Poucos dias depois de ter sido condenado pelo juiz
da Operação Lava-Jato, a nove anos e seis meses de prisão, pela prática de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro, o ex-presidente da República petista diz que não
vai permitir que difamem sua "história
com uma mentira deslavada dessas”.
Ele afirmou, em entrevista à rádio Capital, de São
Paulo, que "Não vou, depois de 70 e
poucos anos de vida, permitir que meia dúzia de jovens mal-intencionados venham
tentar jogar a minha imagem na lama", na qual voltou a criticar as
equipes da Operação Lava-Jato, quanto às atuações da Polícia Federal e do
Ministério Público Federal, além das do juiz federal que o condenou.
No momento, ele acaba de recorrer da sentença que o
condenou, a par de ainda ser réu em outro processo que está sob avaliação do
juiz na Justiça Federal no Paraná acerca de benefícios que o político possivelmente
teria recebido por meio de esquemas de corrupção entre a Petrobras e a
empreiteira Odebrecht.
Na avaliação do político, que se diz indignado com
a aludida condenação, "O juiz Moro
não pode continuar se comportando como um czar (termo usado por soberanos
durante o Império Russo). Ele faz o que
quer, quando quer, sem respeitar o direito democrático, sem respeitar a Constituição.
E não deixa a defesa falar”.
Ele alega absoluta injustiça na condenação em tela,
tendo afirmado que "Quero provar que
o Moro errou, que a equipe da Lava-Jato errou. Mentiram demais. A desgraça de quem conta a primeira mentira
é que é obrigado a contar milhares para justificar a primeira. Cabe a mim
insistir que eles erraram”.
O ex-presidente dá a entender que foi condenado em razão
do processo referente ao impeachment da sua sucessora no Palácio do Planalto,
quando explica o seguinte pensamento: "Eles
deram um golpe (para a saída da sua afilhada política). Se eu voltar, o golpe não fecha. É por isso que eu vou brigar”, pondo em
evidência seu desejo de disputar a Presidência da República, no próximo ano.
Ainda no seu primeiro pronunciamento após a
condenação, o petista havia confirmado, em tom de peculiar desabafo, que deseja
disputar o Palácio do Planalto, evidentemente se a segunda instância, no caso,
o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, não confirme a condenação prolatada
pelo juiz federal de Curitiba.
Especialistas avaliam que a decisão pertinente não será
proferida em menos de um ano, que é tempo mais que suficiente para o petista
queimar os miolos à espera da sua liberação política ou, na pior das hipóteses,
da sua prisão, que será incontinenti.
O petista entende que seus "adversários e a Lava-Jato" estão
julgando o seu mandato de oito anos, para tanto, ele disse: "Quero defender aquilo que foi feito no
Brasil. Temos condição de consertar o Brasil", tendo aproveitado para defender
a saída do peemedebista do governo e a antecipação da eleição presidencial, a
partir de emenda à Constituição Federal, com o seguinte argumento: "A única solução para o Brasil seria convocar
eleição direta".
Apontando a baixa aprovação do presidente do país,
o petista avalia que ele "não tem
mais condições de governar o Brasil. Esse
país não pode ficar meses esperando uma eleição. A única coisa que pode
acontecer aqui é antecipar eleições. Vamos transferir a responsabilidade para o
povo outra vez. Não tem milagre”.
Praticamente em campanha eleitoral antecipada, à
vista de seu discurso de pré-candidato do PT à Presidência da República, o
político diz que tem condições de disputar a eleição porque já teria provado
que sabe governar esse país, ressaltando que deixou o governo com 80% de
aprovação.
Em conclusão, o ex-presidente apela para que as
pessoas não percam a "paciência
nesse país: Temos que ter a esperança
de que esse país pode voltar a gerar emprego, a ter esperança”.
Há
forte indício de que o ex-presidente se mostra em extremo estão de desespero,
em termos pessoal e político, ao verificar que a condenação pela Lava-Jato tem
o condão de decepar, em definitivo, seu sonho de retornar ao trono mais
ambicionado por ele: o Palácio do Planalto, que se distancia de vez dele pelas
mãos da competência, sapiência e coragem de servidores públicos de escol, que
conseguiram vascular os meandros da sujeira da República e encontraram os
podres encravados nos contratos firmados entre a Petrobras e inescrupulosas empreiteiras,
que serviram de esteios para a descontrolada distribuição de propinas para
igualmente desavergonhados homens públicos, executivos e tantos quantos
deixaram a dignidade à margem.
No
seu discurso, o petista não demonstra o mínimo de humildade para se dignar a
entender que a sua condenação à prisão não foi objeto de imaginação por mera intenção
de prejudicá-lo politicamente, como assim ele entende, evidentemente por haver simples
rejeição à realidade dos fatos, que nasceram por inspiração de fortes suspeitas
que se consolidaram por meio de provas documentais, testemunhais e outras, como
e-mails, telefonemas, encontros, fotos etc., a mostrarem ligações
circunstanciais muito bem descritas na sentença, que foi considerada
consistente com os fatos perscrutados, concluindo por seu envolvimento nesse
imbróglio.
Agora
o que mais impressiona é a forma nada elegante de um ex-presidente de se dirigir
a um magistrado que o condenou com adjetivação nada usual, ao cognominá-lo
simplesmente de imperador, ao fazer alusão a um czar, dando a entender que o
juiz teria extrapolado a sua competência de mero magistrado, que não teria
competência para julgar um ex-presidente, que certamente se imagina que esteja
acima de tudo, inclusive das leis do país.
Também
falta humildade ao petista para reconhecer a capacidade administrativa das
pessoas, quando se arvora em se declarar aquele que é capaz de consertar os
graves erros existentes no país, esquecendo ele que o caos instalado na
administração provém da gestão do governo petista, com destaque para desastrada
passagem pela Presidência da sua pupila que o sucedeu no mandato, que deixou o
governo pelas portas do fundo do palácio presidencial, sob a acusação de
terríveis rombos nas contas públicas e estragos na economia que pariram 14
milhões de desemprego e ainda contribuíram para arrasar a produção nacional,
tudo retratado por horrorosa recessão econômica.
É
evidente que o petista tem absoluta consciência do que está falando, mesmo que
isso possa dissentir da normalidade civilizatória, mas é o que corresponde ao
exato sentimento de seus simpatizantes, seguidores e eleitores, que o têm como
verdadeiro salvador da pátria, com capacidade para atender às expectativas
sociais por eles ansiadas.
Não
à toa que tem sido usada a tática de sempre, de se manter o discurso pronto e
amoldado às circunstâncias, muito bem construído com argumentos em sintonia com
o desejo da vitimização, da injustiça, da perseguição e de outros destinados a
mostrar a maldade protagonizada contra pessoa inocente e honesta, mesmo que não
tenha conseguido apresentar, contra os fatos apurados, qualquer prova senão a
falácia da mera inocência, que não representa absolutamente nada perante a
Justiça.
O
ex-presidente precisa ter a humildade para calçar os chinelos dos pobres e
humildes que ele tanto diz que ama e defende, para se conscientizar de que a
prepotência, a arrogância e a onipotência, mesmo que ele se considere realmente
inocente das acusações, não vão conseguir demover os fatos constantes dos autos,
em princípio, inquinados de irregulares, senão houver, por parte dele,
disposição para o desarme e a iniciativa capaz de mostrar com provas e
contra-argumentos válidos juridicamente a sua real inculpabilidade
À
toda evidência, é consabido que a simples alegação de inocência não serve de
prova perante a Justiça, que examina e julga os fatos à luz dos elementos
capazes de materializar a culpa dos denunciados, que precisam respeitar o
processo legal da ampla defesa e do contraditório como caminho constitucional e
democraticamente cabível ao caso, com embargo das descabidas agressões absolutamente
desnecessárias, porque de cunho meramente desrespeitoso, incivilizado e
antagônico aos princípios humanitários. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 20 de julho de 2017
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