncias que o envolvem em atos de corrupção,
ainda não infirmada.
Em
que pesem os gigantescos esforços nesse sentido, os resultados mostram a
inocuidade e a completa falta de êxito, porquanto os robustos e substanciosos
indícios prevalecem sobre as meras falácias, de vez que os fatos falam por si
sós, evidenciando as dificuldades para rebatê-los senão com a força da
apresentação de provas legalmente válidas e cabais.
Urge
que o político, ao invés de tentar intimidar e constranger as autoridades com
ameaças próprias de quem tem intimidade com o poder e o tráfico de influência,
se conscientize de que os fatos investigados pela Lava-Jato emergem com força
tal que é preciso humildade para se reconhecer que ninguém está acima da lei,
conforme princípio constitucional segundo o qual todos são iguais perante a
lei, em direitos e obrigações, a se confirmar a sábia ponderação do juiz da Lava-Jato, que afirmou, certa vez, verbis: “Aqui, até o príncipe está sujeito à lei” e não poderia ser
diferente, principalmente porque mesmo a maior autoridade tem obrigação de
proceder com correção e lisura, além de prestar contas à sociedade sobre seus
atos na vida pública.
Como
o Brasil tem pressa para ser passado a limpo e a revelação da verdade é forma
essencial para se alcançar os objetivos da tão ansiada moralização, não resta
alternativa melhor do que se contribuir para que os fatos denunciados sejam
devidamente investigados e esclarecidos, não importando quem esteja incluído no
rol dos envolvidos, mesmo que isso possa custar o altíssimo preço do prestígio
político, porque o que se encontra em jogo é a sustentabilidade dos princípios
da ética, moralidade, legalidade, dignidade e demais conceitos capazes de
contribuir para a consolidação da democracia e da República. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de março de 2017
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