Depois
que um ministro do Supremo Tribunal Federal houve por bem revogar a decisão que
o afastara do mandato, o senador tucano disse que recebeu com "absoluta serenidade" a decisão em
apreço.
O
senador mineiro afirmou que "Sempre
acreditei na Justiça do meu país e seguirei no exercício do mandato que me foi
conferido por mais de 7 milhões de mineiros, com a seriedade e a determinação
que jamais me faltaram em 32 anos de vida pública".
O
senador foi gravado por um empresário do grupo JBS, pedindo R$ 2 milhões e
falando sobre iniciativas no Senado para frear as investigações da Operação Lava-Jato.
A
citada gravação serviu de base para a decretação pelo Supremo do afastamento de
seu mandato e o pedido de sua prisão pela Procuradoria Geral da República, mas ele
não foi acatado pela Justiça.
O
ministro do Supremo, além de revogar a decisão sobre o citado afastamento,
tornou sem efeitos as medidas cautelares impostas anteriormente, sob a justificativa
de que o Judiciário não poderia interferir no Legislativo.
A
decisão em apreço foi tomada no último dia de atividade da Justiça antes do
recesso do Judiciário, cujo fato serviu de argumento para a liberação geral das
restrições impostas ao senador, que passará a ter o restabelecimento de seus
vencimentos e demais benefícios inerentes ao cargo que ocupa.
A
decisão em comento, além de surpreendente, causou repercussão bastante negativa
no seio da opinião pública, principalmente porque não surgiu nenhum fato novo
com relação ao objeto causador do afastamento dele do mandato de senador.
Tal
decisão também põe por terra o pronunciamento empolgado da presidente do
Supremo, que havia dito, momentos antes do decisum,
que, in verbis: ‘Não seremos ausentes aos que de nós esperam atuação rigorosa para
manter sua esperança de justiça”, no dia em que a Corte devolveu, sem mais
nem menos, o mandato do senador tucano, contradizendo e desmoralizando o que
poderia ter sido empolgante pronunciamento.
A
presidente havia sido ainda mais lúcida quanto à atuação do Supremo, ao afirmar
que “o clamor por justiça que hoje se
ouve em todos os cantos do país não será ignorado em qualquer decisão”
daquele órgão.
No
seu pronunciamento, a ministra também afirmou que os ministros tiveram sempre a
atribuição “de assegurar a igual observância
da lei por todos. Somente então se terá equilíbrio nas relações sociais,
segundo a ideia de justiça constitucionalmente definida”.
Os
brasileiros se esforçam para acreditar no trabalho do Supremo, inclusive nas
palavras da sua presidente, como visto acima, mas algumas decisões de
determinados ministros e principalmente a morosidade nos seus julgamentos
conspiram contra o desejo dela de se assegurar rigorosa atuação da Justiça.
Os
referidos fatos, por certo, contribuem para o descrédito e a desesperança
quanto à missão institucional daquela Corte, diante da perplexidade de muitas
decisões contrárias ao interesse público, a exemplo da soltura de criminosos
julgados pela Lava-Jato, como o ex-ministro da Casa Civil de governo petista, e
desse caso do senador tucano, como se os crimes por eles cometidos não tivessem
a menor gravidade à normalidade cívica nem afrontassem os princípios
republicano e democrático.
A
presidente do Supremo precisa saber que suas belas palavras devem ser ouvidas
pelos ministros e tocadas nas consciências deles, para que elas possam ser
efetivamente transformadas no desiderato por ela preconizado, a de que o clamor
por justiça seja realmente ouvido e interpretado exatamente com a ressonância
do anseio dos brasileiros de moralização geral, ampla e irrestrita, sob pena de
se permitir que ministros do STF sejam guardiões e defensores dos abomináveis princípios da
impunidade e da corrupção, em dissonância com a sua relevante missão
institucional de zelar pela consolidação do ordenamento jurídico insculpido na
Carta Magna.
Chega
a ser risível o fato de o senador se referir aos sete milhões de votos
recebidos de seus conterrâneos, como se isso tivesse acontecido depois desse
lamentável acontecimento, onde ele se envolveu em atos de corrupção, o que vale
dizer que ele simplesmente imagina ainda contar com o respaldo desses
eleitores, que foram traídos infantilmente pela atitude decepcionante e
inadmissível do político mineiro, ante a nítida quebra do decoro parlamentar e
o calote eleitoral contra aqueles que acreditaram na sua honestidade.
O senador tucano pode até acreditar na Justiça do
seu país, como ele declarou, que certamente não é essa a Justiça dos
brasileiros que defendem a moralização das atividades públicas.
O senador deveria também ter a serenidade de
compreender que a sua atitude de pegar dinheiro de propina não condiz nem um
pouco com os princípios do decoro e muito menos da dignidade, porque o
recebimento, de forma irregular de dinheiro o afasta definitivamente da
decência e da compostura intrínseca da vida pública.
Mesmo tendo sido autorizado à reintegração ao
exercício do mandato parlamentar, a presença do senador mineiro no Senado da República ficará marcada, de forma indelével, como o famoso corrupto que se
prostituiu por dois milhões de reais, passando a ter o descrédito da opinião
pública nacional, por se enquadrar como pessoa venal e susceptível à propina,
em troca de favores, conforme demonstra o depoimento de um dos danos do grupo JBS. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 4 de julho de 2017
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