“A verdade é aquilo que todo homem precisa
para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo homem deve
extraí-la sempre nova do seu próprio íntimo, caso contrário ele arruína-se.
Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida.”. Franz Kafka,
escritor
A
tentativa de gigantesca mobilização em defesa do líder-mor petista, em São
Paulo e outras capitais, não passou de verdadeiro fiasco, diante de diminuta
presença apenas dos militantes sindicalistas pagos de sempre – mesmo assim em
quantidade reduzida, talvez em face da escassez de dinheiro no partido -, que se
dignaram a cumprir fielmente a obrigação de gritar palavras de ordem contra o
juiz da Lava-Jato, o presidente da República, a imprensa e todos os “inimigos do povo”, como assim tem sido o
sentimento da liderança petista, com relação
àqueles que não comungam na sua cartilha populista.
A
verdade é que o povo deixou de atender à convocação de comparecimento ao
movimento em defesa do ex-presidente, que ainda continua tendo o mesmo carisma tão
somente perante seus antigos apaixonados simpatizantes, em especial os beneficiários
de bolsas assistenciais distribuídas no seu governo, como se elas fossem
custeadas com dinheiro do bolso dele ou de seu partido.
Causa
enorme surpresa que o “maior líder
popular da história do Brasil”, como o ex-presidente é assim venerado pelos
correligionários, não consiga aglutinar mais do que pequeno punhado de simpatizantes
na Avenida Paulista, além de poucos gatos-pingados em algumas cidades do país,
que teriam por finalidade demonstrar repúdio, pasmem, às medidas punitivas
aplicadas ao todo-poderoso, que insiste em se achar mais honesto que os
integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, embora os fatos acenem para situação
que ainda espera por explicações plausíveis por parte dele.
A
decepção parece evidente no seio do partido, em razão de ser exatamente no
momento crucial do grande líder, que se diz perseguido e injustiçado pelas “elites”, depois de ter sido condenado à
prisão, as massas que o apoiavam simplesmente agora o abandonam, deixando ir às
ruas para manifestar sua força e constranger o que o petista denomina de seus
algozes, com destaque para a aludida força-tarefa.
Não
há dúvida de que a pífia manifestação na Avenida Paulista traduz os verdadeiros
números das manobras de partido desacreditado e desmobilizado, que perdeu o
rumo da história e com ele embarcaram seus líderes igualmente deslustrados por
seu passado enxovalhado de mentiras, incompetência e vasta história de
corrupção, a exemplo dos escândalos do mensalão e do petrolão, que têm a marca
do partido nos seus rótulos.
A
vã tentativa de vincular o destino do ex-presidente à história da democracia no
país, como se ele fosse a encarnação da própria liberdade, somente consegue
tapear poucos incautos de sempre, os quais, demonstraram preferência pelo trabalho
ou simplesmente ficaram no descanso do seu lar, ao invés de ir prestar
solidariedade a seu líder de outrora, que agora se encontra enroscado até o
miolo com a Justiça.
Cada
vez mais fica bastante nítido que o ex-presidente somente se interessa, no
momento, a robustecer seu propósito de ocupar o trono presidencial, tão somente
para ficar livre dos processos na Justiça, da cadeia e das investigações na
Operação Lava-Jato, uma vez que ele se acha perseguido político e injustiçado
pelas elites, pela Justiça e imprensa, certamente diante da posição de destaque
por ele alcançado de ex-mandatário do país, como se isso o impedisse de ser
sequer investigado.
Nada
poderia ter sido pior para o político do que a condenação à prisão, pelos
crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por ter o condão de materializar
parcela da responsabilidade dele no escândalo de corrupção protagonizado por
seu governo e por seu partido, ficando assente que ele precisa provar a sua
inocência nesse imbróglio do tríplex, sob pena de ser obrigado a cumprir
cadeia, mesmo sendo o líder-mor de seu partido e de parcela expressiva de brasileiros.
No
caso do aludido imóvel, a fase de suspeita genérica contra o político já foi
ultrapassada, tendo passada para a confirmação de crimes qualificados, na forma
da sentença descrita nas 238 páginas da lavra do juiz responsável pela Operação
Lava-Jato, onde banalizaram expressões do tipo “corrupção”, “propina”, “fraude”, “lavagem de dinheiro” e “esquema
criminoso”, fatos esses que podem sinalizar que os tempos estão mudando
para pior, a mostrar para o povo - a quem o político se diz encarnar e defender
– que não vale mais a pena se esforçar em defesa de pessoa envolvida em
corrupção, pelo menos, até que ele prove a sua inocência nos Tribunais.
A
imagem da decadência política pode ser avaliada pela evidência dos fatos, como
o que resultou da determinação, pelo juiz federal, do bloqueio de R$ 600 mil e
de bens do político, para o pagamento da multa, quando a sua defesa alegou que
a decisão ameaçava a subsistência dele e de sua família.
Nessa
mesma linha, teve alguém que se atreveu a dizer que o juiz da Lava-Jato tinha a
intenção de “matar Lula de fome”, mas
outros tiveram a generosa iniciativa de fazer “vaquinha” para ajudá-lo a repor o dinheiro bloqueado, em forma de
solidariedade própria entre correligionários em estado de pobreza.
Acontece
que, para enorme surpresa geral, talvez à exceção para os autores das
expressões acima, apareceu o valor de R$ 9 milhões em aplicações em conta de
aposentadoria, em nome do político, que também foram bloqueados pelo
magistrado, ficando exposta a entranha daquele “homem pobre” que estava fadado
a morrer de fome, por falta de dinheiro, depois do bloqueio em apreço.
À
toda evidência, os valores bloqueados são prova bastante eloquente de que a imagem
franciscana que o político procura transmitir para a real e incauta classe pobre
não condiz, em absoluto, com a realidade dos fatos e, doravante, é inaceitável
que ele insista em cultivar o personagem encarnado de pobre, porque essa farsa
acaba de ser desmascarada de vez, perdendo sentido a estratégia de se fazer de
coitado, mal amado, perseguido e injustiçado, conquanto cada vez mais menos pessoas
passam a acreditar em quem se realiza por meio de fraudes sobre a realidade dos
fatos.
Urge
que os brasileiros tenham a firme dignidade de compreender que os políticos que
são capazes de falsear a realidade da própria imagem, evidentemente em
dissonância dos fatos verdadeiros, dando-se pérfida impressão de coitadinho
injustiçado, com o nítido propósito de levar vantagem na vida pública, não têm mínimas
condições ética e moral para representá-los, uma vez que a índole do povo cada
vez mais anseia por dignidade e honestidade nas atividades
político-administrativas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de julho de 2017
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