O
político mais famoso do país negou que tenha que dar explicações sobre os
R$ 9 milhões que foram bloqueados pelo juiz da Lava-Jato, que estavam em conta
no BrasilPrev, do Banco do Brasil.
No
alto da sua autoridade, ele disse que "Eu
não tenho que explicar nada. Tenho 76 palestras feitas no exterior. O dinheiro
entrou pelo Banco Central. Está depositado no Banco do Brasil. Não tem conta na
Suíça. A certeza da minha honestidade é que eu não depositei na Suíça".
O
ex-presidente afirmou a uma rádio de Criciúma, Santa Catarina, que o juiz
é quem "tem que explicar porque
bloqueou um dinheiro que está na previdência privada".
O
político insistiu em afirmar que a sentença que lhe condenou a nove anos e seis
meses de prisão, pelo magistrado de Curitiba, não foi baseada nos elementos
constantes dos autos, mas sim na "pressão
da imprensa".
Ele
entende que a condenação em tela tem a intenção de tirá-lo da corrida
presidencial do próximo ano e sugeriu que "Se eles querem tentar evitar que eu seja candidato em 2018, essa não é
a melhor forma. A melhor forma é tentar encontrar um candidato bom de outros
partidos para não deixar eu ganhar as eleições".
O
ex-presidente também citou as pesquisas de intenção de voto, que indicam seu
nome à frente de outros potenciais candidatos.
Na
ocasião, ele afirmou que vai começar a andar o Brasil, em caravana, no período
de três semanas, pelo Nordeste, cuja viagem tem início no próximo dia 17 de
agosto, partindo da Bahia e se estenderá até o Maranhão.
Ele
disse que "Nós vamos fazer campanha,
sendo candidato ou não. Nós vamos andar pelo Brasil. Eu vou começar uma viagem pela Bahia e terminar no Maranhão. Serão
visitados 10 estados. Depois eu quero
fazer no Sul e no Sudeste. Quero fazer no Centro-Oeste, no Norte do país".
O
político disse que a viagem será para se verificar "como eles estão estragando o país", esclarecendo que o roteiro
não inclui trajetos de avião. Ele afirmou que "Quero viajar de ônibus, de carro, de trem, de barco, que a gente possa
ter mais acesso ao povo".
Desta
feita, o político não se lançou candidato, embora tenho lançado ultimato ao seu
partido, quase como imposição, para lançá-lo candidato em 2018, ao se expressar
nestes termos: "O PT tem que querer
que eu seja candidato. Devem ter outras pessoas querendo ser candidatos. Afinal
de conta, o PT tem cinco governadores de estado, vários senadores, vários
deputados".
É
curioso como ele fala como se tivesse algo montado para trabalhar contra os
propósitos dele, principalmente quando ele saca expressão como essa: "Se eles querem tentar evitar que eu seja
candidato em 2018, ...”, naturalmente que isso é forma de estratégia construída
para continuar engabelando os incautos de sempre, que acreditam piamente
naquilo que ele diz e professa.
Trata-se
de santa ingenuidade tentar justificar inocência, honestidade, em se tratando
de benefício representado por imóvel, alegando a inexistência de depósito de
dinheiro na Suíça, uma vez que o grosso da propina da Petrobras jamais saiu do
país, o que vale dizer que é absolutamente inútil, por óbvio, afirmação nesse
sentido, como de todos desonestos necessariamente tivesse depósito na Suíça.
É
preciso que as pessoas entendam que o político foi julgado, no caso rumoroso do
tríplex, porque há denúncia de que ele teria sido beneficiado com o presente
desse imóvel, em troca de favores, por meio de contratos celebrados entre a
Petrobras e a empreiteira OAS, conforme as provas coligidas na forma da
legislação que rege a espécie, e que isso ficou descrito com minúcia e
robusteza na sentença do juiz que o condenou à prisão, pelos crimes de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro, cujos fatos precisam ser demolidos por
ele, perante o Tribunal de apelação, por meio de provas com consistência capaz
de rebater os elementos constantes dos autos.
Convém
que os homens públicos se conscientizem de que é pura infantilidade, porque
isso não entra na cabeça de pessoa sensata, que as ações, os processos referentes
às denúncias tratando sobre suspeitas da prática de possível irregularidade existem para prejudicar esse ou aquele político, porquanto a sua existência,
para o bom entendedor, com o mínimo espírito de bom senso, percebe claramente
que isso é excelente oportunidade para o cidadão verdadeiramente honesto provar
a sua inocência, a sua honestidade, cujo resultado tem exatamente o condão de
beneficiar o homem público acusado, por merecer da Justiça o certificado da sua
conduta limpa, imaculada e infensa a quaisquer suspeitas de deslize, na vida
pública.
Ao
contrário disso, os homens públicos que defendem a sua inocência por meio da condenação
dos processos e das investigações, que são formas transparentes capazes de se
aquilatar a verdade sobre os fatos e ainda fazendo acusações, quase sempre infundadas
e vazias, apenas na tentativa de atemorizar os agentes e as instituições
públicos, deixam transparecer seu sentimento de distanciamento do verdadeiro
sentido da verdade ínsita do princípio democrático, por se imaginar que somente
a palavra basta para se comprovar honestidade, quando a Justiça trabalha com provas
que possam contestar as acusações.
Por
seu turno, não fica bem para um homem público que foi presidente da República,
porque isso depõe e conspira contra a sua dignidade, em especial diante do
espírito de bom senso e da razoabilidade, ter o entendimento segundo o qual o
juiz da competência profissional que comanda a Operação Lava-Jato sujeitar-se-ia
a ser tão irresponsável e leviano a ponto de julgar caso de alguém sob o
impacto da “pressão da impressa”, quando
se sabe que esta tem procurado fazer seu trabalho de apenas bem informar os
fatos à sociedade, no estrito dever previsto nos seus estatutos, sem qualquer
propósito de prejudicar ou beneficiar quaisquer das partes envolvidas, porque
isso não contribui para o aperfeiçoamento e o fortalecimento dos princípios
democráticos, como é do seu dever legal e institucional.
Por
out6ro lado, os políticos precisam saber que as andanças em forma de campanha
antecipada, como o próprio político assim qualificou, in verbis: "Nós vamos
fazer campanha, ...”, contrariam a legislação de regência dos pleitos
eleitorais, que estabelecem prazos e condições para que essa forma de
procedimento seja considerada legal, sob pena de os responsáveis por tais
eventos possam vir a ser enquadrados em dispositivos da legislação eleitoral,
por violação da norma aplicável ao caso.
Nos
países sérios e civilizados, os homens públicos têm não somente a obrigação,
mas também o prazer de explicar para a sociedade, como normal forma de
prestação de contas, sobre seus atos tanto na vida pública como na particular,
porque isso ainda é a melhor maneira de transparência que contribui para o
aperfeiçoamento dos princípios democrático e republicano.
Os
homens públicos precisam também entender que os atos dos juízes podem e devem
ser contraditados, mas na via própria, inclusive por meio de responsabilização
funcional, quando eles extrapolarem o limite da sua competência legal e
prejudicarem o direito de alguém.
Certamente
que os brasileiros ficariam muito mais interessados nas atividades políticas se
os homens públicos tivessem o mínimo de sensibilidade para entender que
explicação e justificativa espontaneamente sobre quaisquer suspeitas de
possível deslize fazem parte da moderna democracia, que se valoriza justamente
pela efetiva participação popular. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 31 de julho de 2017
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