terça-feira, 25 de julho de 2017

Perseguição à dignidade

A verdade é aquilo que todo homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo homem deve extraí-la sempre nova do seu próprio íntimo, caso contrário ele arruína-se. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida.”. Franz Kafka, escritor

A tentativa de gigantesca mobilização em defesa do líder-mor petista, em São Paulo e outras capitais, não passou de verdadeiro fiasco, diante de diminuta presença apenas dos militantes sindicalistas pagos de sempre – mesmo assim em quantidade reduzida, talvez em face da escassez de dinheiro no partido -, que se dignaram a cumprir fielmente a obrigação de gritar palavras de ordem contra o juiz da Lava-Jato, o presidente da República, a imprensa e todos os “inimigos do povo”, como assim tem sido o sentimento  da liderança petista, com relação àqueles que não comungam na sua cartilha populista.
A verdade é que o povo deixou de atender à convocação de comparecimento ao movimento em defesa do ex-presidente, que ainda continua tendo o mesmo carisma tão somente perante seus antigos apaixonados simpatizantes, em especial os beneficiários de bolsas assistenciais distribuídas no seu governo, como se elas fossem custeadas com dinheiro do bolso dele ou de seu partido.
          Causa enorme surpresa que o “maior líder popular da história do Brasil”, como o ex-presidente é assim venerado pelos correligionários, não consiga aglutinar mais do que pequeno punhado de simpatizantes na Avenida Paulista, além de poucos gatos-pingados em algumas cidades do país, que teriam por finalidade demonstrar repúdio, pasmem, às medidas punitivas aplicadas ao todo-poderoso, que insiste em se achar mais honesto que os integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, embora os fatos acenem para situação que ainda espera por explicações plausíveis por parte dele.
A decepção parece evidente no seio do partido, em razão de ser exatamente no momento crucial do grande líder, que se diz perseguido e injustiçado pelas “elites”, depois de ter sido condenado à prisão, as massas que o apoiavam simplesmente agora o abandonam, deixando ir às ruas para manifestar sua força e constranger o que o petista denomina de seus algozes, com destaque para a aludida força-tarefa.
Não há dúvida de que a pífia manifestação na Avenida Paulista traduz os verdadeiros números das manobras de partido desacreditado e desmobilizado, que perdeu o rumo da história e com ele embarcaram seus líderes igualmente deslustrados por seu passado enxovalhado de mentiras, incompetência e vasta história de corrupção, a exemplo dos escândalos do mensalão e do petrolão, que têm a marca do partido nos seus rótulos.
A vã tentativa de vincular o destino do ex-presidente à história da democracia no país, como se ele fosse a encarnação da própria liberdade, somente consegue tapear poucos incautos de sempre, os quais, demonstraram preferência pelo trabalho ou simplesmente ficaram no descanso do seu lar, ao invés de ir prestar solidariedade a seu líder de outrora, que agora se encontra enroscado até o miolo com a Justiça.
Cada vez mais fica bastante nítido que o ex-presidente somente se interessa, no momento, a robustecer seu propósito de ocupar o trono presidencial, tão somente para ficar livre dos processos na Justiça, da cadeia e das investigações na Operação Lava-Jato, uma vez que ele se acha perseguido político e injustiçado pelas elites, pela Justiça e imprensa, certamente diante da posição de destaque por ele alcançado de ex-mandatário do país, como se isso o impedisse de ser sequer investigado.
Nada poderia ter sido pior para o político do que a condenação à prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por ter o condão de materializar parcela da responsabilidade dele no escândalo de corrupção protagonizado por seu governo e por seu partido, ficando assente que ele precisa provar a sua inocência nesse imbróglio do tríplex, sob pena de ser obrigado a cumprir cadeia, mesmo sendo o líder-mor de seu partido e de parcela expressiva de brasileiros.
No caso do aludido imóvel, a fase de suspeita genérica contra o político já foi ultrapassada, tendo passada para a confirmação de crimes qualificados, na forma da sentença descrita nas 238 páginas da lavra do juiz responsável pela Operação Lava-Jato, onde banalizaram expressões do tipo “corrupção”, “propina”, “fraude”, “lavagem de dinheiro” e “esquema criminoso”, fatos esses que podem sinalizar que os tempos estão mudando para pior, a mostrar para o povo - a quem o político se diz encarnar e defender – que não vale mais a pena se esforçar em defesa de pessoa envolvida em corrupção, pelo menos, até que ele prove a sua inocência nos Tribunais.
A imagem da decadência política pode ser avaliada pela evidência dos fatos, como o que resultou da determinação, pelo juiz federal, do bloqueio de R$ 600 mil e de bens do político, para o pagamento da multa, quando a sua defesa alegou que a decisão ameaçava a subsistência dele e de sua família.
Nessa mesma linha, teve alguém que se atreveu a dizer que o juiz da Lava-Jato tinha a intenção de “matar Lula de fome”, mas outros tiveram a generosa iniciativa de fazer “vaquinha” para ajudá-lo a repor o dinheiro bloqueado, em forma de solidariedade própria entre correligionários em estado de pobreza.
Acontece que, para enorme surpresa geral, talvez à exceção para os autores das expressões acima, apareceu o valor de R$ 9 milhões em aplicações em conta de aposentadoria, em nome do político, que também foram bloqueados pelo magistrado, ficando exposta a entranha daquele “homem pobre” que estava fadado a morrer de fome, por falta de dinheiro, depois do bloqueio em apreço.
À toda evidência, os valores bloqueados são prova bastante eloquente de que a imagem franciscana que o político procura transmitir para a real e incauta classe pobre não condiz, em absoluto, com a realidade dos fatos e, doravante, é inaceitável que ele insista em cultivar o personagem encarnado de pobre, porque essa farsa acaba de ser desmascarada de vez, perdendo sentido a estratégia de se fazer de coitado, mal amado, perseguido e injustiçado, conquanto cada vez mais menos pessoas passam a acreditar em quem se realiza por meio de fraudes sobre a realidade dos fatos.
Urge que os brasileiros tenham a firme dignidade de compreender que os políticos que são capazes de falsear a realidade da própria imagem, evidentemente em dissonância dos fatos verdadeiros, dando-se pérfida impressão de coitadinho injustiçado, com o nítido propósito de levar vantagem na vida pública, não têm mínimas condições ética e moral para representá-los, uma vez que a índole do povo cada vez mais anseia por dignidade e honestidade nas atividades político-administrativas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 25 de julho de 2017

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