quinta-feira, 20 de julho de 2017

Mentira deslavada?

Poucos dias depois de ter sido condenado pelo juiz da Operação Lava-Jato, a nove anos e seis meses de prisão, pela prática de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o ex-presidente da República petista diz que não vai permitir que difamem sua "história com uma mentira deslavada dessas”.
Ele afirmou, em entrevista à rádio Capital, de São Paulo, que "Não vou, depois de 70 e poucos anos de vida, permitir que meia dúzia de jovens mal-intencionados venham tentar jogar a minha imagem na lama", na qual voltou a criticar as equipes da Operação Lava-Jato, quanto às atuações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, além das do juiz federal que o condenou.
No momento, ele acaba de recorrer da sentença que o condenou, a par de ainda ser réu em outro processo que está sob avaliação do juiz na Justiça Federal no Paraná acerca de benefícios que o político possivelmente teria recebido por meio de esquemas de corrupção entre a Petrobras e a empreiteira Odebrecht.
Na avaliação do político, que se diz indignado com a aludida condenação, "O juiz Moro não pode continuar se comportando como um czar (termo usado por soberanos durante o Império Russo). Ele faz o que quer, quando quer, sem respeitar o direito democrático, sem respeitar a Constituição. E não deixa a defesa falar”.
Ele alega absoluta injustiça na condenação em tela, tendo afirmado que "Quero provar que o Moro errou, que a equipe da Lava-Jato errou. Mentiram demais. A desgraça de quem conta a primeira mentira é que é obrigado a contar milhares para justificar a primeira. Cabe a mim insistir que eles erraram”.
O ex-presidente dá a entender que foi condenado em razão do processo referente ao impeachment da sua sucessora no Palácio do Planalto, quando explica o seguinte pensamento: "Eles deram um golpe (para a saída da sua afilhada política). Se eu voltar, o golpe não fecha. É por isso que eu vou brigar”, pondo em evidência seu desejo de disputar a Presidência da República, no próximo ano.
Ainda no seu primeiro pronunciamento após a condenação, o petista havia confirmado, em tom de peculiar desabafo, que deseja disputar o Palácio do Planalto, evidentemente se a segunda instância, no caso, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, não confirme a condenação prolatada pelo juiz federal de Curitiba.
Especialistas avaliam que a decisão pertinente não será proferida em menos de um ano, que é tempo mais que suficiente para o petista queimar os miolos à espera da sua liberação política ou, na pior das hipóteses, da sua prisão, que será incontinenti.
O petista entende que seus "adversários e a Lava-Jato" estão julgando o seu mandato de oito anos, para tanto, ele disse: "Quero defender aquilo que foi feito no Brasil. Temos condição de consertar o Brasil", tendo aproveitado para defender a saída do peemedebista do governo e a antecipação da eleição presidencial, a partir de emenda à Constituição Federal, com o seguinte argumento: "A única solução para o Brasil seria convocar eleição direta".
Apontando a baixa aprovação do presidente do país, o petista avalia que ele "não tem mais condições de governar o Brasil. Esse país não pode ficar meses esperando uma eleição. A única coisa que pode acontecer aqui é antecipar eleições. Vamos transferir a responsabilidade para o povo outra vez. Não tem milagre”.
Praticamente em campanha eleitoral antecipada, à vista de seu discurso de pré-candidato do PT à Presidência da República, o político diz que tem condições de disputar a eleição porque já teria provado que sabe governar esse país, ressaltando que deixou o governo com 80% de aprovação.
Em conclusão, o ex-presidente apela para que as pessoas não percam a "paciência nesse país: Temos que ter a esperança de que esse país pode voltar a gerar emprego, a ter esperança”.
Há forte indício de que o ex-presidente se mostra em extremo estão de desespero, em termos pessoal e político, ao verificar que a condenação pela Lava-Jato tem o condão de decepar, em definitivo, seu sonho de retornar ao trono mais ambicionado por ele: o Palácio do Planalto, que se distancia de vez dele pelas mãos da competência, sapiência e coragem de servidores públicos de escol, que conseguiram vascular os meandros da sujeira da República e encontraram os podres encravados nos contratos firmados entre a Petrobras e inescrupulosas empreiteiras, que serviram de esteios para a descontrolada distribuição de propinas para igualmente desavergonhados homens públicos, executivos e tantos quantos deixaram a dignidade à margem.   
No seu discurso, o petista não demonstra o mínimo de humildade para se dignar a entender que a sua condenação à prisão não foi objeto de imaginação por mera intenção de prejudicá-lo politicamente, como assim ele entende, evidentemente por haver simples rejeição à realidade dos fatos, que nasceram por inspiração de fortes suspeitas que se consolidaram por meio de provas documentais, testemunhais e outras, como e-mails, telefonemas, encontros, fotos etc., a mostrarem ligações circunstanciais muito bem descritas na sentença, que foi considerada consistente com os fatos perscrutados, concluindo por seu envolvimento nesse imbróglio.  
Agora o que mais impressiona é a forma nada elegante de um ex-presidente de se dirigir a um magistrado que o condenou com adjetivação nada usual, ao cognominá-lo simplesmente de imperador, ao fazer alusão a um czar, dando a entender que o juiz teria extrapolado a sua competência de mero magistrado, que não teria competência para julgar um ex-presidente, que certamente se imagina que esteja acima de tudo, inclusive das leis do país.
Também falta humildade ao petista para reconhecer a capacidade administrativa das pessoas, quando se arvora em se declarar aquele que é capaz de consertar os graves erros existentes no país, esquecendo ele que o caos instalado na administração provém da gestão do governo petista, com destaque para desastrada passagem pela Presidência da sua pupila que o sucedeu no mandato, que deixou o governo pelas portas do fundo do palácio presidencial, sob a acusação de terríveis rombos nas contas públicas e estragos na economia que pariram 14 milhões de desemprego e ainda contribuíram para arrasar a produção nacional, tudo retratado por horrorosa recessão econômica.
É evidente que o petista tem absoluta consciência do que está falando, mesmo que isso possa dissentir da normalidade civilizatória, mas é o que corresponde ao exato sentimento de seus simpatizantes, seguidores e eleitores, que o têm como verdadeiro salvador da pátria, com capacidade para atender às expectativas sociais por eles ansiadas.
Não à toa que tem sido usada a tática de sempre, de se manter o discurso pronto e amoldado às circunstâncias, muito bem construído com argumentos em sintonia com o desejo da vitimização, da injustiça, da perseguição e de outros destinados a mostrar a maldade protagonizada contra pessoa inocente e honesta, mesmo que não tenha conseguido apresentar, contra os fatos apurados, qualquer prova senão a falácia da mera inocência, que não representa absolutamente nada perante a Justiça.
O ex-presidente precisa ter a humildade para calçar os chinelos dos pobres e humildes que ele tanto diz que ama e defende, para se conscientizar de que a prepotência, a arrogância e a onipotência, mesmo que ele se considere realmente inocente das acusações, não vão conseguir demover os fatos constantes dos autos, em princípio, inquinados de irregulares, senão houver, por parte dele, disposição para o desarme e a iniciativa capaz de mostrar com provas e contra-argumentos válidos juridicamente a sua real inculpabilidade
À toda evidência, é consabido que a simples alegação de inocência não serve de prova perante a Justiça, que examina e julga os fatos à luz dos elementos capazes de materializar a culpa dos denunciados, que precisam respeitar o processo legal da ampla defesa e do contraditório como caminho constitucional e democraticamente cabível ao caso, com embargo das descabidas agressões absolutamente desnecessárias, porque de cunho meramente desrespeitoso, incivilizado e antagônico aos princípios humanitários. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 20 de julho de 2017

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