terça-feira, 4 de julho de 2017

Falta de equilíbrio

Enquanto explanava sobre sua motivação para concorrer à prefeitura de São Paulo, no último pleito, na Expertxp 2017, realizada na capital paulista - evento que reuniu empresários e investidores do mercado financeiro -, o prefeito paulistano comparou a ex-presidente da República petista, de forma inusual e indevida, a um animal.
Na empolgação da sua palestra, o tucano reverberou que "Quem ama o Brasil, não pode achar que depois de 13 anos de PT, de Lula e Dilma, o Brasil pode voltar para essa gente. Não dá. Eu lembrava do Lula e da Dilma falando aquelas bobagens. Aquelas asneiras da Dilma. Uma anta”.
O tucano também aproveitou a ocasião e espinafrou o ex-presidente da República petista, ao afirmar que “O Lula com aquela arrogância, com aquele discurso de ‘nunca antes na história desse país’. Aí o Lula tem a cara de pau de voltar no Congresso do PT e dizer que é preciso modernizar o país. Oh, Lula, faça-me o favor. Modernizar o quê? Só se for modernizar a tornozeleira eletrônica”.
Agora, causa espécie que, ao se expressar em termos inapropriados para o momento, à luz de informações do site Bahia Notícias, o tucano foi bastante aplaudido pelo público, que contou com a participação do coordenador do Ministério Público Federal junto à Operação Lava-Jato.
Ao que tudo indica, quando o referido prefeito era apenas empresário na política demonstrava ter equilíbrio e costumava respeitar seu semelhante, mas agora que se apresenta como autêntico político vem mostrando o seu verdadeiro sentimento de político, que ataca e agride seus pares, mesmo que seja em forma de revide, contrariando os princípios da dignidade e da respeitabilidade, fato que não condiz com a índole das pessoas inteligentes e competentes.
Por sua vez, caso se trate de revide por agressão sofrida por ele, o caminho adequado para a reparação do dano deve ser seguido pela via da Justiça, na forma de reparação de danos morais ou algo que o valha, se for o caso, mas jamais por meio de palavrórios depreciativos que somente evidenciam o nível rasteiro como procura se defender, se é que se trate disso.
Ao que se parece, o poder pode ter contaminado o ego do agora homem público, que sempre se acha imaculado e inatingível, mesmo que por palavras, esquecendo-se de que a grandeza da autoridade é demonstrada pelo valor de suas realizações, de seu trabalho em prol da população, o que vale dizer que o tucano precisa focar, com o maior empenho, na sua gestão municipal, evitando atritos com seus adversários, para que seu trabalho seja reconhecido pelo povo, para quem tem o dever de prestar contas sobre os resultados da arrecadação de tributos e das realizações à frente da prefeitura.
Aliás, não é de bom tom que políticos fiquem agredindo graciosamente os homens públicos, porque isso demonstra algo simplesmente inconfessável e interesseiro, o que não condiz com a prática da boa e salutar política das pessoas inteligentes, competentes e responsáveis.
Até parece que o prefeito de São Paulo tem muitas qualidades, mas elas não podem ser misturadas com as ruindades próprias do submundo da politicagem, onde os homens públicos ficam digladiando entre si, sem a mínima necessidade ou motivação aparente, apenas por vaidade ou mesmo interesse em aparecer em eventos públicos.
Os políticos por ele atacados, mesmo que sejam o que ele os qualificou, são pessoas públicas que, por suas relevâncias no cenário político, podem se desgastarem pelo o que eles tenham feito ou deixado de fazer, não havendo qualquer motivo para ser agredidos com palavras grosseiras, porque isso só demonstra falta de sensibilidades política e humana, principalmente quando o evento se destina a determinada motivação que não de mostrar insatisfação pessoal, que parece ter sido o caso.
O momento em que as nações sérias, civilizadas e desenvolvidas política e democraticamente mostram nível avançado e apurado das práticas políticas, onde se procuram valorizar as pessoas de bem e dignas que estão na vida púbica e podem ocupar cargos públicos relevantes, não parece razoável que político tupiniquim fique a se sujar na podridão da politicagem rasteira, agredindo e atacando seus pares, sem a mínima motivação.
Procurar espaço na mídia não parece ser aconselhável como o melhor caminho para ficar em evidência, mesmo que isso facilite a candidatura a importante cargo da República, quando a opção pelas discrição, sobriedade, educação, ponderação é a linha mestra que sinaliza para atitudes de equilíbrio e prudência, principalmente na vida pública, como forma de mostrar dignidade e respeito ao seu semelhante.
          A verdade é que, quem se julga o melhor de todos, corre-se o risco de ser facilmente contestado e desmoralizado, visto que ninguém é superior ou melhor que ninguém, não importando as suas qualidades ou seus atributos, mesmo que eles sejam degenerativos, porque eles pertencem exclusivamente aos seus donos, que podem ou não os assumir, a depender do seu caráter ou grau de evolução pessoal.
Diante da mediocridade reinante no seio da classe política, convém que o prefeito de São Paulo procure se pautar na cartilha da ponderação, do equilíbrio, da prudência e sobretudo da valorização e exaltação dos princípios da dignidade e da respeitabilidade ínsitos das atividades públicas, como forma de atrair para si tratamento digno da autoridade que representa no contexto nacional, que tem sido lembrado como potencial candidato à Presidência da República, opção que poderá ser logo desprezada segundo suas atitudes nada condizentes com a relevância da liturgia desse cargo. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 4 de julho de 2017

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