Em
depoimento à Justiça Eleitoral, o herdeiro e ex-presidente do grupo que leva
seu sobrenome, a Odebrecht, disse que 80% do total de R$ 150 milhões destinados
pela construtora para a campanha da chapa da ex-presidente petista, em 2014, foram
repassados por meio de caixa 2.
No
mesmo depoimento, ele afirmou que a petista tinha conhecimento da dimensão dos
valores da contribuição em apreço e dos pagamentos, também feitos com recursos
não registrados ao então marqueteiro do PT, que, na maior parte, foram repassados
em espécie, ou seja, ”Dilma sabia de todo
o esquema ilícito”, segundo o depoente.
O
empreiteiro, além de responder às perguntas, apresentou documentos durante seu depoimento
à Justiça Eleitoral, na ação movida pelo PSDB, que pede a cassação da aludida chapa.
Ele
confirmou que foi de R$ 150 milhões o valor acertado para a campanha
presidencial da chapa à reeleita e, deste total, R$ 50 milhões se referia à contrapartida
à votação da Medida Provisória do Refis, encaminhada ao Congresso em 2009 - e
que beneficiou a Braskem, empresa controlada pela Odebrecht e que atua na área
de química e petroquímica.
O
empreiteiro disse que as negociações eram feitas diretamente entre ele, o
marqueteiro do PT e o então ministro da Fazenda, tendo citado que, em um encontro
com a então presidente do país, no México, ele a teria alertado que os
pagamentos feitos ao marqueteiro do PT estavam "contaminados", em razão de terem origem em offshores utilizadas por empresários do
grupo para o pagamento de propinas.
O
empreiteiro afirmou que as primeiras conversas entre a Odebrecht e o governo do
PT ocorreram em 2008, quando foi procurado para fazer doações para as eleições
municipais daquele ano, notadamente para as que o marqueteiro do partido estava
trabalhando.
No
depoimento, o ex-presidente da Odebrecht disse que “Eu não era o dono do governo. Eu era o otário do governo. Eu era o bobo
da corte do governo”, segundo relatos colhidos pelo jornal O
Estado de S. Paulo.
O
empreiteiro demonstrou descontentamento por ser obrigado a entrar em projetos e
empreendimentos que não desejava e bancar repasses às campanhas eleitorais, sem
receber as contrapartidas que julgava necessárias.
A
ex-presidente petista disse que é mentirosa a versão de que ela teria pedido ao
ex-presidente da Odebrecht recurso para suas campanhas presidenciais em 2010 e
2014, por meio de caixa 2.
Segundo
ela, é um “insulto à sua honestidade”
a tentativa de “impor à ex-presidenta uma
conduta suspeita ou lesiva à democracia ou ao processo eleitoral.”.
A sua
assessoria afirmou que “É mentirosa a
informação de que Dilma Rousseff teria pedido recursos ao senhor Marcelo
Odebrecht ou a quaisquer empresários, ou mesmo autorizado pagamentos a
prestadores de serviços fora do país, ou por meio de caixa dois, durante as
campanhas presidenciais de 2010 e 2014”.
Em nota,
ela diz não ser verdade que teria designado o então ministro da Fazenda como
responsável pela arrecadação financeira de suas campanhas presidenciais e que, “Nas duas eleições, foram designados
tesoureiros, de acordo com a legislação. O próprio ex-ministro Guido Mantega
desmentiu tal informação.”.
A
ex-presidente concluiu dizendo: “Por fim,
cabe reiterar que todas as doações às campanhas de Dilma Rousseff foram feitas
de acordo com a legislação, tendo as duas prestações de contas sido aprovadas
pelo Tribunal Superior Eleitoral”.
Algum
fundo de verdade deve existir nas declarações do herdeiro da Odebrecht, porque
ele não seria totalmente maluco para inventar situações altamente
comprometedoras, envolvendo políticos da maior relevância do país na prática de
atos ilícitos, por que absolutamente contrários aos princípios da dignidade,
honestidade e moralidade.
É
evidente que os envolvidos rechaçam as contundentes declarações do empreiteiro,
mas se elas forem verdadeiras, não há a menor dúvida de que é o caso de
enquadramento criminal dos beneficiários das propinas, notadamente aqueles que
ganharam eleições fazendo uso de dinheiro sujo, como se isso não fosse
repudiado pela legislação que disciplina o financiamento de campanha eleitoral.
Diante
da gravidade dos fatos, é inconcebível como o país com as potencialidades
econômicas como o Brasil seja absolutamente incapaz de controlar o fluxo da
irrigação de dinheiro para as campanhas eleitorais, de forma ilícita, sendo que
parte significativa dos recursos é oriunda de contratos fraudulentos firmados
entre o Estado e empresários inescrupulosos e criminosos, que se submetem ao
submundo da criminalidade para se manter trabalhando para os governos corruptos
e igualmente criminosos, que desprezam o interesse público em nome da ganância pela
dominação das classes política e social e permanência no poder, sempre
conquistado por eleições financiadas com fundamento em práticas ilegítimas e
condenáveis, como o dinheiro de propina.
Agora,
o mais grave de tudo isso, dessa sujeira escancarada e imunda, é a tentativa de
os envolvidos ainda negarem, de forma peremptória, o que é inegável, porque o
principal corruptor confirma, por meio de documentos, a existência de
roubalheira, mas os beneficiários não têm o menor pudor nem sentimento de
dignidade para assumir suas falhas, suas fraquezas morais, enfim, a sua
condição de corrupto nato e inveterado, porque os atos irregulares se repetiram
ao longo de muitas campanhas, sempre com o emprego do desvio de recursos
públicos por meio de contratos superfaturados e do caixa 2 de campanha.
Os
brasileiros anseiam por que os auspiciosos resultados das investigações vindas
à tona com a maior clareza contribuam para as autoridades públicas,
conscientizadas sobre a sua grandiosa responsabilidade cívica, trabalhem com
maior zelo, interesse e celeridade, com vistas a possibilitar que corruptores e
corruptos sejam urgentemente responsabilizados, de modo que as condenações
cabíveis sejam aplicadas com a inflexibilidade da dimensão dos atos irregulares
de origem, na expectativa de que seja evitada a incidência de fatos semelhantes
e que as lições sirvam como modelo de limpeza das indignidades que tanto
envergonham as pessoas honestas e probas, que foram traídas por aqueles que se
envolveram em atos da mais impura reputação para o ser humano. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 5 de março de 2017
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