sexta-feira, 28 de julho de 2017

Custeio de campanhas pelos candidatos

Em entrevista a uma rádio, o maior líder petista afirmou que o setor empresarial, com aval do Ministério Público, transformou doações de campanha em propina para “tentar culpar” políticos pela corrupção, ou seja, in verbis:Os empresários sempre deram dinheiro para caramba. Eu não conheço um político em Manaus ou em São Paulo que vendeu casa para ser candidato. Todos eles pedem dinheiro para empresário, a vida inteira, desde que foi proclamada a República”.
Na ocasião, o ex-presidente ainda defendeu a criação do polêmico fundo partidário, sob a alegação de que “O Brasil não vai ter jeito”, enquanto os partidos forem dependentes de empresários e os políticos não se unirem para modificar a legislação eleitoral.
O político disse que “A diferença é que agora transformaram as doações em propina, então ficou tudo criminoso. Se os políticos não tiverem coragem de mudar a legislação eleitoral, de criar um fundo de financiamento de campanha para que não fiquem mais dependentes do empresário, o Brasil não vai ter jeito”.
Em que pese ter sido condenado pelo juiz da Lava-Jato a nove anos e seis meses de prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, com relação ao caso do triplex no Guarujá (SP), o político não cai na real e segue, como se nada tivesse acontecido de muito grave, afirmando que será candidato à Presidência da República, no próximo ano, certamente na esperança de que a apelação à segunda instância irá inocentá-lo e os bestas dos brasileiros vão permitir que candidato envolvido com a Justiça, respondendo a processos como réu, já tendo sido condenado à prisão, possa representá-los
À toda evidência, é bastante sabido que o exercício de cargos públicos exige o preenchimento, a comprovação, de ausência de mácula na prática de atos na vida pública, em sintonia com os conceitos de idoneidade e conduta ilibada e isso o político precisa demonstrar, como prestação de contas à sociedade sobre seus atos como homem público.
Não passa de extrema hipocrisia a tentativa de imputar aos empresários e ao Ministério Público a culpa pela generalização da corrupção enraizada no seio da classe política, completamente contaminada e adoecida pelo vírus da corrupção sistêmica, que contava como alternativa o lamentável costume de se prostituir com as gordas propinas, que não se destinavam somente ao financiamento de campanhas, como é o caso de muitos políticos que estão ricos, graças às suntuosas e injustificáveis doações.
Não é justo se atribuir somente aos empresários a culpa pela corrupção sistêmica e endêmica que ocorria na prática espúria entre os políticos e empreiteiros, uma vez que somente havia financiamento de campanha em razão do vergonhoso tráfico de influência prevalecente em especial no seio dos desavergonhados políticos, que inventavam contratos e serviços falsos para embolsar fortunas de recursos, exclusivamente ancorados na garantia da facilitação no âmbito da administração pública, com destaque para a certeza da contratação pela administração pública das empresas que faziam generosas doações.
Não fossem o exagero e a exorbitância dos gastos com campanhas caríssimas, sempre patrocinadas, no passado, por empresas, onde se verificavam indiscutíveis desperdícios de dinheiro patrocinando campanhas completamente estranhas à realidade brasileira, não haveria necessidade senão e se muito do dinheiro público já existente no fundo partidário, que seria suficiente, caso houvesse consciência sobre a necessidade de se economizar recursos por meio de campanhas modestas, em harmonia com a simplicidade dos brasileiros.
É evidente que existem maneiras racionais de serem feitas campanhas sem precisar gastar fortunas, sem onerar os contribuintes e ainda com eficiência nos resultados, justamente por ser necessário se mostrar ao povo competência em termos da real finalidade para se representá-lo, com o propósito de estrita consonância com o atendimento do interesse público, que não exige senão muita boa vontade de servir ao público, com embargo da defesa de interesse pessoal.
Convém para tanto que haja regulamentação estabelecendo parâmetros capazes de se impor condições para a viabilização da moralização nas campanhas, com destaque, a começar, pela reforma política, com a implantação, entre outros, do voto distrital, sem nada de lista; da redução da quantidade de parlamentares (vereadores, deputados e senadores); da diminuição do número de partidos; da fidelidade partidária; do fim de reeleições; de vencimentos básicos, nos moldes do que existe para servidor público; da extinção das vantagens, mordomias e dos privilégios indecorosos, inadmissíveis e injustificáveis; da redução drástica de servidores assessores; do limite de gasto razoável para a campanha; da proibição do poder econômico na campanha; e da reafirmação de que o exercício de cargos públicos se destina exclusivamente ao atendimento do interesse público, sob pena de perda do mandato.
É tremendamente ilógico o grande pensamento do político de que se todos receberam propina, evidentemente por culpa dos empresários, não pode haver caracterização de ilegalidade, como se o caixa 2 não constituísse crime perante a legislação eleitoral.
Chega a ser risível que homem público se converta no ridículo de afirmar que inventaram a propina para prejudicar os políticos honestíssimos deste país, quando eles, na forma das delações vindas à tona deixam claro que eram os tesoureiros e os próprios políticos que acossavam e ameaçavam os empresários exigindo propina para as suas “campanhas”.
A propósito, um famoso industrial de São Paulo teve a felicidade de bem definir e com extrema precisão o comportamento ideológico de importante partido, ao afirmar de forma categórica que, in verbis: "A política do PT é a arte de pedir votos aos pobres, dinheiro aos ricos e mentir para ambos. Na realidade não sabe fazer mais nada na vida.".
Não há dúvida de que é importante e imperioso que o Congresso Nacional regulamente o sistema de financiamento de campanha eleitoral, de modo a se pôr freios às abusivas e dispendiosas propagandas, em que o poder econômico normalmente tem influência nos resultados das urnas, o que significa afronta ao princípio constitucional da isonomia, que precisa ser observado por todos os candidatos.
Urge que, em estrito atendimento ao interesse público, sejam aprovadas normas sobre o financiamento de campanhas eleitorais, estabelecendo que elas devem ser custeadas exclusivamente pelos próprios candidatos, sob rigorosa observância de orçamento enxuto capaz apenas do custeio dos gastos necessários de propaganda modesta, previamente aprovado pela Justiça Eleitoral, com abrangência apenas à divulgação de seus programas de trabalho, ficando definido com clareza que o uso do poder econômico é fator preponderante para a cassação sumária dos respectivos registros e a eliminação deles dos próximos pleitos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 28 de julho de 2017

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