O
ex-presidente da República petista ironizou, em depoimento à Justiça, a
suspeita de que nomeava pessoas para cargos no governo ciente de que haveria
suposto compromisso delas em desviar recursos para partidos políticos.
O
político criticou a maneira como o Ministério Público Federal tem feito as
acusações contra políticos pela corrupção perpetrada na Petrobras, notadamente
com relação às investigações da Operação Lava-Jato, onde, em diversas
denúncias, os procuradores indicaram a existência de um núcleo na direção de
estatais que era nomeado por indicação de partidos, para garantir o desvio de
dinheiro para políticos e próprios partidos.
Ele
disse: “Vou tentar explicitar porque o
Ministério Público, em todas as acusações, ele acha criminoso os partidos
indicarem pessoas. Numa outra encarnação, nós vamos só indicar só gente do
Ministério Público”.
O
político respondia à questão sobre como funcionavam as indicações de partidos
para cargos-chave no governo, tendo explicado que, quando o candidato é eleito,
ele compõe a administração com pessoas indicadas pelos partidos.
Ele
explicou a situação dessa maneira: “Acontece
que quando você é eleito, é eleito com grupo de forças políticas que lhe apoiam
(sic). Essas forças políticas é (sic) que participam da montagem do governo.
Nesse instante, o PP indicou o Paulo Roberto, que era homem de carreira da
Petrobras, profissional que não pesava sobre ele acusação sobre nada. Era tido
como homem extremamente competente. Então, se ele cometeu algum desvio depois
da ascensão dele, é outro problema”.
Em
momento posterior ao depoimento, o ex-presidente negou que houvesse divisão dos
cargos entre os partidos políticos, tendo se expressado da seguinte forma: “Não é divisão de cargos-chave para partidos
políticos. Se for olhar no regime democrático no mundo inteiro, todos os países
do mundo, inclusive o Brasil, se você disputa eleição fazendo aliança política
com outros partidos, é normal e razoável que ao montar o governo, você indique
para os cargos importantes da República as pessoas que te ajudaram a ganhar a
eleição”.
O
que o político disse com muita clareza nada mais é do que a forma espúria de
coalizão republicana, que funciona, no país tupiniquim com o esdrúxulo ranço de
arraigado e escrachado fisiologismo da pior espécie, por delegar a partidos
políticos aliados gestão de ministérios e empresas estatais livres de quaisquer
responsabilidades quanto à eficiência e à efetividade da aplicação dos recursos
públicos, a exemplo do desastre ocorrido na Petrobras, que teve seu patrimônio
dilapidado por força justamente da ação criminosa das sebosas e criminosas organizações
aparelhadas pelo então governo, que, de forma inexplicável, não dignidade para
assumir, como é do seu dever, os graves erros.
No
Estado Democrático de Direito, o regime republicano como o do Brasil é organizado
pelo presidente da República, que tem o dever e a responsabilidade de nomear
sob delegação seus assessores ajudar a administrar o país, os quais são
obrigados à rigorosa observância dos princípios constitucionais, entre outros,
de idoneidade e conduta ilibada, tudo em atenção ao comando daquele que os
nomeou, o que vale dizer que os partidos que os indicou não têm qualquer
responsabilidade pelos erros ou transgressões praticadas por quem tenha
praticado atos delituosos.
No
caso, o político, ao afirmar que “Então,
se ele cometeu algum desvio depois da ascensão dele, é outro problema”, como
se a responsabilidade recaísse sobre o partido que o indicou, por força dos
acordos estabelecidos no período eleitoral, como foi dito pelo político, quando
quem responde pelo governo continua com o compromisso e a responsabilidade de
administrar o país em estrita e rigorosa observância aos princípios da
moralidade, legalidade, dignidade, entre outros, estando sujeito às penas da
lei, no caso de desvio de conduta, até mesmo no caso dos agentes indicados
pelos partidos políticos, que não têm qualquer ingerência quanto aos destinos
da República.
Ao
afirmar que “Numa outra encarnação, nós
vamos só indicar só gente do Ministério Público”, o político deixa muito
claro o seu modo sarcástico de ironizar a competência dos órgãos incumbidos das
investigações sobre os fatos suspeitos de irregulares, cujos resultados são por
ele rechaçados, exatamente por não se curvar à realidade dos acontecimentos,
que são depurados e apontados com provas robustas.
Com
relação à roubalheira verificada na Petrobras, as provas são robustas,
visíveis, palpáveis e irrefutáveis, diante da materialização confirmada na
execução de contratos firmados entre a estatal e empreiteiras, ficando muito
claro que as alianças feitas com partidos são extremamente prejudiciais ao
interesse nacional, quando eles não têm qualquer compromisso com os princípios
republicanos, diferentemente da segurança administrativa caso fossem nomeados
agentes do Ministério Público para cargos no governo, ante a certeza de que eles
seriam fiéis aos princípios da legalidade, moralidade, honestidade etc.
Enfim,
causa perplexidade que político de reconhecida relevância não tenha sensibilidade
para reconhecer e assumir suas falhas quanto à responsabilidade na condução dos
interesses nacionais, por considerar que as alianças partidárias possam
prevalecer sobre as causas maiores do país, inclusive podendo haver práticas de
irregularidades, ao se permitir que agentes indicados por elas, que tenham se
envolvido em atos delituosos, sejam tratados como sendo problemas secundários,
quando a responsabilidade de governar o país é exclusivamente do presidente da
República, que jamais pode delegá-la para ninguém nem eximir-se dela. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 17 de julho de 2017
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