domingo, 5 de março de 2017

Revelações vergonhosas...

Em depoimento à Justiça Eleitoral, o herdeiro e ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, a Odebrecht, disse que 80% do total de R$ 150 milhões destinados pela construtora para a campanha da chapa da ex-presidente petista, em 2014, foram repassados por meio de caixa 2.
No mesmo depoimento, ele afirmou que a petista tinha conhecimento da dimensão dos valores da contribuição em apreço e dos pagamentos, também feitos com recursos não registrados ao então marqueteiro do PT, que, na maior parte, foram repassados em espécie, ou seja, ”Dilma sabia de todo o esquema ilícito”, segundo o depoente.
O empreiteiro, além de responder às perguntas, apresentou documentos durante seu depoimento à Justiça Eleitoral, na ação movida pelo PSDB, que pede a cassação da aludida chapa.
Ele confirmou que foi de R$ 150 milhões o valor acertado para a campanha presidencial da chapa à reeleita e, deste total, R$ 50 milhões se referia à contrapartida à votação da Medida Provisória do Refis, encaminhada ao Congresso em 2009 - e que beneficiou a Braskem, empresa controlada pela Odebrecht e que atua na área de química e petroquímica.
O empreiteiro disse que as negociações eram feitas diretamente entre ele, o marqueteiro do PT e o então ministro da Fazenda, tendo citado que, em um encontro com a então presidente do país, no México, ele a teria alertado que os pagamentos feitos ao marqueteiro do PT estavam "contaminados", em razão de terem origem em offshores utilizadas por empresários do grupo para o pagamento de propinas.
O empreiteiro afirmou que as primeiras conversas entre a Odebrecht e o governo do PT ocorreram em 2008, quando foi procurado para fazer doações para as eleições municipais daquele ano, notadamente para as que o marqueteiro do partido estava trabalhando.
No depoimento, o ex-presidente da Odebrecht disse que “Eu não era o dono do governo. Eu era o otário do governo. Eu era o bobo da corte do governo”, segundo relatos colhidos pelo jornal O Estado de S. Paulo.
          O empreiteiro demonstrou descontentamento por ser obrigado a entrar em projetos e empreendimentos que não desejava e bancar repasses às campanhas eleitorais, sem receber as contrapartidas que julgava necessárias.
A ex-presidente petista disse que é mentirosa a versão de que ela teria pedido ao ex-presidente da Odebrecht recurso para suas campanhas presidenciais em 2010 e 2014, por meio de caixa 2.
          Segundo ela, é um “insulto à sua honestidade” a tentativa de “impor à ex-presidenta uma conduta suspeita ou lesiva à democracia ou ao processo eleitoral.”.
A sua assessoria afirmou que “É mentirosa a informação de que Dilma Rousseff teria pedido recursos ao senhor Marcelo Odebrecht ou a quaisquer empresários, ou mesmo autorizado pagamentos a prestadores de serviços fora do país, ou por meio de caixa dois, durante as campanhas presidenciais de 2010 e 2014”.
Em nota, ela diz não ser verdade que teria designado o então ministro da Fazenda como responsável pela arrecadação financeira de suas campanhas presidenciais e que, “Nas duas eleições, foram designados tesoureiros, de acordo com a legislação. O próprio ex-ministro Guido Mantega desmentiu tal informação.”.
A ex-presidente concluiu dizendo: “Por fim, cabe reiterar que todas as doações às campanhas de Dilma Rousseff foram feitas de acordo com a legislação, tendo as duas prestações de contas sido aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral”.
Algum fundo de verdade deve existir nas declarações do herdeiro da Odebrecht, porque ele não seria totalmente maluco para inventar situações altamente comprometedoras, envolvendo políticos da maior relevância do país na prática de atos ilícitos, por que absolutamente contrários aos princípios da dignidade, honestidade e moralidade.
É evidente que os envolvidos rechaçam as contundentes declarações do empreiteiro, mas se elas forem verdadeiras, não há a menor dúvida de que é o caso de enquadramento criminal dos beneficiários das propinas, notadamente aqueles que ganharam eleições fazendo uso de dinheiro sujo, como se isso não fosse repudiado pela legislação que disciplina o financiamento de campanha eleitoral.
Diante da gravidade dos fatos, é inconcebível como o país com as potencialidades econômicas como o Brasil seja absolutamente incapaz de controlar o fluxo da irrigação de dinheiro para as campanhas eleitorais, de forma ilícita, sendo que parte significativa dos recursos é oriunda de contratos fraudulentos firmados entre o Estado e empresários inescrupulosos e criminosos, que se submetem ao submundo da criminalidade para se manter trabalhando para os governos corruptos e igualmente criminosos, que desprezam o interesse público em nome da ganância pela dominação das classes política e social e permanência no poder, sempre conquistado por eleições financiadas com fundamento em práticas ilegítimas e condenáveis, como o dinheiro de propina.
Agora, o mais grave de tudo isso, dessa sujeira escancarada e imunda, é a tentativa de os envolvidos ainda negarem, de forma peremptória, o que é inegável, porque o principal corruptor confirma, por meio de documentos, a existência de roubalheira, mas os beneficiários não têm o menor pudor nem sentimento de dignidade para assumir suas falhas, suas fraquezas morais, enfim, a sua condição de corrupto nato e inveterado, porque os atos irregulares se repetiram ao longo de muitas campanhas, sempre com o emprego do desvio de recursos públicos por meio de contratos superfaturados e do caixa 2 de campanha.
          Os brasileiros anseiam por que os auspiciosos resultados das investigações vindas à tona com a maior clareza contribuam para as autoridades públicas, conscientizadas sobre a sua grandiosa responsabilidade cívica, trabalhem com maior zelo, interesse e celeridade, com vistas a possibilitar que corruptores e corruptos sejam urgentemente responsabilizados, de modo que as condenações cabíveis sejam aplicadas com a inflexibilidade da dimensão dos atos irregulares de origem, na expectativa de que seja evitada a incidência de fatos semelhantes e que as lições sirvam como modelo de limpeza das indignidades que tanto envergonham as pessoas honestas e probas, que foram traídas por aqueles que se envolveram em atos da mais impura reputação para o ser humano. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 5 de março de 2017

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