quarta-feira, 15 de março de 2017

Acintosa afronta à dignidade

No momento, o ex-presidente da República petista é considerado por alguns petistas como o salvador de seu partido - que se encontra sob as ameaças de rachas internas - e será lançado candidato à sua presidência, mas esse fato vem causando brutal divisão entre as diferentes forças da legenda.
O líder-mor disse a alguns interlocutores que não quer ser presidente do PT, mas, em contraposição, ele vem sendo pressionado por parte da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), da qual faz parte, para ele mudar de ideia.
As correntes que integram o Muda PT, movimento majoritário da bancada petista na Câmara dos Deputados, além de outras correntes já se posicionaram contra a indicação do petista para a presidência do partido, sob o argumento de que ele deve se dedicar à construção das condições para sua candidatura à Presidência de República, fato que se torna incompatível com a acumulação de funções de candidato e dirigente partidário.
Importante liderança do PT disse que “É um equívoco muito grande. Ele próprio já disse que não quer. O que existe é uma pressão, uma chantagem da corrente majoritária. O que Lula expressa é a manifestação para ele voltar à Presidência da República. Ele vai assumir a administração do PT? Vai assinar cheques? Lula tem que estar na rua”.
Não obstante, as correntes que estão ao lado do político são maioria do partido e têm votos suficientes para elegê-lo, motivo pelo qual elas insistem que ele dirija o partido, mas isso pode contribuir para a sua definitiva divisão interno.
Outras correntes contrárias à tese do petista na presidência do partido já se articulam pela indicação de outro nome para a função, sob o argumento da necessidade de se evitar maior pressão sobre o ex-presidente, que tem sido incapaz de construir candidatura unitária e de consenso.
As correntes contrárias à candidatura do ex-presidente vêm intensificando ações em vários estados, tendo a participação de importantes lideranças petistas, na tentativa de mostrar insatisfação contra a imposição da ida dele para chefiar o partido.
Diante da mobilização das correntes dissidentes, os defensores da ida do ex-presidente para a presidência do PT, que já era praticamente quase certa, em confirmação da manobra perpetrada, estão mudando o discurso e passaram a admitir que adotaram a estratégia errada, tendo apontado o maior equívoco de ter escolhido a comissão formada exclusivamente pela corrente da CNB, fato que contribuiu para irritar as demais correntes.
É espantoso se verificar que nenhuma corrente, nem mesma a que é integrada pelo próprio ex-presidente, têm a mínima sensibilidade e muito menos sensatez para perceber que o momento é mais que propício para que o principal líder do partido seja convencido a provar a sua inocência quanto às pletoras acusações de envolvimento em casos graves de corrupção, quando ele já se encontra enquadrado como réu em cinco processos, pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, obstrução da Justiça, tráfico de influência, antes de participar de atividades político-partidárias, como forma de prestação de contas à sociedade sobre seus atos praticados como homem público.
Ninguém do partido demonstra preocupação sobre as referidas acusações, como se elas fossem meras citações em processos tramitando na Justiça, quando eles são fruto de importantes investigações sobre denúncias graves de corrupção que jamais deveria se referir à imagem de ex-presidente do país, de quem somente se espera referências construtivas e moralizadoras.
Nos países sérios, civilizados e cônscios sobre a importância da responsabilidade pública, nenhum homem público jamais imaginaria tratar de questões envolvendo representação partidária ou político sob a mecha de envolvimento com corrupção já sob a análise dos Tribunais, à vista do poder dos indícios coletados e juntados aos respectivos autos.
          Ao invés de o ex-presidente se preocupar em fazer incursão na presidência de seu partido e antecipar a sua candidatura à Presidência da República, que são suas tratativas do momento, tudo isso visando à busca de apoio político e de poder, ele precisa, preliminarmente, mostrar, com elementos plausíveis, a sua inocência ou inculpabilidade com relação aos escândalos que mancharam a reputação da República, em especial as denúncias nos escabrosos e abomináveis esquemas representados pelo mensalão, pela Operação Porto Seguro e pelo petrolão, justamente por ainda não terem sido esclarecidas por parte dele.
          Na verdade, o ex-presidente apenas nega culpabilidade, mas há necessidade de refutação, com elementos plausíveis, dos fatos levantados, principalmente pelas investigações da Operação Lava-Jato, cujas denúncias foram aceitas pela Justiça, que não as acolheria se elas não estivessem devidamente fundamentadas em elementos e indícios suficientes para satisfazer os requisitos exigidos pela lei de materialidade e de autoria.
Por enquanto, ele não teve humildade suficiente para reconhecer possível erro nas atividades públicas nem para prestar contas à sociedade sobre os fatos denunciados, que têm força para macular terrivelmente a gestão do patrimônio nacional.
Ninguém, nem mesmo os homens públicos, tem direito de se defender apenas com palavras vazias de provas e acusações à imprensa, aos opositores e aos responsáveis pelas investigações dos casos denunciados, como forma de esconder da sociedade a realidade sobre os fatos tormentosos, que exigem transparência e sobretudo revelação da verdade.
O certo é que, nas nações com o mínimo de seriedade e de evolução democrática, é absolutamente inconcebível que homens públicos sequer pleiteiem participar de atividades públicas sendo acusados da prática de delitos contra a administração pública, inclusive no caso de já estarem respondendo como réus a diversos processos, porque isso apenas representa acintosa afronta à dignidade dos eleitores, por terem a responsabilidade constitucional e legal de outorgar-lhes a delegação de representá-los no cenário político-administrativo. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 15 de março de 2017

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